"Lei de Samsara
- Lei dos Ciclos"
A
Roda dos Nascimentos e Mortes
Zélia de Toledo Piza
A Lei de Samsara existe como conseqüência da Lei da Polaridade. É essa Lei que provoca o fenômeno da atração e repulsão, que se exterioriza como energia, o que permite a coesão da matéria. Isto dá uma das características do Universo que é a vibração, característica que leva tudo a se desenvolver através de ciclos
Este fenômeno é muito
bem descrito pelo símbolo do Tai-Chi, do Zen
Budhismo.
Todo o bem traz dentro de si a raiz do mal e todo o mal traz dentro de
si a raiz
do bem. Os dois pólos do Universo são complementares e agem de
forma a criar
as oscilações necessárias ao aparecimento da matéria.
Quando o germe do negativo que está dentro do positivo cresce até um determinado limite, ele se transforma no aspecto negativo total, trazendo dentro de si o germe do positivo. Quando o germe do bem cresce até um determinado ponto, ele se transforma no positivo total , trazendo dentro de si o germe do negativo. É este jogo que resulta nos ciclos - expansão e retração - e dá a sistemática quaternária da manifestação.
Tudo nasce e, após um ciclo de expansão, alcança o apogeu, depois declina e morre. Podemos ver isto no fruto. Mas todas as mortes são aparentes. O fruto renasce e também o homem volta para nova vida.
Qual é, para o homem, a função da Roda de Samsara?
No grau de desenvolvimento atual do ser humano, ele não consegue fazer o jogo da alma humana, ou seja, não consegue discernir o certo do errado, desligar-se dos reclamos emocionais e fazer o certo à custa da Vontade. Ele tende a responder emocionalmente. O referencial da vida é a sensação.
Sua forma de reagir obedece ao circuito:
É a emoção que
impulsiona o homem à ação e é a sensação agradável provocada
por um
determinado ato que incita o homem à repetição do mesmo. O homem
passa a
buscar novamente a sensação. Tantas vezes este circuito se repete que
acaba
por se transformar em um hábito, ou seja, em um condicionamento, que
passamos a
executar de maneira inconsciente. Para elaborar tendências positivas, é
preciso executar o jogo de maneira consciente. Discernir o certo do errado e,
desligando-se do emocional, fazer o certo à custa da Vontade.
Acontece que nossos condicionamentos, por serem impulsionados pela emoção, tendem a se afastar da Lei.
É exatamente esta tendência que o homem tem de responder emocionalmente aos estímulos exteriores, que o traz atado à roda dos nascimentos e mortes.
Os ciclos de vida e de morte são uma necessidade, porque possibilitam a evolução do homem.
Se o homem permanecesse indefinidamente numa mesma linha de ação, devido a essa tendência de reagir emocionalmente, iria desenvolvendo ao máximo hábitos vinculados à emoção e iria se afastando cada vez mais da Lei.
Os ciclos, ou seja, a morte, rompe os vínculos do homem com a matéria, com os reclamos da emoção egoísta e, ao longo de várias vidas, ele vai percebendo que as coisas de "Fora" têm menos valor do que as de "Dentro". Passa do "TER" ao "SER" e supera o apego.
Essa morte, ou esse Pralaya, é sempre precedido de um autojulgamento.
No momento final de cada vida, tudo quanto aconteceu na vida passa como se fosse um filme, desde o nascimento até aquele momento.Tudo quanto fez, pensou, falou, sentiu. Nesse dado momento, há uma ligação direta com a consciência superior e a própria pessoa faz o autojulgamento e a proposição para a nova encarnação.
Daí a necessidade de se deixar aqueles que estão prestes a desligar-se da vida, em silêncio, recolhimento. É aí que ele elabora o Karma. Karma são compensações físico, emocional e mental para os atos registrados na alma do ser.
Quer dizer que somos o produto de nós mesmos. O jogo da vida é para equilibrar os pólos opostos de nossa natureza. Daí a necessidade de conformidade com o Karma. Só essa atitude já dilui o Karma. As situações que enfrentamos na vida são oportunidades para o progresso interior. É preciso saber aproveitá-las. Pitágoras, por exemplo, foi preso no Egito e passou l4 anos de sua idade madura, produtiva, como prisioneiro, mas acontece que, por causa disso, lá entrou em contato com a magia dos Caldeus, a astronomia dos Persas e a sabedoria dos Judeus, pois lá estavam também prisioneiros os profetas de Israel.
