2ª PARTE
"CAMINHOS PARA O AUTO EQUILÍBRIO"
Vimos que temos, em nossa vida interior, aspectos perturbadores e que são inconscientes.
O objetivo agora é encontrar técnicas que nos levem a um equilíbrio sem vasculhar as causas dessas perturbações; que nos levem à modificação dos comportamentos e reações que nos incomodam hoje.
Vamos citar alguns exercícios para reformulação dos cartões:
1. Catarse - Quer dizer, pôr para fora tudo o que nos perturba dentro.
Isso se constitui em uma mini autopsicanálise. Consiste em se fazer uma lista de todas as coisas desagradáveis do passado e de que a pessoa se recorda com certa insistência: fracassos, rompimentos, trombadas, gafes, situações constrangedoras... Depois ler tudo, encarando de frente cada acontecimento, considerar que foram experiências preciosas, sem as quais não teríamos amadurecido até ao ponto em que nos encontramos e rasgar a lista, imaginando que está jogando para fora tudo aquilo que estava dentro. Este é o valor da confissão, da confidência, do desabafo.
2. Encontrar chaves para modificar o pensamento.
Por exemplo, o homem ou a mulher de negócios, combinar consigo mesmo que, a caminho de casa, quando passar por determinado lugar, que funcionará como um referencial - um túnel, uma igreja, um cruzamento - vai esquecer-se de tudo o que ficou para trás, relacionado com serviço, e vai se condicionar no espírito de um chefe de família que volta para casa trazendo segurança, tranquilidade. A mulher que fica em casa e que não tem muito ponto de referência externo, quando vai chegando aquela hora do marido voltar, deve também virar a chave do pensamento, esquecendo todos os problemas domésticos - empregada, filhos etc.- e deve se condicionar no sentido de criar ambiente tranquilo para a convivência.
Poderia me estender sobre as causas que dificultam a mudança da chave do pensamento no relacionamento marido-mulher, mas não há espaço nestas aulas sintéticas. A Análise Transacional estuda bem isso no capitulo dos "scripts de vida" e nas comunicações cruzadas.
3. Não alimentar sintomas.
Qualquer sintoma requer uma visita ao médico e, depois de entregue o problema nas mãos do médico, depois de tomadas todas as precauções, seguidas todas as prescrições, esquecer o assunto. Há pessoas que cultivam carinhosamente - a minha úlcera, a minha dor de cabeça. Os médicos sabem o quanto é difícil tratar pessoas desse tipo. O doente, esquecendo-se da doença, ajuda a cura.
4. Cultivar o otimismo
Existe, hoje em dia, uma verdadeira avalanche de livros sobre o poder do pensamento positivo, mas quem lançou a primeira sementinha para que esta filosofia se expandisse, foi Mary Backer Eddy (1.821-1.910). Ela sofreu um acidente muito sério e teve a espinha fraturada. Na mesma ocasião, viu-se abandonada pelo marido e em situação econômica deficientíssima. Praticamente jogada em um hospital, resolveu reagir baseada na certeza de que, através da fé e do firme propósito de recuperação, haveria de sarar, como de fato sarou. Foi ela quem criou a Ciência Cristã, cuja base é o pensamento positivo. Na verdade, o poder do pensamento é incrível, nós somos o que pensamos. Analisando esse assunto, um cientista Francês, Dr. Chevraux, aconselha que se faça a experiência do pêndulo. Consiste em um pequeno pêndulo preso a um fio delgado; é como a experiência do anel. Segurando na extremidade do fio, se pensarmos em movimentos circulares o pêndulo descreverá um círculo, se pensarmos em movimentos horizontais, o pêndulo descreverá esse movimento. Quer dizer que movimentos imperceptíveis se espalham pelo organismo levando a linha a se mover no sentido do nosso pensamento. De fato, existe dentro de nós uma verdadeira varinha mágica, que pode nos levar a ser o que quisermos. Dentro de limites elásticos, podemos construir o nosso destino e conduzir a nossa vida.
O leitor poderá dizer: certamente o autor fala em otimismo assim porque não tem os problemas que eu tenho. Mas o segredo está exatamente em imaginar como nos sentiríamos se não existissem nenhum desses problemas que temos, imaginar como nos sentiríamos se tudo fosse exatamente como desejamos. O mundo que nos cerca é como é. Reforçando o que já foi dito, nós não podemos modificar as circunstâncias que nos envolvem, não podemos modificar as pessoas que nos cercam, mas podemos provocar uma mudança em nós mesmos, de tal maneira que passemos a ver o quadro da vida pintado com cores diferentes.
