"JNANA YOGA"
Etapas de desenvolvimento do mental
Zélia de Toledo Piza
O ser humano, segundo a Teosofia, é constituído por 7 corpos, cada corpo em um dos planos do Universo. Do mais denso para o mais sutil, temos: físico, vital, emocional, mental concreto, mental abstrato, budhico e átmico.
Para ativar cada um desses corpos, a filosofia Oriental Sankya apresenta 5 tipos de Yoga:
Físico
Hatha Yoga
Vital
Emocional - Bhakti Yoga
Mental concreto
Jnana Yoga
Mental abstrato
Budhico - Karma Yoga, que visa a união entre mente e emoção
Átmico - Raja Yoga
Nesta abordagem vamos ficar com Jnana Yoga.
A matéria prima do plano mental recebe na filosofia Sankya a denominação de Chitta. Quer dizer que, ao formular pensamentos, ao criar imagens mentais, o homem está modelando essa matéria mental. Essa modelagem resulta numa forma dentro do plano mental, visível a quem tenha capacidade para isso.
A essas imagens mentais, a filosofia Sankya dá o nome de Writtis. Essas imagens, ou seja, pensamentos, depois de elaboradas, deixam um vestígio que nunca se apaga e que recebe o nome de Samskara. Se repito muitas vezes as mesmas imagens, ou seja, os mesmos pensamentos, acabo estabelecendo um hábito que pode ser positivo ou negativo. Se positivo, recebe o nome de Skanda. Se negativo, recebe o nome de Nidhana. A este conjunto de características positivas e negativas, que vão se incorporando a nossa personalidade, a ciência dá o nome de caráter.
Essas tendências que vão se firmando dentro da nossa estrutura fundamental vão determinar o Karma de cada um.
Existem várias Leis Cósmicas que regem a estruturação do Universo, sendo que uma delas é a da polaridade. Essa Lei se reflete em tudo, inclusive em nosso mental racional, que é polar. Ele joga sempre com dois pólos. O homem só consegue ter percepção das coisas pela comparação. Só consegue pensar em alguma coisa em termos de outra. Só é possível formar um conceito do qual possamos conceber o contrário. A filosofia, no seu capítulo da dialética, afirma que cada coisa traz em si a sua própria contradição - dia, noite - vida, morte.
Por causa de jogar com pólos opostos, a mente racional parte sempre de um estado de dúvida para entrar no terreno da investigação, da indagação, para depois terminar numa situação que responde a seus questionamentos, dando lugar a uma crença, a uma teoria, ao estabelecimento de uma lei.
Aristóteles, o precursor da lógica, afirmava que o pensamento racional só começa quando se associam pelo menos duas idéias, afirmando ou negando uma a outra. Caso contrário, apenas estaremos emitindo idéias soltas, esparsas.
Existem dois processos básicos de raciocínio - o dedutivo e o indutivo. Estas duas modalidades de raciocínio encontram-se detalhadamente explicadas no livro de minhas autoria - "O Homem e o Universo".
Medindo o progresso do homem através dos tempos, vemos que os conceitos vão mudando - o sol para os gregos era o carro ígneo em que Hélio andava por sobre a terra. Depois passou a ser o olho de Deus. Galileu identificou como esfera de fogo. Hoje, quando se fala em sol, são elétrons, raios gama, prótons, núcleos de Hélio etc. Alguém disse que a ciência é uma dinastia de conceitos que se sucedem como os reis na Monarquia.
Joseph Macdhan, na introdução do livro The Creator Spirit, diz: "O método científico, dependente da indução lógica, do uso de processos estatísticos e da inevitável análise intelectual do assunto, não pode ser o único meio para descobrir o que o homem traz de
transcendente".
O esoterismo afirma que, através de determinadas práticas, o homem deverá necessariamente transcender a faixa do mental racional, que está intimamente vinculado às limitações de nossos sentidos, e deverá colocar o foco de sua consciência num plano mais sutil, que é o Budhico, o da plenitude de intuição, que prescinde desse mecanismo complexo da lógica.
Para ultrapassar esse estágio, deve firmar a mente através do estudo da concentração e da meditação. O grau de evolução se mede pela capacidade de relacionamento de um conhecimento com outros, quer dizer, quanto maior o número de premissas que se interligam, maior o grau evolutivo.
O mental racional abrange apenas uma faixa do todo universal, da mesma forma como a visão só abrange uma gama da vibração da luz, a audição apenas uma gama da vibração do som. Esse limite deve ser ultrapassado através do processo evolutivo e o homem deve alcançar a faixa compreendida por Budhi que é a chamada capacidade da visão direta - é o supramental de Aurobindo. O homem simplesmente sabe que é certo.
Para alcançar esse estado, o homem precisa passar pelos 7 estados de consciência, estados que estão relacionados com a abertura dos canais de percepção ligados aos chakras, daí a importância da prática da Yoga.
Naturalmente, esta divisão do desenvolvimento do mental em etapas é de caráter didático, é uma apresentação racional do problema, porque na verdade, essa passagem pelos 7 estados de consciência é um processo complexo, com estados de ser difíceis de serem identificados. Apesar disso, se cada um meditar sobre os estágios que vão ser descritos, poderá perfeitamente situar-se em um deles.
Vamos focalizar primeiramente o homem em seu estado anterior à classificação do Jnana. É o estado chamado de Shiptwasta.
Caracteriza-se pela íntima correlação existente entre mente e emoção o que resulta num estado de confusão e dispersão mental, estado em que se encontra o homem no estágio de desenvolvimento atual. O homem está sempre aturdido e perplexo porque a emoção sobrepujando, prejudica por completo a capacidade de enfrentar os fatos com calma e discernimento. Vive na base da satisfação de suas necessidades primárias. Vive em busca de algo que satisfaça a emoção; tem necessidade de riqueza, sucesso, domínio, prestígio e todos os seus atos são impulsionados por estes motivos. O homem em geral busca os fins, sem medir os meios. O homem age dessa forma porque acha que esses são os elementos capazes de abrir as portas da felicidade terrena. Se por um instante ele vislumbrasse que está exatamente usando as chaves que fecham a porta da verdadeira felicidade, ele já contaria com um fator que poderia levá-lo a sua libertação.
Enquanto o homem se debater neste estado de confusão caótica entre emoção e razão nem pode ser classificado dentro do Jnana.
Quando surge no homem um ligeiro despertamento para os problemas de ordem espiritual, um anseio que não mais se satisfaz com a obtenção de prazeres imediatos, com uma vida frívola, então dizemos que o homem entrou para o estado de Subhaisha.
É o estágio que se caracteriza pela busca da Verdade pressentida no âmago do ser; a busca de algo que satisfaça os reclamos interiores e o homem começa por experimentar todas as religiões, todas as escolas filosóficas que se apresentem como portadoras da Verdade. Ele se torna um livre pensador. É uma época de grande instabilidade, pois o discípulo percebe que por toda a parte há um pouco de verdade mas não consegue isolá-la, não consegue despi-la das inúmeras vestes impostas pelas religiões e filosofias. Ele adquire, todavia, um mental que está disposto a investigar, a analisar e é justamente esta disposição que é importante neste estágio.
Se bem que a dúvida seja ainda completa, quando o homem ouve falar do assunto sente que é verdade mas não sabe bem explicar por quê. A emoção é a primeira que aceita. Quando razão e emoção entram num acordo, então principia a realização.
Um dos grandes perigos neste estágio de Subhaisha é o discípulo tomar uma das verdades parciais como definitiva, dogmatizar, aceitar uma das religiões ou filosofias, acomodar-se e cessar a busca.
A dogmatização é perigosa por dois motivos:
l. Leva o homem à acomodação. A lei do mínimo esforço é inerente à natureza humana.
2. Essa acomodação impede o homem de proceder às mudanças necessárias.
O fortalecimento mental o levará a perceber que deve abandonar certos aspectos da vida emocional - deverá fazer distinção entre o certo e o errado e deverá empregar a Vontade para agir, de acordo com o certo. Acontece, porém, que, de forma inconsciente, a pessoa se recusa a isso.
Ao mesmo tempo em que seu mental vai adquirindo esta capacidade de investigação da verdade, ele precisa adquirir um desenvolvimento paralelo no terreno moral. Consciente, ou inconscientemente, ele deve estar dominando princípios de ética pois, nesta etapa, o homem começa a distinguir que sua natureza é constituída por dois princípios antagônicos. Uma parte positiva que nos impele para cima e outra negativa que nos impele para baixo.
Quando o mental se dispõe a enfrentar tudo para encontrar a verdade, isto pode ser dentro de um colégio iniciático ou fora dele, então se diz que o homem passou para o segundo estágio que é o de Visharana, que corresponde a uma adaptação do mental.
Este estágio de adaptação do mental representa uma luta terrível para o discípulo. Ele precisa abandonar todos os preconceitos anteriores, todas as noções adquiridas através de sua educação, do meio ambiente em que viveu, para poder ver imparcialmente a Verdade. É o segundo mandamento de Helena Petrovna Blavatsky: mente livre e sem preconceitos.
Budha aconselhava seus discípulos: "Não aceitem nada que à primeira vista lhes pareça desarrazoado, fora de propósito. Mas, ao mesmo tempo, nunca desprezem nada como desarrazoado, sem primeiro haver examinado
bem".
Neste estágio ainda restam muitas dúvidas. Quando o discípulo adquire aquela imparcialidade mental, aquela capacidade do ver pontos opostos de uma mesma coisa sem se exaltar, sem se deixar confundir pela dúvida e torna-se capaz de discernir entre esses pontos opostos, o certo do errado; quando a par com esta imparcialidade sua emoção começa vibrando em sintonia com os planos mais sutis, quando o homem começa ficando bom, ele passa paro o terceiro estágio, o de Tano-Manassa.
Este estágio pode ser sintetizado como o da redução do mental. Redução esta decorrente justamente do seu desenvolvimento anterior, realizado através das investigações do segundo estágio, daquele início de processo da meditação.
Aqui, a capacidade de raciocínio atingiu tal grau de expansão que vai automaticamente adquirindo a capacidade da visão direta. Para vermos a Verdade Universal, precisamos abandonar a muleta do nosso mental racional e adquirir o chamado estado de Budhi que possibilita ver as causas em suas fontes, tal como elas verdadeiramente são.
O mental racional não pode ver senão os efeitos das causas, pois o mental só entende argumentando, comparando possibilidades opostas. Enquanto houver dois pontos a serem analisados, aquilo que se estuda é efeito e não causa. A causa simplesmente é em si mesma, não admitindo ponderação, portanto só pode ser entendida por Budhi, estado que vê e sabe que o que vê é certo, sem argumentação. A alma torna-se andrógina.
Neste estágio, ao passo que o discípulo começa se libertando do seu mental racional, ele começa enxergando os problemas da vida diária de modo objetivo, claro e as soluções se apresentam de modo fácil, simples. Este é um dos indícios nítidos do progresso do discípulo. Aquisição do equilíbrio pessoal.
Nos estágios anteriores a energia do homem era absorvida na luta em que ele se debatia com os Writtis e com seu passado emocional. Aqui a energia começa ficando livre.
No estágio anterior, toda a vez que o discípulo se dispunha a uma aplicação difícil do mental, as imagens se interpunham. A mente escapava. O rendimento era nulo. Se o indivíduo não houvesse lutado, praticando a concentração, teria permanecido nas aplicações fáceis do mental, como acontece com uma grande maioria - ficam nos gibis, romances leves, contos policiais, novelas etc. Não que haja qualquer tipo de condenação dogmática em relação a esses gêneros de aplicação do mental. Em tudo há de tudo. Mas o problema é que são aplicações fáceis do mental.
Aqui no estágio de Tano-Manassa, já a mente está firme, o discípulo se liberta por completo das imagens e o rendimento é total. Já domina sem grande esforço seus pensamentos e aplica-os como bem entende. Quer dizer que ele deixa de ser escravo para ser senhor de seus pensamentos.
Neste estágio o mental racional é que vai se tornando escravo de Budhi que começa dominando. O mental racional serve então para ajudar o homem a trazer aquilo que vê lá em cima, de forma direta, para o terreno da compreensão humana.
Quando o homem atinge o chamado estado de Dharana, aquele estado de tranqüilidade mental, passa para o quarto estágio, o de Sattwapati, também conhecido como grau de Arati.
É o grau máximo a ser atingido neste ciclo de evolução. O mental está totalmente reduzido e a percepção da realidade à direta, isto é, o discípulo atinge o estado perfeito de Budhi que é o do conhecimento estático, porque não precisa mais do jogo do raciocínio. O discípulo adquire o perfeito domínio do pensamento, da emoção e do físico. Mas, para chegar a este estágio, são necessários exercícios de concentração dos estágios anteriores.
Aqui ele pensa sem imagens e não sente mais com os sentidos o que já vai sendo um pouco mais difícil de ser compreendido pelo mental racional. Ele adquire o primeiro dos três poderes, isto é, adquire a onisciência, e passa para o quinto estágio, o de Assamshakti.
Aqui a consciência está focalizada em Atmã que é trino - Sat - Chit - Ananda ou Poder, Sabedoria e Amor Universal.
Música ajuda muito, refina o astral.
Neste estágio, a forma física não tem mais sentido, razão de ser, pois o discípulo já domina as Leis Universais. Adquire o segundo poder, o da onipresença.
O sexto estágio do Jnana é o de Padhartha - Bhawani.
Aqui o discípulo encontrou a palavra perdida, aquela que o torna igual a Deus, porque descobre as vibrações que deram origem à elaboração do Universo. Adquire o terceiro poder, o da onipotência.
O sétimo estágio é o de Turyiaga-Bhumi .
O discípulo está totalmente fora dos opostos. São palavras de um hierofante: "Aquele que transcendeu os opostos, atinge o Plano do Real, donde contempla a disciplinada concatenação dos sucessos a que chamamos Vida Humana, como alegres experiências, consideradas como indispensáveis para o aperfeiçoamento da alma".
Há integração em Deus. É o supremo poder, o supremo conhecimento e a suprema beatitude.
Daí em diante, o Ser pode fundir-se com o Infinito, ou pode renunciar a isso, continuando reencarnações para auxiliar a humanidade como os Budhas de compaixão e permanecem como senhores da criação. Mas acontece que conservam a semente dos Writtis e podem cair e sofrer, podem entrar novamente no trama psíquico, de modo que o sacrifício destes seres é algo incalculável.
Jnana é um dos aspectos dos 7 estados de consciência que o homem tem de adquirir
para atingir a sua divindade. Paralelamente, é preciso cuidar do aspecto
moral e ético ligado ao processo da Bhakti Yoga, que é a doutrina do coração.