No seu processo evolutivo, o homem deverá, cada vez mais, desenvolver um mental aberto às investigações, com três qualidades fundamentais:
1 - Disposição para estudar as várias religiões, várias mitologias, as várias filosofias que existiram desde os primórdios do pensamento humano, bem como os elementos da ciência que estão surgindo nestes últimos séculos, mesmo porque, os últimos capítulos da ciência começam se acoplando às proposições ocultistas. Einstein, por exemplo, afirma que o todo está contido nas partes e as partes no todo. As mais recentes descobertas a respeito das partículas subatômicas declaram que nada pode ser estudado isoladamente. Existe uma correlação entre os eventos da Natureza. Com esta atitude, o homem, automaticamente, deixa de se apegar a um dogma, a uma faceta da verdade e jamais se tornará fanático. Pelo contrário, manterá o mental sempre aberto para receber novas informações, novos conceitos, que deverão ser analisados e computados.
2. Capacidade para comparar todas as afirmativas dessas religiões, filosofias e mitologias, buscando nelas o que existe de comum, de essencial. Acaba percebendo que há uma raiz única e que as religiões e as filosofias se apresentam com vestimentas diferentes pela influência da época e pela interpretação dos homens. Daí o respeito que se deve ter para com todas as formas de pensar existentes. Ao mesmo tempo, deveremos procurar comparar as Leis Universais, as que regem o Universo e que serão apresentadas no capítulo III, com as que vão sendo descobertas pela ciência e relacioná-las.
3. Preocupação constante de ir elaborando sínteses coerentes que nunca serão definitivas porque nosso conhecimento ainda é parcial. Todos os dados do conhecimento humano são apenas facetas da verdade e fazem parte de um conjunto que vai se aproximando, cada vez mais, da Unidade Primordial que deu origem a todas as coisas existentes.
Com estas três qualidades, o indivíduo adquire a qualidade fundamental - a de ser livre pensador.
O grande suporte para o desenvolvimento desta forma de interpretar o mundo e o Universo, está na tradição mais primitiva existente sobre a face da terra, conhecida como Sabedoria Iniciática das Idades. Sabedoria que não diz respeito a um acúmulo de conhecimento acadêmico, cultural, mas à busca da origem de todas as coisas, à busca daquele Princípio Primordial.
Os movimentos filosóficos, religiosos ou espiritualistas, não surgem repentinamente do nada mas, de uma forma ou de outra, apoiam-se nessa tradição milenar.
Esses ensinamentos da Sabedoria Iniciática das Idades estão registrados nos livros da filosofia Oriental - do Tibete, Índia, China, Egito, Ásia Menor e trazem todo um contexto de verdades sobre a origem do Universo, a origem do homem etc.
Uma das comprovações da imensa sabedoria contida nesses conhecimentos antigos são as pirâmides do Egito, particularmente a de Quéops. Os sábios que têm estudado os registros dessa pirâmide afirmam que o conhecimento matemático e astrológico dos antigos era superior ao nosso e que, contando com todo o equipamento eletrônico de hoje e tantas descobertas que vêm se sucedendo através dos milênios, o cientista tem dificuldade para chegar aos resultados que estão tranqüilamente registrados lá. Além disso, entre outras curiosidades, a pirâmide contém certos canais que, conforme o movimento da terra, apontam determinadas estrelas e isso tem intrigado os astrólogos.
Ao passo que o tempo foi passando, o homem foi se distanciando dessas verdades primordiais. Para reavivar esses ensinamentos da Sabedoria Iniciática das Idades, de tempos em tempos, surgem Seres, que são expressões da própria Divindade e que trazem chaves para que o homem possa compreender a linguagem desses ensinamentos antigos, uma vez que são escritos de forma simbólica. Com essa finalidade temos, por exemplo, entre outros, Krishna, Lao-Tsé, Budha e, mais recentemente, Jesus, o Cristo. Todos apontam para um trabalho dentro de nós através da transformação interior e um trabalho dentro do mundo para organização das civilizações.
Platão (428-348) procurou fazer uma síntese de todas essas revelações e deu a ela o nome de Teosofia, que significa Theos - Deus e Sophia - sabedoria, portanto, Sabedoria de Deus. Uma exposição dessa Teosofia foi feita por Helena Petrovna Blavatsky - H.P.B. - em seus livros Doutrina Secreta e Isis sem Véu.
A Teosofia apresenta as Leis Universais. Um dos seus capítulos versa sobre a Cosmogênese, quando mostra de forma coerente a formação do Universo. Outro capítulo trata da Antropogênese, quando mostra a formação do homem e apresenta os elos que faltam para a ciência descobrir.