5. Senso de proporção.
Conseguir estabelecer uma correlação proporcional entre os acontecimentos e nossas reações. Existem pessoas que ficam profundamente perturbadas com pequenas coisas. Qualquer coisinha corriqueira assume proporções e a pessoa fica remoendo, remoendo ou então explode. Digamos que queimou o feijão, quebrou um objeto de estimação, a visita queimou o sofá com a ponta do cigarro. Não que estas coisas devam acontecer mas, depois que aconteceram, é preciso a gente se convencer de que aborrecimento não conserta nada.
Procurar subestimar as preocupações de ordem material e reservar nossa preocupação para assuntos realmente importantes. A vida passa tão depressa e a gente vive comprando problemas. Se realmente houver muitos problemas reais para serem resolvidos a um tempo, manda a técnica que eles sejam relacionados em uma primeira coluna; em uma segunda coluna, colocar a solução desejada e, em uma terceira coluna, as providências que já foram tomadas e as que serão tomadas. Às vezes são apenas dois ou três problemas, mas acabam ficando tão baralhados que parecem uma coisa enorme. Existem pessoas que passam a vida se lamentando sem nunca tomarem medidas para solução. As preocupações vagas são as que mais martirizam; elas assumem proporções enormes, gigantescas. Depois de situadas dentro de um programa de ação, passam a assumir suas devidas proporções.
As preocupações vagas se confundem, se embaralham e provocam angústia. O homem só tem capacidade para resolver um problema por vez. Quando eles se misturam, queremos atravessar várias pontes ao mesmo tempo e isso é impossível. Fazendo uma relação dos problemas, enquanto atravessamos uma ponte, viramos a chave dos outros problemas.
Olhando para trás, podemos constatar que são raríssimos os acontecimentos que nos preocuparam e que foram fatais. A maioria acabou por se solucionar automaticamente. Poderíamos ter poupado momentos de amargura inútil. O princípio fundamental do equilíbrio é enfrentar as perplexidades com calma e lucidez. O nosso bem estar ou mal estar psicológico dependem do modo como encaramos os fatos nos quais estamos envolvidos; da opinião que fazemos dos acontecimentos que nos cercam; depende de um fator interno, tanto assim que, ante um mesmo fato, um mesmo acontecimento, cada um reage de maneira diferente - uns se perturbam e sofrem, outros ficam impassíveis, outros podem até se regozijar com o mesmo fato. Tudo depende da bagagem interior, dos conteúdos inconscientes que trazemos.
6. Sair de dentro de nós mesmos.É fantástico como este item está fazendo parte integrante da nova linha da psicologia. Quer dizer que existe uma necessidade científica de nos interessarmos pelo bem estar do nosso próximo. Chegaram à conclusão de que o homem jamais será feliz se não procurar sair de dentro de si mesmo, se não procurar enxergar seus semelhantes para auxiliá-los em suas reais necessidades. A técnica é procurar encontrar em cada semelhante, particularmente naqueles que menos nos são simpáticos, pelo menos quatro qualidades e procurar elogiar sinceramente naquilo que notarmos de construtivo. Por outro lado, cuidar para não deprimir os outros. Há pessoas que dizem o que não gostariam de ouvir. Fazem referências deprimentes que não vão ajudar a resolver nada, como por exemplo, seu cabelo está ficando branco, como está abatido, pálido etc.
7. Trocar nossas máximas.
Ao invés de dizer não posso fazer isto, não consigo, não alcanço, não sei nada disso, não entendo desse negócio, dizer: posso, consigo, alcanço, sei, entendo. Evitar chavões: "O mundo está contra mim", "Isto me deixa doente", "Tenho um azar tremendo" etc.
8. Exercitar a criatividade.
Planeje uma coisa diferente para cada dia. Saia das rotinas, engendre novas experiências.
9. Myra Y Lopes aconselha:
Equilibrar obrigações e devoções; trabalho e distração; razão e fantasia; concentração e relaxamento.
10. Nunca se compare aos outros.
Procure desvendar suas próprias qualidades que são em muito maior número do que imaginamos.
11. Não recrie fracassos.
Você teve, ao longo de sua vida, tanto experiências de sucesso como de fracasso. As experiências de sucesso foram mais numerosas, contudo, um dos aspectos mais desfavoráveis da natureza humana é reagir mais intensa e emocionalmente aos fracassos do que aos sucessos. Você esquece os sucessos e remói os fracassos. Você recria os fracassos repetidas vezes, e o faz com detalhes e com intensidade emocional de tal maneira que eles são por assim dizer, revividos. O subconsciente não faz diferença entre aquilo que é recordação e aquilo que é fato real. Pelo mau uso da imaginação, um fracasso se multiplica em cinco, em dez, em uma centena e o subconsciente aceita cada um.
