"TÉCNICAS de DISCIPLINA "
Zélia de Toledo Piza.
Gostaria de discutir o problema da disciplina em sala de aula. Não existem fórmulas. Existem múltiplas possibilidades de abordagem. Vamos procurar levantar algumas delas.
Em um ponto, porém, estou certa de que todos somos unânimes. É impossível trabalhar sem disciplina, e é um dos grandes desafios do professorado, particularmente ao passo que os alunos vão se tornando jovens.
Vejo uma necessidade premente de se estudar o problema.
Vamos refletir sobre os três questionamentos seguintes:
1. Que objetivos queremos alcançar com a disciplina, dos mais amplos aos mais específicos?
-
Tornar possível a atividade escolar.
- Possibilitar o máximo entendimento.
- Preparar o indivíduo para a vida social, para o respeito às instituições.
-
A
vida real exige limites.
2. Qual a melhor definição para disciplina?
- Disciplina é um processo que leva o indivíduo a respeitar normas, isto é, a respeitar os limites estabelecidos pelo grupo com o qual convive. Podemos concluir o seguinte: Se é um processo, deve começar desde o berço e, portanto, precisa ser executado junto com a família. Discutir este assunto em reuniões de Pais. Na escola, a disciplina deve começar desde o Jardim. Não pode ter havido liberdade ilimitada em casa e nas primeiras séries e, depois, alguém querer enquadrar dentro de determinadas regras. Disciplina pode ser algo suave se for praticada em conjunto por todos os que participam do ambiente, seja familiar, escolar ou social da criança.
3. O que é Liberdade?
- Será que existe Liberdade absoluta? Liberdade é a capacidade de definir o espaço pessoal em relação ao dos outros e em relação às exigências sociais. Piaget diz que criar a criança em ambiente permissivo, onde ela faz o que bem entende, é a melhor maneira de evitar que ela venha a ser um adulto autônomo. No início e meados do século XX, na sociedade e nas escolas em particular, houve uma proposta, ainda hoje muito acatada, de se dar total liberdade ao estudante, desde o Pré. Em S.Paulo, uma escola que pôs em prática essa idéia, começou tendo tão grandes problemas de comportamento que foi obrigada a contratar três psiquiatras, um para cada grau.
Vamos analisar possíveis técnicas de controle:
A mais eficiente é a do reforço positivo.
O reforço é uma lei do comportamento dos seres vivos. Os organismos vivos tendem a repetir aqueles comportamentos que resultam em reforçadores, ou seja, que resultam em conseqüências desejáveis, agradáveis, e tendem a evitar aqueles comportamentos que falham em produzir resultados desejáveis e até produzem resultados indesejáveis.
Reforço é aquilo que vem como conseqüência imediata a um determinado comportamento. Se logo após o comportamento vem uma reação, um acontecimento que agrada, a criança tende a repetir o comportamento.
Existem dois tipos de reforço positivo.- sociais e não sociais.
Sociais - carinho, abraço, beijo, sorriso, interesse, atenção, tapinha nas costas, elogio sem exagero, colocação de expectativa maior.
Não sociais - dinheiro, bala, promessas, muito usados mas não muito recomendáveis. Na escola, um aproveitável é o de pontos para trocar por jogos e brincadeiras organizadas.
EXEMPLOS DE REFORÇOS
- Criança que ajuda no serviço - elogiar e agradecer.
- Criança que limpa o pé no capacho - agradecer por não sujar o chão.
- Criança que não comia cenoura - um dia em que ela provou a Mãe elogiou pelo espírito aventureiro.
- Débora, criança da 2ª. Série - conversa, faz ruídos, levanta e sai, faz caretas, resmunga, cospe, bate com o lápis na carteira. A professora parou de chamar a atenção e passou a elogiar os momentos certos, por mínimos que fossem. Depois, combinou com ela que cada cinco minutos que ficasse quieta, ganharia um ponto. Toda a vez, a professora diz: Muito bem, Débora, você ganhou um ponto.