Um dos grandes objetivos da Teosofia é o de relacionar tudo quanto existe no Universo pois cada aspecto é uma parcela do Todo. Mas, segundo a própria Teosofia, só conseguiremos perceber essa globalidade através do despertamento das forças latentes no próprio homem.
A Teosofia abrange todos os ramos do conhecimento humano, e podemos dizer, com toda a segurança, que foi a Teosofia que deu origem a todos eles - filosofia, ciência, religião e arte. Como?
Procurando explicar essas revelações milenares, foram surgindo as várias escolas de filosofia. A filosofia foi o primeiro ramo que se desprendeu da antiga Teosofia.
A filosofia estuda as causas que desencadearam os fenômenos, entra pelos campos da metafísica, mas já começa fazendo isso dentro de uma sistematização que caminha para o terreno da lógica. Antigamente, o filósofo entendia de tudo - eram filósofos, médicos, físicos, químicos, biólogos, sociólogos, economistas, entendiam de arte e religião. Hoje, a filosofia se restringe à lógica, ética, estética, metafísica, epistemologia ou teoria do conhecimento, quando o estuda em todos os seus aspectos fundamentais - origem, métodos e estruturas.
Até pouco antes da Era Cristã, os filósofos, tais como Anaxágoras (500 A.C.), Zenon (± 490 A.C.), Aristóteles (384 A.C.), Plotino (205 d.C.), os antigos Gnósticos, ainda continuavam com o mesmo objetivo de estudar Deus, de penetrar os mistérios do Universo, mas já empregando nitidamente processos dedutivos.
Não conseguindo desvendar a parte transcendente do Universo e do homem, que aliás nunca será desvendada pelo mental racional que é dual, dialético, como veremos no capítulo VI, o homem começou voltando sua atenção para os aspectos que podem ser analisados, investigados, começou observando os fenômenos da natureza, aquilo que é objetivo. Desde este momento, a filosofia recebeu outro nome - o de ciência, que é aquele ramo do conhecimento que exige comprova objetiva. Lança mão da hipótese, realiza experiências, procede a uma generalização e elabora uma Lei ou uma teoria alicerçada em estatísticas.
Por sua vez, aqueles que se entregaram a representar e a decantar o belo, a harmonia, criaram as artes.
Aqueles que passaram a adorar os seres que pregavam as verdades, aqueles que absorveram o lado místico dos ensinamentos através dos tempos, que se firmaram no lado emocional, criaram as religiões.
Desta maneira, a filosofia, a ciência, a arte e a religião tiveram sua origem na mesma fonte , ou seja, na Teosofia.
Por esta razão, o bom teósofo é sempre alguém que tudo ouve, tudo analisa, tudo investiga, mas só conclui após meditação profunda e experiência pessoal.
A principal característica da Teosofia é a de fornecer ao estudioso elementos que possibilitem o desenvolvimento de suas faculdades internas, de modo a capacitá-lo a perceber as Causas Primeiras do Universo, pela sua identificação com o Cosmos, ou seja, com a Mente Cósmica, que delineou o plano arquetipal da criação e que, normalmente, é conhecido pelo nome de Deus.
Segundo a Teosofia, Deus não é uma entidade fora de nós, que olha à distância e julga os acontecimentos, castigando e premiando. Deus faz parte do Universo, por assim dizer, é o Universo, se expressa através do Universo e está dentro de cada um de nós, constituindo nossa Consciência Superior, conforme veremos no próximo capítulo. O objetivo da vida e da evolução seria justamente o de despertar esse Deus interno.
O conhecimento, portanto, é "UM", porque a fonte do conhecimento é "UMA", e essa fonte está em tudo, inclusive dentro de nós mesmos.
A tradição Judaica, na qual se apoiaram os Cristãos, contém, na íntegra, essa concepção do Deus interno. Os Gnósticos, que tiveram seu apogeu até o segundo século de nossa era, pregavam a idéia da imanência de Deus, pois o Universo, para eles, surgira através da emanação de Deus, por degraus de enfraquecimento.
Os primeiros Cristãos, que surgiram de entre os Gnósticos, os primeiros padres da Igreja, aceitavam o Deus imanente, a reencarnação e outros princípios aceitos pelos Gnósticos, princípios que foram sendo retirados com o correr dos tempos, pelos vários concílios. Orígines, por exemplo, pregava a pré-existência da alma, portanto, a reencarnação e a não eternidade das penas.