Encare os fracassos com espírito crítico e analise as causas, sendo sincero consigo mesmo, assumindo os erros. Após análise, pode recriar a cena com você agindo como você acha que deveria ter agido. Existe uma técnica que manda sentir intensamente a emoção ou o episódio perturbador, tais como medo, raiva, ciúme, fracassos, e deixar a emoção se desvanecer, esvair-se ao longo do sistema nervoso, expirando e relaxando a coluna desde a nuca até o cóccix.
Nosso inconsciente vai ficar contente ao receber estes novos cartões positivos, pois nunca recebeu mensagens dessa natureza, de entusiasmo e otimismo.
O otimismo é a maior das chaves para o equilíbrio interno. Nós nos esforçamos para obter saúde a fim de nos sentirmos felizes, mas quantos de nós jamais pensou em esforçar-se para se sentir feliz a fim de obter saúde?
12. Coloque em si mesmo o detonador de suas reações.
Carl Rogers, psicólogo Norte-Americano, no século XX, apresenta uma proposta genial para o relacionamento harmonioso entre os indivíduos - é a abordagem centrada na própria pessoa.
Somos todos totalmente diferentes uns dos outros. Cada um tem uma forma particular de interpretar o mundo e os acontecimentos. A única maneira para um intercâmbio de idéias é a do diálogo. Só este possibilita a intercomunicação em qualquer nível - social, profissional, familiar.
A técnica preconiza que mudemos o referencial de nossas reações emocionais.
Reparem que, sempre que nos sentimos atingidos, estabelecemos um movimento de lá para cá - "Ele fez tal coisa"; "Você é assim, assim".
Rogers propõe que passemos sempre o referencial para nós e estabeleçamos um movimento de cá para lá: "Eu me sinto triste, ofendido, deprimido, quando você faz tal coisa, ou, quando você toma tal atitude".
Na verdade, não posso julgar a intenção do outro, só posso verificar é como repercutiu em mim.
Este dizer como me sinto, ao invés de julgar e classificar o outro - irresponsável, grosseiro etc. - tem a vantagem de me permitir perceber meu estado interior.
Quanto mais intempestiva for a minha reação, maior o meu desequilíbrio.
Além disso, nesse movimento de cá para lá, alivio as tensões e possibilito o diálogo. Dou margem a uma explicação.
Quando faço o movimento de lá para cá, classificando o outro, interrompo a comunicação e torno impossível o diálogo. Abro uma polêmica. Ambos os interlocutores acionam mecanismos de defesa e disparam ofensas mútuas. Ninguém mais ouve ninguém. E, o mais grave, é que as pessoas envolvidas guardam rancores que irão ser descontados em ocasiões oportunas, às vezes até com pessoas que nada têm a ver com o episódio.
13. Cultive máximas positivas e construtivas.
Poema anônimo
"Cada manhã, apóia os braços teus,
por um pouquinho,
ao peitoril do céu,
e ergue os olhos a Deus.
Depois, com tal visão no coração,
volta-te, forte, a enfrentar o dia."
14. Fortaleça o seu Autoconceito.
Autoconceito é o conjunto de expectativas que o indivíduo tem de si mesmo nas diferentes situações da vida; expectativas essas que vão se confirmando ou não através da experiência social. Quando um indivíduo passa por novas experiências e enfrenta novos valores, aceita-os ou rejeita-os, em função de sua compatibilidade ou incompatibilidade com a avaliação atual que faz de si mesmo. Esse Autoconceito se constitui no núcleo da personalidade e é determinante para o seu desenvolvimento saudável.
Um celebre cirurgião plástico e psicólogo, Norte-Americano, Dr. Maxwell Maltz, observou um fato curioso, ao qual fez questão de dar publicidade.
Verificou que, após operar determinadas pessoas portadoras de pequenos defeitos, como por exemplo, depois de uma plástica de nariz, algumas pessoas se transformavam por completo. Passavam a sentir-se mais alegres, mais confiantes. Todavia, uma grande porcentagem das pessoas operadas, após a correção daquilo que consideravam como a pedra de tropeço para o desabrochamento de sua personalidade, continuavam inseguras e infelizes. Ele começou, então, a imaginar o porquê dessa diferença.
Verificou que, para aquelas que se haviam transformado, o nariz, por exemplo, fizera toda a diferença, ao passo que para as outras não. Para estas, o nariz não era O PROBLEMA que perturbava o seu estado psicológico; o problema era algo mais profundo que elas haviam transferido para o nariz, não perfeitamente grego.
Após um prolongado e acurado estudo da pessoa humana, este cirurgião concluiu que aquilo de que o homem mais precisa, não é de uma plástica exterior, mas sim de uma plástica interior. O homem pode corrigir o que quiser, por fora, mas se não modificar por completo o conceito que faz de si mesmo, de nada adiantará. Foi exatamente como resultado dessas suas pesquisas que ele estruturou a Psicocibernética.
A formação do Autoconceito é um processo lento que se desenvolve a partir da reação dos Pais e de outras pesso