ACONTECIMENTOS QUE PRECEDERAM A VINDA DE JESUS, O CRISTO
Alcançam Sittin, aquém do Jordão. Estão agora às portas da Terra Prometida. Isto após quase meio século de lutas, privações, sacrifícios, em virtude daquele povo Israelita não haver descoberto o segredo do comportamento interior que os teria levado a alcançar essa Terra de maneira muito mais suave, sem tanto sofrimento e em tempo muito mais curto.
Dai vão espiões até Jericó, sendo que são protegidos pela prostituta Rahab - Josué 2:1. Em Josué 3:1 e 17 e 4:9, lemos sobre a travessia do Jordão. "E, saindo de Sittin, chegaram ao Jordão ... e todo o povo ia passando pelo leito do rio a pé enxuto ... E acamparam em Galgala ao Oriente da cidade de Jericó."
Historiadores afirmam haver, também, explicação para essa passagem a seco. O Jordão não é sustentado normalmente pela quantidade de chuva, que são escassas, mas pelo degelo dos montes que estão à sua cabeceira e que pertencem à cordilheira Hermon. Em virtude desse degelo, é carreada ao longo do rio grande quantidade de material de aluvião. Além disso, é zona sujeita a pequenos terremotos, a erupções vulcânicas, sendo que a última foi em 1.927. Todos esses detritos vão se acumulando em seu leito.
A formação do rio Jordão é curiosa. A queda das águas é extremamente abrupta. As primeiras fontes do rio começam a 1.200 ms. de altitude e, a 520 ms. de altitude, o rio já está formado. Quando ele alcança o lago Hule, está somente a 2 ms. acima do nível do mar: Mais adiante, em Genezaré, desce para 208 ms. abaixo do nível do mar e, quando desemboca no Mar Morto, está a 393 ms. abaixo do nível do mar. O terreno onde se situa o Mar Morto é considerado como uma fenda no solo, pois o seu leito chega a atingir 800 ms. abaixo do nível do mar.
Acontece que o rio Jordão é muito estreito, 10 ms. é o máximo; descreve curvas intermináveis e é pouquíssimo volumoso. Não fosse o grande declive no seu percurso, pois desce 920 ms. em 190 Kms., ele não andaria. Além disso, a água, infiltrando-se por entre os depósitos de aluvião, praticamente paralisa a sua marcha e o lugar abaixo pode permanecer seco por muito tempo. São os conhecidos vaus do rio Jordão. Justamente à altura de Jericó, situa-se o maior de todos eles e sobre o qual, hoje, existe uma ponte. É por aí que cruzam em 1.200 a.C.
Por coincidência, aquele vale por onde atravessaram o rio era fértil, contrastando com o restante da região. Apesar dessa região estar incluída dentro do chamado "Crescente Fértil", ela é na verdade, a não ser bem junto ao Jordão, que quase não se espraia, árida, com chuvas escassas, topografia muito irregular, considerada por muitos geógrafos como região inóspita. A gente sente isto na descrição da penetração do povo pela terra adentro.
Existem colinas constituídas de um material chamado greda, material calcário composto por sílica e argila sobre o qual não cresce vegetação alguma.
Após a passagem do Jordão, o mais extraordinário acontecimento é o da queda das muralhas de Jericó, pela vibração do som, acompanhado de um processo de magia. .
A ordem recebida era a de que a cidade seria cercada durante 6 dias consecutivos, uma vez em cada dia, e 7 sacerdotes tocariam as trombetas de carneiro diante da arca. No sétimo dia, a cidade deveria ser rodeada 7 vezes e os sacerdotes deveriam tocar as trombetas. Na sétima vez que rodeassem a cidade, nesse sétimo dia, assim que os sacerdotes fizessem soar as trombetas, o povo deveria gritar ao mesmo tempo e os muros cairiam.
Josué 6:20 e 24 - "Levantando pois todo o povo a grita, e soando as trombetas... caíram de repente os muros. E cada um subiu pelo lugar que lhe ficava defronte e tomaram a cidade... E puseram fogo à cidade e a tudo o que nela havia".
Fazem uma destruição em massa, mas resguardam Rahab, a prostituta que ajudara aqueles que haviam ido inspecionar o terreno.
Os arqueólogos têm estudado incansável e persistentemente o passado de Jericó. Os restos da cidade encontrados em Tell es Sultão[1], colina onde se encontram as ruínas, mostram camadas da idade do bronze, da pedra, visão das épocas mais antigas e dos primeiros seres tornados sedentários.
A dra. Kathleen, em 1.953, diz: Jericó pode gabar-se de ser a cidade mais antiga do mundo, pelo menos 7.000 anos.