Para ser possível esse trabalho das compensações, o ser, ou seja, sua consciência, vem em novo psico-mental, enfrenta novo ambiente. Vem só com suas tendências positivas e negativas.
A Roda dos Nascimentos e Mortes abrange três planos da manifestação. Nesses planos o homem vai se desligando de seus princípios inferiores - físico e vital, emocional e mental, princípios que não estão incorporados a sua natureza fundamental.
Após a morte, a alma permanece no vital até a desagregação do físico. Após, a consciência se transfere para o plano mental juntamente com o emocional. Aí permanece até esgotar todos os impulsos emocionais que não se incorporaram a sua natureza fundamental. Passa, então, para o plano mental puro, levando inclusive, a memória do passado. Desligado do emocional, consciente da finalidade da evolução, passa a analisar com justiça todos os seus erros.
Após esse autojulgamento, o "substratum" de todos os princípios fundamentais do ser passam para o veículo Átmico onde permanecem por tempo determinado pelo Karma, até que surge novamente o desejo de renascer para realizar novo impulso evolucional, para cumprir novo programa estabelecido por ele mesmo no momento do autojulgamento.
Quando este desejo surge, o fator reencarnável vai escolher o lugar afim com o plano estabelecido. Em torno do "substratum" Átmico que constitui o grau de consciência do ser, se condensam novo corpo mental, novo corpo astral e novo corpo etérico, sendo que este é que vai determinar as características genéticas. Daí a necessidade do lugar afim e as responsabilidades dos abortos etc,.
A genética diz: nasceu com o jeitão do Pai, mas é ao contrário, o Pai é que tem o jeitão do filho por isso é que ele nasceu ali.
As tendências positivas e negativas são como pedrinhas no novo tabuleiro da vida. O individuo deve manipulá-las de tal maneira que consiga diminuir as oscilações dos pólos, alcançando o equilíbrio.
O Ocidental tem um conceito distorcido da morte. Para o Oriental, morte não é morte, é nascimento, porque o ser se torna consciente. A vida é que seria morte por causa das limitações, dos véus. Existem povos que fazem festa pelas mortes e choram aos nascimentos.
É como a lenda da lagarta que se despede das amigas que choram, porque acham que ela vai morrer. Mas o que vai haver é transformação e não morte. Transformação para um estágio superior quando poderá voar para a liberdade.
Nada morre. Só há modificação de forma, atividade, condição de energia.
A dor é para quem fica. Para quem vai não. Não há saudade pois percebe os entes queridos no astral. A dor é de se defrontar com os erros.
Nos enterros não deveríamos chorar nem lamentar. É difícil por causa da tradição. Às vezes passa anos longe da pessoa sem nem um gesto de afeto. Quando ela morre, viaja até distâncias enormes só para chorar socialmente. Nem sempre é amor. As grandes lamentações dificultam a libertação e o prosseguimento do processo. Quanto mais positivos, mais construtivos os comentários, mais ajuda quem vai, porque a pessoa percebe o que está acontecendo.
A vida é uma escola. Devemos desempenhar a vida calmos, despreocupados. Nossa única preocupação deve ser a de semear a semente porque nos outros mundos só poderemos colher aquilo que semeamos aqui.
Contam os biógrafos de Sócrates que, quando estava na prisão, condenado à morte, por sua filosofia ser considerada herética àquela época, poucos momentos antes de receber o veneno, alguns amigos conseguiram abrir as portas possibilitando a sua fuga. Suas palavras foram: "Vocês são maus filósofos se pensam que um pouco de veneno pode matar a Sócrates". Quando já estava agonizante, seus amigos perguntaram onde queria ser enterrado, ao que responde: "A Sócrates ninguém enterrará, mas a este invólucro poderão colocá-lo onde bem entenderem".
Não queremos valorizar o fato de Sócrates ter se deixado matar, mas queremos mostrar que ele descobrira o Eu eterno, imortal.
Certa vez, Paulinius, missionário Cristão, falava na corte da Inglaterra ao rei Edwin. Já era de noite e, enquanto ele falava da vida, da morte, da imortalidade, uma ave penetra pela janela, executa uma série de círculos pelo hall e voa novamente para a escuridão. Paulinius aproveita a metáfora, dizendo que, assim como o pássaro, o homem passa da escuridão para a vida através do nascimento, revoluteia na terra e, através da escuridão da morte vai para a eternidade.
Uma atitude sábia perante a morte deve ser: Cumprir com nossas obrigações de maneira tão perfeita como se fôssemos morrer agora e, ao mesmo tempo, ter tantos planos para a vida como se fôssemos viver eternamente.