É preciso verificar o de que as crianças gostam. Conhecer os interesses da faixa etária com a qual estamos trabalhando.
- Menino que tinha horror à matemática. O professor de aula particular disse que para cada exercício correto tiraria um minuto da aula. O progresso foi rápido.
- Menino que não parava de falar. A família levou-o ao consultório do psiquiatra, no qual havia uma série de atividades do interesse da criança. Ele ficou encantado com um disparador de espoleta. O médico empregou o seguinte estratagema: toda a vez que ele parava de falar por três segundos, recebia uma espoleta. Quando recebeu pela primeira vez ficou todo animado, mas não tinha a menor idéia do que estava acontecendo. Inconscientemente, percebe que o reforço vem quando pára de falar e, automaticamente, vai aumentando as paradas, dando oportunidade ao interlocutor.
- Filipe, um menino da terceira série, era muito inteligente, mas não fazia a tarefa, estava sempre provocando os colegas, falava demais e era distraído. A professora conversou com ele e descobriu que atividades seriam bons reforçadores para ele. Arranjou um cronômetro silencioso, cuja campainha era bem baixinha e, se nenhuma atividade perturbadora se desse entre as campainhas, ele ganharia um ponto. Tantos pontos, receberia um dos reforços preferidos. Sempre atividades, nunca prêmio em espécie.
- Quando a criança falar palavrão, mandar procurar a palavra no dicionário. Dar sempre o sentido verdadeiro da palavra. Por exemplo: “merda” – dar o significado científico, podendo até resultar numa aula de anatomia e fisiologia do aparelho digestivo.
- Criar uma peça teatral na qual o mesmo aluno passa de filho para pai e deverá dar um parecer sobre um determinado comportamento.
- Com classe de crianças menores, pode-se usar um cartaz contendo os itens a serem observados, onde serão colocadas estrelinhas para avaliação geral da classe. A estrelinha pode ser usada, também, no caderno para a avaliação individual, perguntando-se à criança se ela merece ganhar estrelinha.
- Pode-se usar, também, o quadro com florzinhas onde os bem comportados do dia colocam o miolo central da flor. Ou, então, uma árvore bem alta na qual cada criança coloca a sua flor na altura que achar merecedora.
O importante é que o reforço deve seguir-se imediatamente ao comportamento desejado a fim de ter efeito máximo. A professora que anda pela sala e vai fornecendo reforços adequados, é mais eficaz do que aquela que espera terminar tudo para analisar depois. As apreciações dadas depois de uma semana são, igualmente, ineficazes.
Ponto importante - qualquer atividade preferida pode ser usada para reforçar outra menos preferida. Se gostam de desenhar e não de resolver problemas, o desenho deve ser colocado para após o término de certo número de problemas.
Na escola, devemos trabalhar disciplina com o grupo da classe. Conversar com eles sobre a melhor maneira de organizar a classe, isto desde o Jardim, quando podemos desenhar cartazes exemplificando os comportamentos. Com os maiores, levantar normas e fazer um cartaz com a enumeração dos itens a serem observados.
Pontos a serem considerados na discussão do assunto:
1. Qual a maneira mais adequada de se entrar na sala?
2. Qual a melhor maneira de se escolher auxiliares de classe.
3. Como fazer a limpeza e a arrumação antes de sair?
4. Existe uma maneira boa para a professora lembrar os alunos de que estão fazendo muito barulho?
5. Qual a melhor maneira para fazer a fila?
6. O que devemos fazer para ir ao banheiro, beber água, apontar lápis etc.?
7. Como tratar o lixo?
IMPORTANTE: Deve haver uma avaliação diária, antes de terminar a aula.
Quero chamar a atenção para um ponto importante. Nós trabalhamos em cima do negativo; só se chama a atenção quando se verifica uma falha. Não percebemos os comportamentos certos. Eles são considerados como obrigação da criança. Firmar a idéia de que precisamos reforçar o positivo, ao mesmo tempo em que buscamos técnicas para controlar o negativo.
