"Administração do Lar" - parte I
Zélia de Toledo Piza
Este é um assunto bastante complexo, porque há um conjunto de fatores que devem colaborar, que devem entrosar-se, para o bom funcionamento de um lar.
Como os componentes de um lar são seres humanos, então, precisamos primeiramente considerar este ser em sua constituição íntima.tituição íntima.
O homem é, hoje, o produto de suas experiências do passado, realizadas através de uma sucessão de reencarnações e, também, das influências ambientais sofridas nesta vida. É isto que produz a diversidade entre os seres humanos. Há uma lei que rege este vir a ser do homem - é o chamado Karma. Karma é a Lei de Causa e Efeito, que pode ser perfeitamente definida pela lei da física, elaborada por Newton - A toda a ação corresponde sempre uma reação equivalente e de sentido contrário. Este jogo da Causa e Efeito vai regendo a evolução do homem, e do universo também. Considerando o desenvolvimento do homem no momento atual, notamos o seguinte quadro.
O homem conta, para reagir perante a vida, com três elementos básicos da sua natureza - Vontade - Mente - Emoção.ção.
Se analisarmos bem a constituição do homem atual, veremos que toda a sua complexidade está enquadrada nestes três elementos, aliás, reconhecidos pela psicologia como princípios cognitivos, sensitivos e volitivos. Podemos dizer que estas são as três ferramentas que o homem possui para trabalhar o seu desenvolvimento interior.imento interior.
Pois bem, é o índice de desenvolvimento em cada um destes fatores que dá como somatória aquilo que chamamos de personalidade ou caráter do ser. O desequilíbrio entre estes elementos dá o ser desajustado, infeliz. Ao passo que a tão decantada felicidade, aquela que cada um busca avidamente sem conseguir encontrar é simplesmente a resultante do equilíbrio entre estes três valores.es três valores.
É preciso, primeiramente, como introdução a um comentário sobre "Administração do Lar", fazer esta análise do ser humano, porque um lar só será "doce lar" quando aqueles que o integram houverem encontrado este equilíbrio interior. Pois o homem desequilibrado não sabe fazer uso da escala de valores da vida. Só alguém que encontrou a paz, a tranqüilidade interna, pode fazer felizes aqueles que o cercam. Caso contrário, mais dia, menos dia, a desarmonia invade.
Muitas pessoas colocam a sua felicidade em função daqueles que o cercam. É um engano. Ninguém é responsável pela nossa felicidade particular, ninguém, senão nós mesmos. Aqueles que nos cercam podem aumentá-la ou limitá-la, mas nunca forja-la. Porque a felicidade não á uma condição de vida material, mas é um estado de ser interior, que independe das contingências da vida terrena.
Se cada um for feliz, de per si, não haverá outra alternativa, o conjunto será feliz. Se um dos componentes do lar for desajustado, infeliz, por mais que os outros colaborem, o ambiente será sempre tenso, intranquilo.
Vamos analisar rapidamente cada um dos elementos fundamentais da personalidade. A Vontade, ou seja, a força de vontade é o pivô da evolução. O homem sem força de vontade é um ser fadado à derrota, que viverá eternamente adiando suas realizações, encontrando sempre desculpas para justificar seus fracassos. Quer dizer que a Vontade é aquele tirano capaz de escravizar ou libertar o homem.mem.mem.o homem.mem.mem.o homem.mem.mem.
No setor do Mental, do conhecimento, da inteligência, a humanidade apresenta um desenvolvimento fabuloso. Dispensa qualquer comentário porque o fato é evidente. Neste ponto, a humanidade está de acordo com o ciclo, pois o ciclo evolutivo atual é essencialmente mental. Esta característica apresenta-se clara na própria geração que vem surgindo. A juventude do momento é muito mais inteligente do que a geração passada, que vem a ser a nossa geração, a daqueles que estão agora com cabelos brancos.
Aqui, neste excessivo desenvolvimento do mental, limitado ao setor conhecimento, é que está justamente a causa do desequilíbrio reinante na humanidade. Isto acontece porque, em relação ao mental, não deve ser considerado apenas o desenvolvimento da inteligência, mas deve ser, também, desenvolvida a faculdade que se chama razão, aquela parte que capacita o homem a identificar o certo do errado. É este desequilíbrio interno que resulta no comportamento conturbado dos povos e, principalmente, no comportamento da juventude - nota-se uma inquietação, uma falta de objetivos certos, numa insatisfação interior.
É patente que algo está errado com o mundo moderno. Tanta inteligência, talento às raias da genialidade e ainda não se conseguiu resolver o problema da pobreza, do desemprego, da agressividade. O homem alcançou alto grau de inteligência técnica, mas continua com baixo índice de razão, de discernimento, daí a má aplicação de elementos descobertos pela ciência tais como a bomba atômica, aviação e tantos outros produtos usados em prejuízo dos semelhantes. Daí os objetivos equívocos dos grandes grupos que dirigem o mundo de hoje em dia.
Este desequilíbrio vem se dando por uma razão muito simples, se bem que de ordem básica, vital, porque a mola que impulsiona o homem a agir certo ou errado, ou seja, a empregar a razão, está na emoção e, apesar do homem haver desenvolvido sua inteligência quase ao máximo, todavia a sua emoção estagnou-se em estágio ainda próximo ao do reino animal.
Emoção é, sem dúvida, a parte complexa do ser humano, além de ser a parte dominante. Porque o homem, no estágio atual da evolução ainda é essencialmente dominado por sua emoção. A média da humanidade tem pouca vida interior, pouca introspecção. Por esta razão, a emoção que dirige o homem é ainda rudimentar, instintiva e prejudica a sua capacidade de discernimento, anula a sua razão. É preciso que haja uma modificação radical na emoção do homem para que a convivência de vários seres sob o mesmo teto resulte em algo agradável.
A característica fundamental da emoção humana é aquilo que a teosofia chama de egoidade. Aquele princípio que dá o sentido da individualidade, que faz cada homem sentir-se como o ser mais importante do universo, em torno do qual tudo gira e para cujo bem estar todos precisam render-se, curvar-se, inclusive os seres componentes de seu próprio lar.
Conforme predomine a personalidade de um dos cônjuges sobre o outro, o lar se transforma em patriarcado ou matriarcado. Isto não funciona no século XXI. É preciso colaboração, entendimento. É preciso que cada um consiga conter-se em suas reações egoísticas e adquira cada vez maior imparcialidade para julgar os acontecimentos do momento. É preciso que cada um procure reagir sempre com justiça perante o outro. Então, cada vez mais o ambiente do lar irá se tornando leve, atraente, convidativo.
Veja no artigo seguinte a sequência deste assunto.