A escola Patrística, que vai até Sto. Agostinho (354-430 d.c.), tinha esse mesmo conceito de Deus e das Leis Universais. No livro "Confissões", de autoria de Sto. Agostinho, está registrado: "De ti emanamos Senhor e para ti voltaremos, razão pela qual nosso coração ficará inquieto até que em ti repouse".
Santa Catarina de Gênova (1.447-1.510), que dedicou sua vida ao cuidado dos enfermos, deixou a seguinte afirmativa: "Meu Deus é o meu EU e não reconheço outro EU que não seja o próprio Deus".
O apóstolo S. Paulo expressa a mesma idéia em:
I Coríntios 3:16 - "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?
I Coríntios 6:19 - "Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo que habita em vós?"
II Coríntios 6:16 - "E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente".
Qual seria, então, a finalidade da vida sobre a face da terra?
Possibilitar ao homem organizar a sua vida interior de acordo com as Leis Universais, de tal maneira que ele atinja o valor de sua Consciência e alcance o valor e o equilíbrio da própria Divindade. Sendo que este é o verdadeiro sentido da palavra religião, que vem do Latim - religare - e significa religar, A religião, a verdadeira religião, deverá religar o ser humano consciente à sua Consciência Superior.
Penetrando o sentido profundo das Leis Universais, praticando a Meditação e determinados exercícios propostos pela Yoga, o indivíduo irá se sintonizando com as energias superiores e irá, progressivamente, se reintegrando no Todo.
A Yoga é um dos seis sistemas de filosofia Hindu, codificado por Patanjali; envolve disciplina pelo domínio do corpo, da mente, da emoção para que se consiga o despertamento do espírito. Abrange os aspectos: Hatha que leva ao equilíbrio das energias; Jnana que leva ao conhecimento e desenvolvimento do mental; Bhakti, doutrina do coração, que leva ao equilíbrio psíquico; Karma que leva à ação justa. O caminho é a concentração e a interiorização, sendo que este assunto será melhor ventilado no capítulo XVI.
É interessante que a Teosofia e as religiões têm o mesmo objetivo - desvendar Deus. Só que seguem caminhos opostos. As religiões emprestam uma forma a Deus e passam a adorá-lo. A Teosofia dá elementos para que o homem encontre Deus dentro de si. O estudioso, através do esforço da auto-realização, irá forjando sua alma ao longo desta vida, e de outras vidas que venha a ter, porque a Teosofia aceita a reencarnação, até conseguir identificar-se com a Mente Cósmica Universal, a FONTE de tudo quanto existe.
Para direcionar a sua vida, o homem precisa começar por conhecer-se, daí o fato de apresentarmos, no próximo capítulo, o conceito teosófico sobre a constituição do ser humano.
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Livros da filosofia Oriental
- As obras consideradas como as mais antigas do mundo são de origem Judaica
e Hindu. Segundo alguns, a obra denominada Siphra Dtzeniouta, que constitui
a primeira parte do Sepher Ha Zohar, da tradição Judaica, seria o mais
velho. Segundo outros, seriam as Estâncias de Dzyan de origem Hindu, escrito
em Senzar, língua sacerdotal da região do Tibete. Para enumerar apenas
alguns registros antigos, temos:
- A Cabala
Hebraica ou Judaica com todos os seus compêndios.
‑ Entre os Hindus, o Manava Dharma Shastra, os Vedas com todos os seus
aspectos. Na "História da Filosofia" de H. Padovani e L. Castagnola, pag.
13, lemos: "O culto mais antigo dos Árias da Índia é a religião Védica,
assim denominada por causa dos livros sagrados em que está contida ‑ os
Vedas ‑ livros que cobriram composições entre 2.000 A.C. e 1.000 d.C." Os
Árias são descendentes das populações da bacia Oriental do Mediterrâneo e
que invadiram o norte da Índia no início da civilização atual.
‑ Entre os Egípcios, o Livro das Esmeraldas de Hermés, o Trismegisto, com as
lâminas do Tarô. No livro de Helena Petrovna Blavatsky - (1831 a 1891),
"Isis Unveiled", V. II, pag. 34 lemos: "Amônio Sacas, falando de sua
filosofia, ensinava que sua escola datava dos dias de Hermés, que trouxera
sua sabedoria da Índia". Amônio Sacas morreu em Alexandria no ano 242 d.C. e
foi o fundador da escola Neoplatônica. O Hermés a que se refere é Hermés, o
Trismegisto, grande sábio que viveu nos primórdios da civilização Egípcia.
‑ Entre os Chineses, Fo-Hi com a lei do Yin-Yang. Lao-Tsé com o Tao Te
Ching. Confúcio deixa 4 livros.
