Esoterismo

 


 

"RAZÃO DO SOFRIMENTO"

      Zélia de Toledo Piza 

Vamos ver um aspecto interessante do jogo cósmico.

A parte superior do cosmos, constituída pelos 22 arcanos maiores, não quer ver o homem sofrer. Ela avisa pacientemente. Coloca o homem em experiências para despertar seus valores internos. Deus é de fato bom.

Se o homem ouve a voz de sua consciência e, a custa da Vontade, passa a agir de acordo com a Lei, ele vai se equilibrando e encontra a Paz. 

Mas se Deus fosse apenas bom, não seria justo.

Por esta razão, se o homem não ouve a voz da consciência, entra em função o aspecto negativo do cosmos conhecido como diabo, se bem que diabo no conceito popular não existe; o que existe é um princípio cósmico que busca levar os processos ao equilíbrio. Essa força começa remexendo os valores da alma humana, constituídos pelos 56 arcanos menores. Naturalmente tudo é feito dentro da mais estrita justiça, porque é ação da Lei.

O desequilíbrio dos arcanos menores é que se exterioriza em desequilíbrio psico-mental, fazendo surgir o fenômeno da dor. Isso acontece porque os arcanos menores estão relacionados aos chakras e ao sistema nervoso.

O estado de paz interior ou de sofrimento são a única linguagem de comunicação entre a consciência superior e o plano da consciência física.

O sofrimento é o mecanismo que leva o homem à descoberta de Leis e, portanto, do caminho da subida. Ele força a movimentação dos dois pratos da balança interna, formada pelos opostos. Vamos, através de um exemplo bem banal, que não envolva complexidades emocionais, perceber a necessidade do sofrimento. O entendimento desse mecanismo nos leva a encarar de uma forma completamente nova os contratempos da vida.

Digamos que eu surgisse do nada, sem nenhuma experiência anterior, e caminhasse em direção a uma mesa. Se andasse depressa, bateria nela e colheria uma sensação que meu aspecto emocional registraria como desagradável. Como o efeito de bater é desagradável, eu desejo modificá-lo, não quero repeti-lo e, para isso, preciso pôr em funcionamento outro elemento de minha natureza interior, ou seja, a minha razão. Preciso analisar o meu ato para ver como posso evitar essa sensação desagradável. Essa análise resulta em um conhecimento porque, naturalmente, vou encontrar um meio de contornar a mesa.

Quer dizer que toda a ação dá um conhecimento, mas só o conhecimento não adianta. Preciso transformar esse conhecimento em uma experiência e eu só posso fazer isso empregando meu raciocínio, de sorte que numa segunda vez que eu vá passar pela mesma experiência, eu o faça de modo mais proveitoso.

É através destas pequenas experiências que o homem vai adquirindo consciência. O ato de bater na mesa era desagradável, portanto, era um sofrimento. A mesa deste exemplo pode ser substituída por qualquer acontecimento desagradável de nossa vida - ela pode ser um emprego perdido, uma doença, um problema afetivo etc.

Então, este sofrimento de bater na mesa obrigou-me a pensar, a meditar. Com a reflexão descobri um meio de contornar a mesa, descoberta essa que envolve uma série de leis. Um corpo sólido não pode atravessar outro. Para chegar ao lado oposto de um corpo sólido é preciso contorná-lo. Quer dizer que descobri leis, princípios que evitam o meu sofrimento.

Se ao analisarmos um exemplo tão simples vemos claramente que descobrimos leis, calculem o número de leis que estaremos descobrindo ao resolvermos os problemas complexos de nossa vida.

Descobrindo leis, aumentamos nosso grau de consciência; aumentando nosso grau de consciência vamos reduzindo nosso Karma, pois vamos aos poucos nos tornando no próprio Karma, isto é, na própria Lei; vamos adquirindo, através do sofrimento, um valor equivalente ao do mundo das Leis.

Então, se vamos reagindo de modo irrefletido, precipitado, ante os sofrimentos da vida, tomando atitudes de revolta, de vingança para com a própria vida, de lamentações, não tiramos proveito algum das experiências. Só complicamos.

Diante da qualquer problema, efetuar um processo mental, delimitar a realidade, descobrir Leis que regem a vida e agir de acordo com os reclamos do nossa consciência, custe o que custar.

São palavras do H.P.B.: "Não te queixes, pois o que parece sofrimento é, freqüentemente, em realidade, o esforço misterioso da Natureza para ajudar-te em tua tarefa. O que precisas é aprender a manejá-lo bem."

A dor física também é alerta - o físico é a última etapa da dor psico-mental. Mesmo a dor física kármica teve origem num processo psico-mental, num desequilíbrio dos arcanos menores. 

Agora, suponhamos que o ato de bater na mesa fosse substituído por uma emoção agradável; minha emoção estaria plenamente satisfeita, e eu nem cogitaria de aplicar o meu mental. Lá estaria estabelecido o círculo vicioso do reflexo condicionado que é aquele que move noventa porcento dos atos humanos. 0 homem estando satisfeito, seu mental estaria em repouso, não haveria movimentação destes valores interiores e não haveria evolução. Então podemos compreender perfeitamente por que é que o homem precisa sofrer. Para forçar sua inteligência a funcionar e descobrir Leis. Leis que evitam o seu sofrimento, leis que aumentam o seu bem estar e conforto. Essas leis vão aumentando, por sua vez, seu grau de consciência, que é o objetivo da evolução.

Então, a finalidade da iniciação é fazer com que o discípulo descubra todas essas leis através do estudo e da meditação sem ter de ser impulsionado pela dor. Ele deve descobrir, antes de bater na mesa, as leis que o levariam ao outro lado da mesa sem o fator sofrimento.

Acontece, porém, que, ao passo que vamos descobrindo essas Leis, precisamos, com o uso desta força superior que nós chamamos de Força de Vontade, ir aplicando essas mesmas Leis, caso contrário, assumiremos Karma. É a espada de dois gumes, é o fio da navalha citado por Helena Petrovna Blavatsky em sua Doutrina Secreta.

Ao passo que o homem se equilibra, vai sentindo a Unidade Universal e uma irmanação para com cada parte do todo, seja uma pedra, uma flor, um animal e, sobretudo, um semelhante. Tudo é parte de nós mesmos.

O adeptado se consegue pela purificação dos sentimentos, pela simplificação da natureza interior. Disse Jesus: "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus". S. Matheus l8.

 

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