São recursos possíveis: dar tarefas para os mais levados - como apagar o quadro, levar um recado, distribuir o material. Experimentar andar pela sala e pôr a mão na mesa do bagunceiro. Trocar de carteira.
Pode se fazer uma avaliação com os alunos, com papel mimeografado, com um formulário escrito:
1.Você já conseguiu assumir a sua auto-disciplina e ser responsável pelos seus atos?
Sim________ Não________ Por quê?_____________
2.Você já consegue observar os objetivos levantados pelo grupo?
Sim________ Não________ Por quê?_____________
3. Em que itens você esta falhando?
Certo professor da 4ª. Série organizou uma Sociedade com o nome de CCC - Cortesia - Cooperação - Consideração
- Fizeram um debate sobre o significado de cada item.
- Fizeram um distintivo com as três letras iniciais para ser usado pelos membros da Sociedade.
- Fizeram um estatuto que pode ser baseado em qualquer estatuto existente.
- O fato de pertencer à sociedade já seria um prêmio de bom comportamento.
- O aluno que falhasse seria eliminado pelo Conselho que deveria ser eleito a cada bimestre e só seria readmitido quando julgado apto pelo próprio Conselho.
- Uma das regras seria a de que, quando o professor erguesse três dedos na forma de C a turma deveria organizar-se e manter silêncio.
Quanto possível não levar a disciplina a ferro e fogo. Ter senso de humor. Certa classe fez a caricatura da professora com um nariz grande. Ela, ao entrar na classe, olhou o retrato e, calmamente, alongou ainda mais o nariz. A classe deu risada.
Com crianças mais velhas, discutir com a classe os comportamentos perturbadores. Citar o ato em si mas omitir o nome do aluno.
Deu resultado, colocar no canto do quadro o número de quantos alunos estavam prontos para receber a aula.
Na aula de português colocar como tema para análise qual o seu conceito de disciplina? Você acha disciplina necessária para o desenvolvimento dos trabalhos? O que você entende por disciplina autoritária e autodisciplina?
Ter diálogo com os Pais dos problemáticos. Certas reações escondem problemas emocionais que podem ser solucionados por um psicólogo.
Certos recursos muito usados são ineficientes: - deixar depois da hora - mandar escrever tantas vezes.
Estas iniciativas do adulto aumentam a prevenção e criam o antagonismo.
Ao punir, sempre conversar antes com o aluno e dar uma chance para modificação do comportamento. Pedir a opinião dele sobre seu próprio comportamento.
Não ameaçar. Não exteriorizar raiva. Não aparentar que está tomando atitude por estar nervosa. Isto passaria ume exemplo negativo.
Combinar a sanção com a própria criança.
A punição sem diálogo pode ter as seguintes conseqüências:
- Ou a criança repete escondido.
- Ou deixa de repetir, mas se torna autômato, sem saber a razão de não poder agir de determinada maneira. Tornam-se conformistas .
- Ou criam uma revolta interna que um dia vai explodir, principalmente na juventude.
Para concluir, sugerimos que o professor faça constante auto-avaliação em torno de alguns itens:
1. Qual é a constante de minha atitude interna? Sou bem humorada, sou pessimista, sou deprimida?
2. Será que perco facilmente a paciência?
3. Será que entendo o nível de maturidade de meus alunos?
4. Será que tenho prevenção contra algum deles?
5. Estou satisfeita com a profissão?
6. Qual é minha disposição ao vir para a escola? Ânimo, entusiasmo, encaro como sacerdócio, missão?
Precisamos aprender a isolar problemas internos, dos da realidade profissional. Não é fácil, é, talvez, uma das coisas mais difíceis, mas não existe outro caminho para ter sucesso e alcançar os objetivos da educação.
A criança percebe nossa forma de agir e temos que nos conscientizar de que estamos passando um exemplo de vida para essas crianças que estão sob nossos cuidados.