Uma expedição Austro-Alemã, realizada de 1.907 a 1.909, pelo prof. Ernst Sellen e Carl Watzinger, descobriram duas muralhas concêntricas, distantes 3 a 4 metros uma da outra, sendo que a muralha interna está disposta bem ao redor da crista da colina, medindo 3,50 metros de espessura. O cinturão externo mede 2 ms. de largura e 8 a 10 de altura. Toda construída com tijolo seco ao sol. Os arqueólogos localizam sua queda a 1.200 a.C., data exata da entrada de Josué. Nas pesquisas foram encontrados, nos escombros, nítidos vestígios de grande incêndio, madeiras e tijolos carbonizados, cinzas. As casas ao longo do muro aparecem queimadas, tal como afirma a Bíblia.
Após a queda de Jericó, a conquista prossegue vagarosamente, pois os cananeus, nativos, dominados pelos egípcios, estavam muito fortificados. Vão se assenhoreando das colinas e vales estéreis. Acontece que, ao mesmo tempo em que o povo Israelita penetrava pelo leste, pelo oeste chegavam os filisteus, povo relacionado com os Pelasgos e com os dórios, populações primitivas da Grécia e procedentes das ilhas do Mar Egeu. O avanço desses imigrantes tinha por objetivo Canaan e Egito. Eram muito bem organizados e muito mais fortes, pois já empregavam escudos e espadas de bronze, carro puxado a boi e ainda vinham por terra e por mar. Ocupam imediatamente a Ilha de Chipre.
A penetração desse povo filisteu se deu, por terra, pelo Mar de Mármara, ao norte da atual Turquia. Desbaratam a fortaleza de Chattusa, no rio Halys, pilham as minas de prata de Tarso e, com isso, o império dos Hititas se extingue. Cai a Fenícia.
Um grupo penetra na Síria, atingindo Carquemis no Eufrates e outro grupo desce pelo oeste em direção ao sul.. Os fugitivos espalhavam noticias apavorantes e os filisteus avançavam, incendiando e destruindo fortificações após fortificações dos cananeus, ao longo da Terra de Canaan e só foram detidos por Ramsés III, ao tentarem penetrar no Egito.
Toda essa região, desde 1.550 a.C., época da expulsão dos Hicsos[2] do Egito, se constituíra em província egípcia, mas o Egito pouco se interessava por ela, senão para cobrar impostos e tributos, o que era feito por comissários corruptos e malvados. Gaza e Joppe, que hoje é Jaffa, eram centros da administração egípcia. Os habitantes da região, vindos de um sistema patriarcal desde Abraão, estavam agora num regime feudal, onde os senhores eram egípcios abastados e a população permanecia na miséria. Apesar de suas fortificações, o povo cananeu, de uma maneira geral, já estava esgotado e enfraquecido, mesmo antes da invasão dos filisteus. A Síria mantinha-se mais ilesa, protegida pelas cordilheiras do Líbano.
Os israelitas contemplam tudo isso impávidos, pois o que cai são fortificações dos cananeus, o povo que os impedia de se estabelecerem.
Assim que os filisteus sofrem a derrota nas mãos de Ramsés III, os israelitas se aproveitam da desorganização interna e vão tomando posições por toda parte, sendo recebidos com agrado pelo povo oprimido.
Começa, assim, a formar-se o país que se chamaria Palestina, nome que vem de Filistia - terra dos filisteus.
Moisés, antes de sua morte, determina que as tribos de Ruben, Gaad e metade da de Manassés, ficariam a leste do Jordão, nas terras conquistadas aos Amorreus e ao reino de Basan - Números 34:13. Quando se firmasse a conquista a oeste do Jordão, as terras seriam divididas entre as nove e meia tribos restantes, por sorteio - livro de Josué 13 a 21. É interessante que, ao ler os nomes das tribos, nota-se que faltam os nomes de José e Levi na distribuição das terras. A descendência de José crescera tanto que fora dividida em duas casas - Efraim e Manassés - esta, por sua vez proliferara tanto que fora necessário receber duas porções. E Levi, Deuteronômio 18:1 - "Os sacerdotes levitas, toda a tribo de Levi, não terão parte nem herança em Israel. O povo (as outras tribos) dar-lhes-á das primícias de seu grão, de seu mosto, do azeite e da tosquia de suas ovelhas” e, também, em Números 8 esse dado é confirmado, para que os da tribo de Levi pudessem dedicar-se integralmente ao ministério de Javé ou Jeovah. Eles e os da casa de Araão haviam conduzido o Tabernáculo e a Arca da Aliança através do deserto e, para conduzi-los, era necessário iniciação. Aqueles que os tocassem sem conhecer as fórmulas, morreriam -.I Crônicas 13:9-10.
