"FO-HI"
Zélia de Toledo Piza
O livro "I-Ching Iluminado", de Judy Fox e outros, coloca Fo-Hi, pertencente à tradição Chinesa, como tendo vivido há mais de 5.000 anos. Ele escreveu um dos mais antigos livros existentes, o I-Ching. Ele pertenceu ao período histórico dos Três Augustos - Fo-Hi, Chen-Nong e Houang-Ti, ou seja, os Três Houangs, representativos dos três poderes fundamentais - o do Céu, o da Terra e o do Homem.
Àquela época o povo Chinês era um povo nômade, vivendo do pastoreio e começaram observando que havia um ciclo binário na natureza: as alternâncias de luz e sombra, dia e noite, o ciclo natural das estações regulando os trabalhos agrícolas, a vida em comunidades que obedeciam a períodos de atividade e repouso, segundo a posição aparente do sol acima ou abaixo do horizonte.Perceberam as contradições existentes em toda a Natureza: o tempo frio se opondo aos dias quentes e ensolarados, o céu e a terra, a terra e o mar, o macho e a fêmea, o homem e a mulher, o homem e o animal, o animal e o vegetal, o vegetal e o mineral, o orgânico e o inorgânico, o dinâmico e o estático, a vida e a morte... o nascimento contendo o germe da morte e a morte contendo o germe da vida, o dia gerando a noite e a noite gerando o dia ...
Também notaram as relações entre o exterior físico de nossa existência e o interior de nossas almas... Buscando o sentido dessas alternâncias e contradições, diz um texto Chinês: "É observando as normas que a natureza assinala, que o homem adquire a tranqüilidade e a paz; infringindo-as, o seu sensível organismo se desequilibrará levando não só a limitar as suas funções e possibilidades como a desvirtuar a sua nobre missão. Para que o homem mantenha uma relação com o Todo, com a Ordem Universal, é necessário que tenha conhecimento de seu próprio funcionamento e do mundo que o cerca".
A revista Dharana da Sociedade Brasileira de Eubiose, número 12 de l.982, conta o seguinte com base no escritor Louis Chochod, grande estudioso do I-Ching: "Certa vez, o Imperador Fo-Hi, passeando às margens do Rio Amarelo, viu surgir um dragão trazendo em seu dorso um quadro octogonal, contendo Oito Trigramas dispostos em volta de um círculo, metade vermelho e metade preto. A essa simbologia ele deu o nome de Pa-Koua. O Imperador Fo-Hi compreendeu, na sua alta sabedoria, tratar-se de uma Mensagem do Céu, uma resposta às duas constantes indagações. No dragão devemos ver uma simbologia - o mais veloz, o mais poderoso, mais forte, mais potente, mais durável, mais eficiente, mais sábio, podendo existir tanto na Terra, como na Água, no Fogo ou no Ar. Do estudo do Pa-Koua resultou o livro do I-Ching.
Fo-Hi não deu um código de moral definido, mas ressaltou a polaridade existente dentro da alma humana e mostrou que a única forma construtiva é o equilíbrio entre o Bem e o Mal, resultando na Justiça, única forma edificante de ação.
Fo-Hi classificou essas infinitas atividades, as alternâncias e as contradições que a natureza assinala, em duas categorias. Tomou por base o dia e a noite, a luz e as trevas, o calor e o frio, o dinâmico e o estático, o cheio e o vazio como sendo os fatores dominantes na natureza e no homem.
Essas oscilações de atividade, esses dois tempos alternos e complementares que encontramos em todas as coisas e fenômenos, foram designados pelos termos Yin e Yang. Originariamente, o Yin é tudo o que é inerte e o Yang é tudo o que é ativo. Um, o repouso e o outro o movimento.
Com o correr dos tempos, os termos Yin e Yang se generalizaram e foram aplicados a toda a natureza, a todos os setores das atividades humanas por serem considerados o pivô das transformações.
O Yang foi relacionado ao sol, dia, claro, luminoso, vida, despertar, trabalho, alegria, quente, ativo, masculino, positivo, movimento, com o Céu, o Pai, a Energia, a Difusão, o Tempo e, simbolicamente, expresso pelo círculo, pelo número ímpar e pelo sinal ― .
O Yin, com a lua, a noite, trevas, morte, repouso, inatividade, inércia, tristeza, frio, feminino, negativo, receptivo, com a Terra, a Mãe, a Matéria, a Condensação, Limitação, expresso pelo Quadrado, pelo par e pelo sinal - -.
Este dualismo de Fo-Hi não é o mesmo dualismo escolástico das religiões cristãs, que é fixo, imutável, o de que o mal é sempre mal, e o bem sempre bem, e o são por toda a eternidade. Aqui , o Bem gera o Mal; e o Mal , quando atinge sua plenitude, gera o Bem...; a Vida gera a Morte e a Morte gera a Vida... Não há nascimento para coisa alguma mortal no Universo criado e a morte não põe fim a nenhuma existência. Existe, sim, uma difusão e uma condensação.