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Anaxágoras (500‑42& A.C.) ‑
Natural da Jônia, na Grécia. Foi o introdutor da filosofia em Atenas.
Primeiro pensador a admitir o espírito como força capaz de explicar a vida.
O espírito seria uma substância a mais que entraria na composição dos seres
vivos. Afirmava que tudo é infinitamente divisível. Cada partícula de
matéria possui uma fração de todas as coisas, mas se exterioriza apenas com
aquilo que contém em maior proporção. Por exemplo, tudo tem em si um pouco
de fogo, mas somente podemos chamar fogo aquilo em que este elemento
predomina. No seu pensamento não se acha presente a preocupação pela ética e
pela religiosidade. Foi amigo de Péricles e, quando começaram as
perseguições contra Péricles, ele passou a ser visado porque não praticava
religião. Fugiu de Atenas e voltou para a Jônia, onde fundou uma escola de
filosofia.
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Zenon (320‑250 A.C.) ‑‑ Fundou a escola filosófica do estoicismo. Buscam a
felicidade suprema, procurando viver em harmonia com a natureza, aceitando
todas as leis. O Universo está impregnado de Deus e forma com ele um único
ser ‑ eram panteístas. A virtude leva o homem a participar dessa vida
universal divina que segue uma inexorável evolução. De acordo com esta
marcha e o acontecer necessário das coisas o homem deve aceitar todos os
acontecimentos de sua vida. A ordem divina do universo exige uma vida
racional e a condenação das paixões. O verdadeiro sábio, para identificar‑se
com o Logos, que é razão ou sabedoria, deve gozar de uma impassibilidade
absoluta. Deve suportar, impávido, a adversidade. A virtude estóica é uma
força ativa e deliberada que não deixa que a razão ceda lugar às paixões. A
paz, a independência, a beatitude perfeita estão na indiferença absoluta por
todos os prazeres e por todas as dores. A moral estóica é o sistema ético
mais elevado do paganismo. Pregavam a fraternidade universal.
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Aristóteles (384 - 322 A.C.) - Nascido em Estagira na Macedônia, fixou-se em
Atenas, onde, por 20 anos, foi discípulo de Platão. Filósofo, escreveu sobre
lógica, moral, ciência, política, biologia, crítica literária, psicologia e
metafísica. Foi, durante 7 anos, preceptor de Alexandre, filho de Filipe,
rei da Macedônia. Quando volta a Atenas funda a escola do Liceu. Como
ensinava caminhando, a escola recebeu também o nome de Peripatética, do
Grego - peripatos - que significa passeio. Após a morte de Alexandre, foge
para Eubéia onde morre para escapar às perseguições. Como Sócrates e Platão,
procurou a essência das coisas, mas, ao mesmo tempo, observava a realidade
objetiva, dando início à Ciência. Renan afirma que Sócrates deu a filosofia,
Aristóteles a ciência e Galileu foi quem introduziu o método científico
propriamente dito. Para evitar desregramentos lógicos e o subjetivismo,
Aristóteles criou as regras do silogismo que constam de três proposições,
sendo a terceira a conclusão. Exemplo: *O homem é um animal racional -
Sócrates é homem - logo é animal racional*. Sua metafísica funde a física
numa teologia, numa teoria de Deus como motor do universo, como ato puro.
Ele parece hesitar entre a teoria de um Deus transcendente, *pensamento do
pensamento*, e a de um Deus imanente, *vivente eterno perfeito*
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- Plotino (205 - 270 d.C.) - Principal representante do Neoplatonismo que,
em suma, é uma síntese de toda a filosofia Grega.
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- Gnósticos - Adeptos de uma filosofia que misturava conceitos Judeus-Cristãos com a filosofia Grega. Aceitavam que o Universo emanava de
Deus. Foram todos condenados pela igreja como hereges.
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Orígines ‑ Teólogo e exegeta Cristão. Em 203 d.C. tomou a direção da escola
catequética de Alexandria. Em 230 d.C. tornou-se padre. Unia Cristianismo e
Platonismo. Condenado por heresia no Concílio de Constantinopla em 553 d.C.
Outros vultos importantes do Gnosticismo:
‑ Basilides ‑ Um dos mais famosos, viveu em Alexandria
por volta de 125 d.C.. Aceitava que de Deus procediam emanações que vieram a
construir 365 céus. A primeira emanação de Deus, o Nous, encarna em Jesus.
‑Valentim ou Valentino ‑ (+ ou - 150 d.C.) De origem
Egípcia, instala-se em Alexandria e prega a doutrina panteísta, doutrina que
identifica Deus com o Universo.
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