"Reflexões sobre EDUCAÇÃO"
Palestra
Zélia de Toledo
Piza
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Se estamos tão próximos
de uma nova era, descrita como auspiciosa, então por que aquilo que
presenciamos indica exatamente uma situação contrária. Desentendimento
individual, do homem consigo mesmo, desentendimentos grupais, guerras,
tremendo jogo de interesses, onde se buscam fins, não importa os meios?
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A Teosofia explica isso
através da Lei dos Ciclos. Existe uma Lei Universal, presente em todos
os detalhes do mundo material, a partir da vibração que caracteriza a
estrutura do átomo. Este fenômeno se repete em escala de intensidade
variada, nos vários processos da vida - na vida do homem, nascimento,
ascensão e declínio, na vida da flor, na vida das civilizações etc.
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Nos Puranas, coleção de
escritos simbólicos e alegóricos, supostamente escritos por Vyasa, o
autor do Mahabharata, encontramos a seguinte citação:
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Após chegar ao clímax da
descida, começa havendo uma inversão, começa havendo nova ascensão, tal
como está claro na filosofia da Lao Tsé, que afirma existirem dois pólos
no universo, de natureza oposta e complementar que se interagem - o
princípio Yang e o Yin - simbolizados no símbolo do Taichi. Cada ciclo
contém dentro de si o germe do pólo oposto. Então, dentro de um ciclo
positivo, vai crescendo o negativo. Quando alcança uma determinada
expansão, inverte a posição do pólo e o ciclo passa a ser negativo com o
germe do positivo que tenderá a ampliar-se. É exatamente este o momento
que estamos vivendo agora, momento que poderíamos caracterizar como
caótico, dentro do qual começam surgindo os prenúncios de uma nova era.
Esta nova era é conhecida na filosofia Oriental como Idade de Ouro e,
pela astrologia, vem sendo reconhecida como a Era de Aquárius.
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Essa passagem do ápice de
um declínio para um período ascensional, é um momento difícil para o ser
humano, porque os impulsos freadores da evolução, gerados pelo campo de
forças formado por uma civilização são tremendos. A inversão desses
impulsos é dificultosa.
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Também nos Puranas,
encontramos a afirmativa de que a vida universal está sujeita a quatro
ciclos que eles denominam de Idades:
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Satya Yuga - Idade de
Ouro
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Tetra Yuga - declínio
paulatino
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Dvapara Yuga -
continuação do declínio
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Kali Yuga - Idade do
Ferro ou Idade Negra
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Estaríamos vivendo agora
exatamente este último ciclo, caracterizado por um declínio em todas as
áreas da vida humana. Como estes ciclos se repetem e se interpenetram,
na Kali Yuga já começa germinando a Idade de Ouro, razão pela qual, em
meio a um verdadeiro caos, começamos pressentindo a grande efervescência
de novos ideais e novas metas. Observa-se isso nitidamente na educação.
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Fazendo um retrospecto da história da cultura, vemos que ela alcançou um
momento de culminância ascensional com os Gregos, entrando depois em
declínio pela Idade Média para começar a ressurgir na Renascença.
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Eu diria que este
ressurgimento, iniciado pelos 1.500, ainda não conseguiu alcançar um
apogeu pleno em virtude de várias razões de natureza política, religiosa
e, sobretudo, pela sua unilateralidade, tendência que vem marcando a
evolução do homem através dos tempos. O desenvolvimento no campo mental
tem sido extraordinariamente fabuloso, mas o homem não está bem consigo
mesmo e não consegue relacionar-se bem, seja em pequenos grupos, seja em
comunidades maiores, seja como nação ou entre nações, o que significa
que há lacunas, há falhas na organização de sua estrutura como um todo.
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A grande possibilidade
para um ressurgimento, a grande esperança da nova era está depositada na
educação do ser humano, não somente da criança, mas também e sobretudo
do adulto. A educação do adulto seria um vastíssimo tema para uma
palestra específica.
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Considerando a criança
que é o enfoque desta palestra, vemos que ela está repleta de
potencialidades e ávida de despertamento. A educação deverá abranger
todas as áreas da personalidade humana. Precisa ser uma educação
integral, ou seja, holística, que atinja todo o complexo da pessoa
humana. Enquanto isto não se der, continuaremos presenciando uma
convivência perigosamente desarmônica entre os seres humanos.
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Naturalmente, uma
educação, por mais ideal que seja, para funcionar, precisaria estar
inserida dentro de um contexto favorável, envolvendo particularmente o
social e econômico. Teríamos que pensar em uma reformulação também em
outras áreas da vida nacional.
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A engrenagem da vida
social - necessidades de sobrevivência, a vida do lar, diferenças
sociais, injustiças -, a realidade do aspecto econômico - capitalismo,
consumismo do ter coisas -, o modo de ser da área cultural - que está
sem interiorização, com literaturas mal orientadas - são itens
desfavoráveis a um progresso em termos de humanização do ser humano.
Todo esse contexto dentro do qual estamos inseridos, vem tornando o
homem cada vez mais cerceado no desenvolvimento e na exteriorização de
sua plenitude interna.
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Mas vamos nos ater apenas
ao setor da educação, ficando em aberto, para abordagens em outras
ocasiões, os outros setores.
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Qual seria essa educação
ideal?
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Do ponto de vista
pedagógico, e com fundamentação para educação na escola de 1º grau,
veremos na seqüência: