"Qual a razão do sofrimento"?
Zélia de Toledo Piza
Nesta fase de nossa vivência, o sofrimento é necessário para a evolução do ser humano. Quando compreendermos bem o mecanismo do sofrimento, passaremos a encarar de forma completamente nova os contratempos da Vida.
Para reagir ao ambiente, o homem conta com três elementos internos - emoção, mente e vontade. Para caminhar na sua evolução, vai sendo impulsionado pelo sofrimento, única linguagem que a Natureza encontrou para se comunicar conosco.
Como vimos no artigo anterior, digamos que eu surgisse sem qualquer experiência anterior e batesse, com força, num objeto sólido, numa mesa, por exemplo. Minha emoção registraria uma sensação desagradável que eu, naturalmente, vou desejar mudar. Para mudar, preciso fazer funcionar o meu mental e estimular a minha razão, o meu discernimento. Ou analisar a situação e vou procurar uma forma de andar sem bater na mesa.
Esta análise resulta num conhecimento. Qualquer ação, certa ou errada, dá um conhecimento. Acontece que só o conhecimento não é suficiente. É preciso que se transforme numa experiência a fim de que eu possa aproveitar e não repetir o ato indesejável pela segunda vez.
Através dessas pequenas experiências, o homem vai adquirindo consciência das Leis que regem a vida.
Qual o objetivo da Natureza? Ela coloca dificuldades, não para ver o homem sofrer, mas para incitá-lo à descoberta de Leis. A humanidade evolui inconscientemente procurando remover coisas que incomodam e buscando novas formas, mais cômodas e confortáveis.
O ato de bater na mesa é algo desagradável, portanto, é um sofrimento. A mesa pode ser substituída por qualquer sofrimento da vida real - emprego que não deu certo, doença pessoal ou na família, um problema afetivo, a perda de um ente querido etc., bem como por reações psicológicas, de nosso foro interno.
Se ao evitar a batida na mesa, descobri Leis - um corpo sólido não pode ser atravessado por outro - calculemos o resultado da resolução, bem como da compreensão, de complexos problemas da vida real, inclusive dos problemas psíquicos. Ao resolver, ou ao compreender, qualquer problema, seja de que natureza for, descubro Leis. Ao descobrir Leis, aumento meu grau de consciência e, através das experiências, preparo meu inconsciente para evitar cada vez mais o caminho do sofrimento.
Agora, acontece que tudo tem duas faces. Suponhamos que bater na mesa provocasse uma sensação agradável. Eu estaria satisfeita e meu mental estaria parado. Não haveria movimentação em nenhum de meus fatores internos. Haveria o surgimento de um círculo vicioso, que movimentaria o mecanismo do reflexo condicionado - ato que provoca prazer e prazer que me leva a repetir o ato. Isto conduz ao automatismo do comportamento humano que, sem o discernimento, é um dos caminhos para o vício.
Sem movimentação dos elementos da alma - emoção, mente, vontade - não há evolução.
Então, passamos a compreender a necessidade do sofrimento. É para forçar o mental a funcionar e a descobrir Leis.
O sofrimento é um estímulo que nos leva a corrigir a direção de nossos impulsos, no sentido de caminharmos dentro da evolução.
Diante de qualquer dor, diante de qualquer reação emocional, parar e procurar ver a causa que está dentro de nós.
O esforço para a auto-realização, bem como a prática da interiorização, levam o homem a descobrir as Leis da Vida sem a necessidade da dor, do sofrimento.
Levam o homem a descobrir o caminho certo e justo antes de "bater na mesa".