"Função da mulher na vida social e familiar"

 Zélia de Toledo Piza

Impossível analisar a função da mulher sem, em paralelo, analisar o papel do homem. Ambos formam uma polaridade dialética e a condição ideal entre esses dois pólos não é a de competitividade, mas a de complementação.
Pela cosmogênese, apresentada pela Teosofia, sabe-se que a Unidade se divide em aspecto masculino e aspecto feminino para poder dar surgimento ao Universo material. Mas cada aspecto traz o germe do seu oposto, porque Brahma, ou seja, Deus é tudo. As funções, ao longo da cosmogênese, variam em virtude da predominância de um dos pólos e do objetivo do ciclo.

Vejamos as funções no Cosmos:

Pai - a Causa - tem função Yang.

É o gerador, lança a Causa prevendo o efeito.
É a ideação, tem o plano arquetipal.

Mãe - a Lei - tem função Yin.

Manipula as Leis que vão concretizar a ideação. A Lei busca neutralizar a oposição gerada pelo Pai.  O Pai, como Causa, desequilibra.
A Mãe, através das Leis, gesta o Universo em seu imenso útero, dentro do qual, vai sendo construído o Filho, ou seja, o Universo, em harmonia com as causas que passam por ela. Acalenta o Universo sempre atenta a seu desenvolvimento e seus fracassos.
Como o ser humano é o objetivo da Criação, expressa seu amor através do Karma, distribuindo os efeitos com justiça, mandando Seres Divinos, como um Cristo, por exemplo, que são pedaços de Si mesma para mostrarem o caminho da evolução.

É este o funcionamento cósmico que se reflete no ser humano, caracterizando o homem e a mulher. Como disse, o germe da Mãe está no Pai e o germe do Pai está na Mãe. Isto está evidente nos estudos que Jung fez da alma humana. A mulher traz o animus, a personificação da natureza masculina no inconsciente da mulher, e o homem traz a anima, a personificação da natureza feminina no inconsciente do homem. Devem se complementar e devem se equilibrar.

Em capacidade são absolutamente iguais. Ambos dominam as Leis Universais, mas em função?

No livro Iluminados, página 34, Rama ressalta essa diferença. Tem a visão de um ser divino de vestes brancas que lhe entrega um facho e uma taça com a seguinte ordem:

Dê o facho ao homem, que é desbravador;
            Dê a taça à mulher, que é amor.

As diferenças são nítidas - física, orgânica, somática. Na estrutura mental, homem racional, mulher mais intuitiva. Na estrutura emocional, mulher mais emotiva.
            Os dois trazem todos os potenciais. É apenas uma questão de quantidade e de necessidade para as correspondentes funções, tal como se discrimina abaixo:

                                     ELE
            Empreendedor, e a mulher deve aceitar.
            Ao lançar as causas, deveria ter objetivo, ter um plano.
            É autor da ideação, mas deve ser sábio.
            Deve ser participante do processo.

                         ELA
Intuitiva, e o homem deveria ouvir.
Acalenta, protege, mas deve ter sabedoria.
Se expressa com amor, meiguice, sensibilidade.
Deve procurar equilibrar, amenizar - esta é a função do aspecto feminino da Lei quando objetiva as Causa.
Deve acompanhar os processos, inclusive o da convivência.

        Vendo o direcionamento do plano, deve perceber quais os impulsos que devem ser lançados para equilibrar o processo.
        Deve haver estreita comunicação entre ambos.

            No que estão ambos afastados da função cósmica?

                ELE
            Exorbitou do poder.
            Excessivamente dominante.
            O machismo é incentivado pela educação.

        É, em média, pouco participante, pouco integrado, para ver o que é necessário para o andamento dos processos.
        O Pai é chefe, mas seu papel é indefinido. É, na maioria dos casos, um abastecedor ausente.
        Não tem planos definidos para o lar - só para a vida profissional.

                            ELA
A mulher teve um grande handicap dentro da evolução social. Vários vultos proeminentes, ao longo da história, têm considerado a mulher inferior. Por exemplo:

Darwin - "As mulheres são intelectualmente inferiores aos homens".
Gustavo Lê Bom - Considerava as mulheres como as formas mais inferiores da evolução humana.
Voltaire pronunciou-se várias vezes menosprezando a mulher.

        Essa forma de desconsiderar a mulher vem se processando através dos tempos:
       Entre alguns beduínos, Árabes do deserto, quando nasce um novo bebê,  alguém tem a incumbência de ir anunciar ao pai. Se menino, é saudado com uma palavra que significa "boas novas"..  O pai dá um presente ao anunciador e sacrifica uma ovelha. Mas se for uma menina, a palavra de saudação não é pronunciada, não dá a recompensa e nem a festa.
       Na hora das refeições, primeiro comem os homens mais velhos, depois, os homens mais novos e os meninos, e, por fim, as mulheres e as meninas.
        Na Índia, muitas crianças do sexo feminino são abandonadas. As mulheres são tidas como carga financeira, pois, para casá-las, custa dinheiro, ou seja, é necessário dar o dote.
         No Líbano, distribuem bala quando nasce um menino.

