1ª. PARTE

ACONTECIMENTOS QUE PRECEDERAM A VINDA DE JESUS, O CRISTO

 

 

CAPÍTULO III

- A ENTRADA NA TERRA PROMETIDA

 

Alcançam Sittin, aquém do Jordão. Estão agora às portas da Terra Prometida. Isto após quase meio século de lutas, privações, sacrifícios, em virtude daquele povo Israelita não haver descoberto o segredo do comportamento interior que os teria levado a alcançar essa Terra de maneira muito mais suave, sem tanto sofrimento e em tempo muito mais curto.

Dai vão espiões até Jericó, sendo que são protegidos pela prostituta Rahab - Josué 2:1. Em Josué 3:1 e 17 e 4:9, lemos sobre a travessia do Jordão. "E, saindo de Sittin, chegaram ao Jordão ... e todo o povo ia passando pelo leito do rio a pé enxuto ... E acamparam em Galgala ao Oriente da cidade de Jericó."

Historiadores afirmam haver, também, explicação para essa passagem a seco. O Jordão não é sustentado normalmente pela quantidade de chuva, que são escassas, mas pelo degelo dos montes que estão à sua cabeceira e que pertencem à cordilheira Hermon. Em virtude desse degelo, é carreada ao longo do rio grande quantidade de material de aluvião. Além disso, é zona sujeita a pequenos terremotos, a erupções vulcânicas, sendo que a última foi em 1.927. Todos esses detritos vão se acumulando em seu leito.

A formação do rio Jordão é curiosa. A queda das águas é extremamente abrupta. As primeiras fontes do rio começam a 1.200 ms. de altitude e, a 520 ms. de altitude, o rio já está formado. Quando ele alcança o lago Hule, está somente a 2 ms. acima do nível do mar: Mais adiante, em Genezaré, desce para 208 ms. abaixo do nível do mar e, quando desemboca no Mar Morto, está a 393 ms. abaixo do nível do mar. O terreno onde se situa o Mar Morto é considerado como uma fenda no solo, pois o seu leito chega a atingir 800 ms. abaixo do nível do mar.

Acontece que o rio Jordão é muito estreito, 10 ms. é o máximo; descreve curvas intermináveis e é pouquíssimo volumoso. Não fosse o grande declive no seu percurso, pois desce 920 ms. em 190 Kms., ele não andaria. Além disso, a água, infiltrando-se por entre os depósitos de aluvião, praticamente paralisa a sua marcha e o lugar abaixo pode permanecer seco por muito tempo. São os conhecidos vaus do rio Jordão. Justamente à altura de Jericó, situa-se o maior de todos eles e sobre o qual, hoje, existe uma ponte. É por aí que cruzam em 1.200 a.C.

Por coincidência, aquele vale por onde atravessaram o rio era fértil, contrastando com o restante da região. Apesar dessa região estar incluída dentro do chamado "Crescente Fértil", ela é na verdade, a não ser bem junto ao Jordão, que quase não se espraia, árida, com chuvas escassas, topografia muito irregular, considerada por muitos geógrafos como região inóspita. A gente sente isto na descrição da penetração do povo pela terra adentro.

Existem colinas constituídas de um material chamado greda, material calcário composto por sílica e argila sobre o qual não cresce vegetação alguma.

Após a passagem do Jordão, o mais extraordinário acontecimento é o da queda das muralhas de Jericó, pela vibração do som, acompanhado de um processo de magia. .

A ordem recebida era a de que a cidade seria cercada durante 6 dias consecutivos, uma vez em cada dia, e 7 sacerdotes tocariam as trombetas de carneiro diante da arca. No sétimo dia, a cidade deveria ser rodeada 7 vezes e os sacerdotes deveriam tocar as trombetas. Na sétima vez que rodeassem a cidade, nesse sétimo dia, assim que os sacerdotes fizessem soar as trombetas, o povo deveria gritar ao mesmo tempo e os muros cairiam.

Josué 6:20 e 24 - "Levantando pois todo o povo a grita, e soando as trombetas...  caíram de repente os muros. E cada um subiu pelo lugar que lhe ficava defronte e tomaram a cidade... E puseram fogo à cidade e a tudo o que nela havia".

Fazem uma destruição em massa, mas resguardam Rahab, a prostituta que ajudara aqueles que haviam ido inspecionar o terreno.

Os arqueólogos têm estudado incansável e persistentemente o passado de Jericó. Os restos da cidade encontrados em Tell es Sultão[1], colina onde se encontram as ruínas, mostram camadas da idade do bronze, da pedra, visão das épocas mais antigas e dos primeiros seres tornados sedentários.

A dra. Kathleen, em 1.953, diz: Jericó pode gabar-se de ser a cidade mais antiga do mundo, pelo menos 7.000 anos.