Os israelitas se fixam em vários pontos, mas continuam sendo hostilizados pelos nativos e sobretudo pelos filisteus que se haviam estabelecido ao sul e ao norte. Por esta razão, após anos sob a direção dos Juízes[3], que eram mais do que chefes religiosos, pois haviam empreendido grandes conquistas como ao tempo de Débora[4], contra os cananeus; de Gedeão[5], contra os Madianitas[6] com seus camelos e as do tempo de Sansão[7], o povo israelita sente a necessidade de um rei para unificá-los. Apesar de Samuel, o último dos Juízes, exortá-los no sentido de que a mudança do governo teocrático para o de reinado era perigoso, porque o indivíduo, investido do poder, passa a ser vaidoso e opressivo, não houve alternativa para Samuel senão escolher Saul, da tribo de Benjamin, para ser o primeiro rei, de 1.035 a 1.015 a.C.
O reino nessa ocasião não tinha acesso ao mar. Ao norte e ao sul do litoral habitavam os filisteus e, no meio, os cananeus.
Saul desobedece às ordens do Senhor - Samuel 16:14 - "E o espírito do Senhor se retirou de Saul e o atormentava um espírito mau da parte do Senhor" - mas Samuel tem pena de depô-lo. Atormentado pelo espírito, permanece continuamente insatisfeito e inquieto. Saul expede ordens para que tragam a sua presença os tocadores de harpa, pois só a música o acalmava. É assim que Davi, que já fora escolhido por Deus através de Samuel, vem parar dentro do palácio real, como pajem de Saul.
Finalmente, Saul é ferido em luta contra os filisteus. Vendo que não havia salvação para sua vida e vendo que seu escudeiro se recusava em exterminar-lhe a vida, ele mesmo, em 1015, se trespassa com a própria espada.
Davi que, a essa altura, já matara o gigante Filisteu Golias, é eleito rei e estabelece Jerusalém como capital. Juízes 13:1 - "Mas os filhos de Israel tornaram a fazer o mal na presença do Senhor e ele os entregou nas mãos dos filisteus por 40 anos, dos quais se libertam com Davi".
Davi governa de 1.015 a 975 a.C. Une as 12 tribos. Já bem velho, após 40 anos de reinado, nomeia seu filho Salomão como sucessor e morre em 970 a.C.
Com Salomão, que governou de 970 a 931 a.C., a Palestina vive o seu máximo esplendor, que pouco durou, pois foi ele o último rei de Israel. A opulência do seu reinado, a construção do palácio, do templo com todo o material importado - ouro, prata, bronze, cedro - sobrecarregam o povo com impostos. Em I Reis 6 e 7 podemos ler a descrição de toda essa grandiosidade de Salomão. No final de seu reinado cedeu, ao rei da Fenícia, 20 cidades para pagar dívidas e ofereceu trabalhos forçados. Cada 3 meses, 30.000 israelitas iam à Fenícia trabalhar nas florestas e minas de Hirão, conhecido como rei do Tyro, capital da Fenícia. Morreu a 931 a.C. As 10 tribos do norte se recusam a submeter-se a Roboão seu filho e aceitam a direção do separatista Jeroboão. Surgem, então, os dois reinos - Judá e Israel (II Chronicas - 10). Judá constituída pelas tribos de Judá e Benjamin, ao sul, e Israel constituída pelas 10 tribos do norte. No reino do norte, Israel, com capital em Samária, existia fausto e mantinha aparência sobremaneira cosmopolita. Ao sul, Judá, com capital em Jerusalém, viviam, na maioria, pastores leais à religião dos antepassados.
É da tribo de Judá que emerge a linhagem de Jesus.
[1] Tell - É prefixo usado pelos arqueólogos no estudo de ruínas de cidades que eram sempre construídas sobre colinas.
[2] Hicsos - Povo nômade que, descendo da Síria, se instalou no Egito e, de tal forma dominaram os nativos, que se fizeram coroar reis durante 200 anos. Designaram Avaris como capital. Avaris é que tomou, mais tarde, o nome de Ramsés cidade de onde os israelitas saíram com Moisés.
[3] Juízes - Chefes supremos dos israelitas desde Moisés até a instituição da realeza por Samuel. Tinham autoridade pouco mais que religiosa.
[4] Débora - Guerreira, profetisa e juíza em Israel que, ao lado de Baraque, levou o exército de seu povo à vitória contra os cananeus. A descrição aparece na Bíblia, em Juízes 5.
[5] Gedeão - Juiz de Israel por volta do século X a.C. Venceu os Madianitas. Instado para ser rei, disse: "Nem eu nem meu filho seremos reis sobre vós; Deus será nosso rei". Juízes 8:23.
[6] Madianitas - Antigo povo nômade da Arábia e que habitava as terras compreendidas entre o Sinai e a região de Moab a leste do Mar Morto.
[7] Sansão - Um dos Juízes de Israel no século XII a.C. Luta desde jovem contra os filisteus. Com sabor de lenda, diz a tradição que Dalila corta-lhe os cabelos, ele perde as forças e é entregue aos filisteus que o cegam. Quando cresce o cabelo, derruba, com a força dos braços, as colunas do templo onde estavam os filisteus e morre com eles.