- A ONU, Organização das Nações Unidas, fez um estudo na África e verificou que as mulheres trabalham mais. As mulheres trabalham nos campos, em média, 2.600 horas por ano, enquanto o homem, l.800 horas. Isto dá 8 horas por dia para a mulher além do serviço da casa, gravidez, amamentação, enquanto o homem trabalha só 5 horas.

    No século passado, em países mais abastados, a educação da mulher era limitada e não podia votar. Basta dizer que, somente no concílio de Trento, em 1.772, foi dada alma a Nossa Senhora.

Por estas razões, surge o movimento feminista. Hoje, a mulher se encontra num impasse, com dificuldade de optar - carreira ou lar. Tentam as duas coisas.

São palavras do Dr. Hans Selye: "Quanto mais as mulheres assumem trabalhos que antes eram feitos por homens, tanto mais ficam sujeitas aos chamados males dos homens - infartos, úlceras gástricas e hipertensão. Elas conseguem as mesmas satisfações, mas a custa de um preço altíssimo."

A mulher que trabalha e tem os encargos da família é menos livre hoje do que há 60 anos atrás. A mulher não soube dosar suas reivindicações feministas. Esse problema do feminismo deveria ser analisado em profundidade.

Na condição atual, a mulher corre dois riscos:

1. Abandonar o lar e as crianças enquanto pequenas, e ninguém no mundo seria capaz de desempenhar o seu papel de Mãe. As exigências econômicas da vida obrigam a mulher a trabalhar fora de casa, mas o ideal seria que, tendo filhos, ela pudesse cumprir a Maternidade, em tempo integral, pelo período que a maturidade da criança exigir. Depois disso, entendo que a mulher pode e deve voltar a assumir com sucesso posições nas áreas social, política, cultural, econômica etc.

2. De tal maneira deixar-se absorver pelas atividades domésticas e profissionais que acabe por esquecer ou relegar suas funções fundamentais como esposa dentro do lar. Toda a mulher deveria ter dentro de si um pouco de: Afrodite= Deusa do Amor e Demeter=Deusa da Maternidade, da fertilidade. Se for só Demeter, como tende a acontecer, muito por causa de recalques femininos, a condição do lar entra em desequilíbrio. Se não for nem Afrodite, nem Demeter pelo cansaço das rotinas, a situação fica ainda mais insustentável. O ideal é equilíbrio entre ambas.

Acontece que, tanto a mulher quanto o homem estão afastados de sua função verdadeira. Para corrigir, haveria necessidade de reuniões conjuntas, a fim de esclarecer inúmeros pontos específicos que são pedrinhas no sapato da convivência.

A mulher precisa acordar, mas o homem também. A mulher jamais fará sozinha, sem que o homem esteja, em paralelo, fazendo seu esforço. É um trabalho a dois. Cada um deverá aceitar e assumir suas funções, aceitando-se reciprocamente.

Resumindo: Há igualdade potencial - Brahma, ou seja, Deus, é tudo, mas as funções são diferentes.

Existe um detalhe esotérico: na formação do Universo, o aspecto masculino, o aspecto Yang, liderou o processo. Agora, na volta do Universo a suas origens, ao reencontro do Princípio Primordial, quem deve liderar é a mulher, o aspecto Yin, porque estaremos ultrapassando o mental racional e entrando no campo da intuição, do Amor Universal, e é a mulher que traz com predominância esse potencial.

Não é sem razão que se constituiu o Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Mulher, pois ela deverá ter papel preponderante na reestruturação das civilizações.

Mais do que nunca, a mulher deve se tornar esteio e sustentáculo para as transformações que devem se operar e que são de vital necessidade para o desabrochar da Sociedade que está surgindo, dando início a uma nova era..

         A mulher, a esta altura, conseguiu conquistar suas reivindicações. De maneira geral, salvo preconceitos ainda existentes aqui e ali, a igualdade social, econômica, política entre homem e mulher é uma realidade.

Mas a mulher continua insatisfeita. Podemos ver isso claramente nas revistas que tratam dos problemas sentimentais da mulher. Por que essa insatisfação? Porque todas essas reivindicações são fatores externos que, por si, jamais trarão a felicidade interior, mesmo porque o papel da mulher não é o de ser perfeitamente igual ao do homem, mas é o de encontrar o seu ponto de equilíbrio.

Tanto para a mulher quanto para o homem a felicidade consiste em saber conduzir os fatores da alma que são - Vontade, Mente e Emoção. Quando aprendemos a manipular esses elementos da alma, e conseguimos uma interiorização que nos aproxime de nossa parte Superior, começamos, então, a participar da vida Universal.

 

 

 

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