Uma expedição Austro-Alemã, realizada de 1.907 a 1.909, pelo prof. Ernst Sellen e Carl Watzinger, descobriram duas muralhas concêntricas, distantes 3 a 4 metros uma da outra, sendo que a muralha interna está disposta bem ao redor da crista da colina, medindo 3,50 metros de espessura. O cinturão externo mede 2 ms. de largura e 8 a 10 de altura. Toda construída com tijolo seco ao sol. Os arqueólogos localizam sua queda a 1.200 a.C., data exata da entrada de Josué. Nas pesquisas foram encontrados, nos escombros, nítidos vestígios de grande incêndio, madeiras e tijolos carbonizados, cinzas. As casas ao longo do muro aparecem queimadas, tal como afirma a Bíblia.

Após a queda de Jericó, a conquista prossegue vagarosamente, pois os cananeus, nativos, dominados pelos egípcios, estavam muito fortificados. Vão se assenhoreando das colinas e vales estéreis. Acontece que, ao mesmo tempo em que o povo Israelita penetrava pelo leste, pelo oeste chegavam os filisteus, povo relacionado com os Pelasgos e com os dórios, populações primitivas da Grécia e procedentes das ilhas do Mar Egeu. O avanço desses imigrantes tinha por objetivo Canaan e Egito. Eram muito bem organizados e muito mais fortes, pois já empregavam escudos e espadas de bronze, carro puxado a boi e ainda vinham por terra e por mar. Ocupam imediatamente a Ilha de Chipre.

A penetração desse povo filisteu se deu, por terra, pelo Mar de Mármara, ao norte da atual Turquia. Desbaratam a fortaleza de Chattusa, no rio Halys, pilham as minas de prata de Tarso e, com isso, o império dos Hititas se extingue. Cai a Fenícia.

Um grupo penetra na Síria, atingindo Carquemis no Eufrates e outro grupo desce pelo oeste em direção ao sul.. Os fugitivos espalhavam noticias apavorantes e os filisteus avançavam, incendiando e destruindo fortificações após fortificações dos cananeus, ao longo da Terra de Canaan e só foram detidos por Ramsés III, ao tentarem penetrar no Egito.

Toda essa região, desde 1.550 a.C., época da expulsão dos Hicsos[2] do Egito, se constituíra em província egípcia, mas o Egito pouco se interessava por ela, senão para cobrar impostos e tributos, o que era feito por comissários corruptos e malvados. Gaza e Joppe, que hoje é Jaffa, eram centros da administração egípcia. Os habitantes da região, vindos de um sistema patriarcal desde Abraão, estavam agora num regime feudal, onde os senhores eram egípcios abastados e a população permanecia na miséria. Apesar de suas fortificações, o povo cananeu, de uma maneira geral, já estava esgotado e enfraquecido, mesmo antes da invasão dos filisteus. A Síria mantinha-se mais ilesa, protegida pelas cordilheiras do Líbano.

Os israelitas contemplam tudo isso impávidos, pois o que cai são fortificações dos cananeus, o povo que os impedia de se estabelecerem.

Assim que os filisteus sofrem a derrota nas mãos de Ramsés III, os israelitas se aproveitam da desorganização interna e vão tomando posições por toda parte, sendo recebidos com agrado pelo povo oprimido.

Começa, assim, a formar-se o país que se chamaria Palestina, nome que vem de Filistia - terra dos filisteus.

Moisés, antes de sua morte, determina que as tribos de Ruben, Gaad e metade da de Manassés, ficariam a leste do Jordão, nas terras conquistadas aos Amorreus e ao reino de Basan - Números 34:13. Quando se firmasse a conquista a oeste do Jordão, as terras seriam divididas entre as nove e meia tribos restantes, por sorteio - livro de Josué 13 a 21. É interessante que, ao ler os nomes das tribos, nota-se que faltam os nomes de José e Levi na distribuição das terras. A descendência de José crescera tanto que fora dividida em duas casas - Efraim e Manassés - esta, por sua vez proliferara tanto que fora necessário receber duas porções. E Levi, Deuteronômio 18:1 - "Os sacerdotes levitas, toda a tribo de Levi, não terão parte nem herança em Israel. O povo (as outras tribos) dar-lhes-á das primícias de seu grão, de seu mosto, do azeite e da tosquia de suas ovelhas” e, também, em Números 8 esse dado é confirmado, para que os da tribo de Levi pudessem dedicar-se integralmente ao ministério de Javé ou Jeovah. Eles e os da casa de Araão haviam conduzido o Tabernáculo e a Arca da Aliança através do deserto e, para conduzi-los, era necessário iniciação. Aqueles que os tocassem sem conhecer as fórmulas, morreriam -.I Crônicas 13:9-10.

Os israelitas se fixam em vários pontos, mas continuam sendo hostilizados pelos nativos e sobretudo pelos filisteus que se haviam estabelecido ao sul e ao norte. Por esta razão, após anos sob a direção dos Juízes[3], que eram mais do que chefes religiosos, pois haviam empreendido grandes conquistas como ao tempo de Débora[4], contra os cananeus; de Gedeão[5], contra os Madianitas[6] com seus camelos e as do tempo de Sansão[7], o povo israelita sente a necessidade de um rei para unificá-los. Apesar de Samuel, o último dos Juízes, exortá-los no sentido de que a mudança do governo teocrático para o de reinado era perigoso, porque o indivíduo, investido do poder, passa a ser vaidoso e opressivo, não houve alternativa para Samuel senão escolher Saul, da tribo de Benjamin, para ser o primeiro rei, de 1.035 a 1.015 a.C.

O reino nessa ocasião não tinha acesso ao mar. Ao norte e ao sul do litoral habitavam os filisteus e, no meio, os cananeus.

Saul desobedece às ordens do Senhor - Samuel 16:14 - "E o espírito do Senhor se retirou de Saul e o atormentava um espírito mau da parte do Senhor" - mas Samuel tem pena de depô-lo. Atormentado pelo espírito, permanece continuamente insatisfeito e inquieto. Saul expede ordens para que tragam a sua presença os tocadores de harpa, pois só a música o acalmava. É assim que Davi, que já fora escolhido por Deus através de Samuel, vem parar dentro do palácio real, como pajem de Saul.

Finalmente, Saul é ferido em luta contra os filisteus. Vendo que não havia salvação para sua vida e vendo que seu escudeiro se recusava em exterminar-lhe a vida, ele mesmo, em 1015, se trespassa com a própria espada.

Davi que, a essa altura, já matara o gigante Filisteu Golias, é eleito rei e estabelece Jerusalém como capital. Juízes 13:1 - "Mas os filhos de Israel tornaram a fazer o mal na presença do Senhor e ele os entregou nas mãos dos filisteus por 40 anos, dos quais se libertam com Davi".

Davi governa de 1.015 a 975 a.C. Une as 12 tribos. Já bem velho, após 40 anos de reinado, nomeia seu filho Salomão como sucessor e morre em 970 a.C.

Com Salomão, que governou de 970 a 931 a.C., a Palestina vive o seu máximo esplendor, que pouco durou, pois foi ele o último rei de Israel. A opulência do seu reinado, a construção do palácio, do templo com todo o material importado - ouro, prata, bronze, cedro - sobrecarregam o povo com impostos. Em I Reis 6 e 7 podemos ler a descrição de toda essa grandiosidade de Salomão. No final de seu reinado cedeu, ao rei da Fenícia, 20 cidades para pagar dívidas e ofereceu trabalhos forçados. Cada 3 meses, 30.000 israelitas iam à Fenícia trabalhar nas florestas e minas de Hirão, conhecido como rei do Tyro, capital da Fenícia. Morreu a 931 a.C. As 10 tribos do norte se recusam a submeter-se a Roboão seu filho e aceitam a direção do separatista Jeroboão. Surgem, então, os dois reinos - Judá e Israel (II Chronicas - 10). Judá constituída pelas tribos de Judá e Benjamin, ao sul, e Israel constituída pelas 10 tribos do norte. No reino do norte, Israel, com capital em Samária, existia fausto e mantinha aparência sobremaneira cosmopolita. Ao sul, Judá, com capital em Jerusalém, viviam, na maioria, pastores leais à religião dos antepassados.

É da tribo de Judá que emerge a linhagem de Jesus.

 


[1] Tell - É prefixo usado pelos arqueólogos no estudo de ruínas de cidades que eram sempre construídas sobre colinas.

[2] Hicsos - Povo nômade que, descendo da Síria, se instalou no Egito e, de tal forma dominaram os nativos, que se fizeram coroar reis durante 200 anos. Designaram Avaris como capital. Avaris é que tomou, mais tarde, o nome de Ramsés cidade de onde os israelitas saíram com Moisés.

[3] Juízes - Chefes supremos dos israelitas desde Moisés até a instituição da realeza por Samuel. Tinham autoridade pouco mais que religiosa.

[4] Débora - Guerreira, profetisa e juíza em Israel que, ao lado de Baraque, levou o exército de seu povo à vitória contra os cananeus. A descrição aparece na Bíblia, em Juízes 5.

[5] Gedeão - Juiz de Israel por volta do século X a.C. Venceu os Madianitas. Instado para ser rei, disse: "Nem eu nem meu filho seremos reis sobre vós; Deus será nosso rei". Juízes 8:23.

[6] Madianitas - Antigo povo nômade da Arábia e que habitava as terras compreendidas entre o Sinai e a região de Moab a leste do Mar Morto.

[7] Sansão - Um dos Juízes de Israel no século XII a.C. Luta desde jovem contra os filisteus. Com sabor de lenda, diz a tradição que Dalila corta-lhe os cabelos, ele perde as forças e é entregue aos filisteus que o cegam. Quando cresce o cabelo, derruba, com a força dos braços, as colunas do templo onde estavam os filisteus e morre com eles.

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