ACONTECIMENTOS QUE PRECEDERAM A VINDA DE JESUS, O CRISTO
Esses dois reinos caminham em paralelo por 200 anos, apesar de terem sido anos extremamente agitados, anos de incompatibilidades.
A situação social e econômica apresentava, àquela época, o seguinte quadro. O grande fausto do reinado de Salomão - 200 esposas, 300 concubinas, 4.000 cavalos, palácio riquíssimo etc. - começa a despertar o povo para a realidade das diferenças de classe. O povo encontra um referencial para medir a sua miséria.
Salomão, tal como aconteceria mais tarde com Pedro, o Grande, e com Lenine, fez o país passar muito rapidamente do estágio agrícola para o industrial e, também, para o comercial. As comunicações com os países vizinhos se ampliaram e, aquelas numerosas caravanas que iam em busca do material importado para as construções de Salomão traziam outros materiais, gêneros de quinquilharias, o que veio provocando o surgimento de uma grande quantidade de bazares, bem como de oportunidades para o comércio.
Salomão mantinha ótimas relações com Hirão, rei do Tiro e animou os mercadores Fenícios a passarem com suas caravanas pela Palestina, cobrando naturalmente uma taxa. Construiu uma frota no Mar Vermelho e persuadiu Hirão a utilizar-se dela, ao invés de passar pelo Egito em seu comércio com a Arábia e a África. Com isso, incrementou a troca de produtos agrícolas com coisas manufaturadas de Tiro e Sidon. Todo esse tráfego pela Palestina estimulava o comércio.
Por outro lado, o preparo do material para as construções fez surgir grande número de indústrias.
Após manter o país dentro desta estrutura que começava a firmar-se pois já vinha se processando há 20 anos, a morte de Salomão, em 930 a.C., provoca uma verdadeira comoção sócio-econômica.
O proletariado, não conseguindo mais encontrar trabalho, porque as construções é que geravam a necessidade de mão de obra, torna-se insatisfeito. Ao mesmo tempo, o comércio decai, uma vez que praticamente cessam as caravanas devido à confusão que se seguiu.
Esta situação de desemprego e desequilíbrio interno torna o ambiente propício ao aparecimento da corrupção, das explorações de toda a natureza, metabolismo que iríamos ver repetir-se inúmeras vezes dentro da história, como no caso de Roma mais tarde. Os grandes proprietários, os mercadores, os negociantes postavam-se ao redor do templo, dando tratos à criatividade, engendrando meios de explorar o povo.
Esta nítida e aparente separação entre os mais favorecidos e os mais necessitados, bem como o afluxo para as cidades e o abandono do campo, fenômeno que sempre se segue à industrialização, teve grande influência na divisão da Palestina nestes dois reinos que permaneceram hostis durante todos os 200 anos de vida paralela, sendo que, muitas vezes, engolfando-se em lutas cruéis.
O ódio que surgiu entre estes dois reinos muito concorreu para enfraquecer e para complicar o relacionamento político com os países vizinhos. Foi nesta atmosfera de desastre político, de confusão econômica e degenerescência religiosa que começaram surgindo os profetas.
A realidade moral desta época é bem descrita numa sentença de Amoz, um dos profetas menores: "Os Senhorios de Efraim (nome dado a Israel) por prata vendiam o justo e por um par de sapatos, vendiam o pobre". Amoz viveu em meados do século VIII, no reinado de Jeroboão II, que foi rei de Israel de 783 a 743 a.C., e em cujo governo Israel começou a sua recuperação. Este mesmo profeta emite uma das mais amargas profecias sobre Israel, onde o povo se tornara mundano, acostumados à vida urbana e cheia de facilidades: "Assim diz o Senhor. Como o pastor só consegue livrar da boca do leão pequenos pedaços de sua ovelha, assim serão livrados os filhos de Israel que, em Samária, se assentam no ângulo de um leito e sobre as almofadas de seda de uma cama ... as casas de marfim perecerão e as grandes casas terão um fim".
O profeta Oséias diz: "O bezerro da Samária será feito em pedaços porque quem semeia ventos, colhe tempestades". Na verdade, Jeroboão I mandara moldar dois bezerros de ouro e incitara o povo a adorá-los, como estratagema para que se esquecessem de Jehovah, o Deus dos Hebreus.
Lendo o livro de Chronicas, na Bíblia, percebe-se perfeitamente como, aos poucos, os homens vão se afastando dos desígnios propostos como missão. Ora é o povo que se afasta, ora são os dirigentes que falham.
Roboão, por exemplo, ao assumir o Reino de Judá, poderia ter mantido o povo unido para, num esforço supremo, neutralizar os impulsos desequilibrantes que haviam sido lançados anteriormente e levar aquele povo ao cumprimento específico de sua missão, que era o preparo de uma civilização para a vinda de Jesus. Mas quando o povo de Judá lhe suplicou que os livrasse do pesado jugo que Salomão lançara sobre eles, Roboão, contra a opinião dos anciãos, respondeu: "Meu Pai vos castigou com açoites, porém eu vos castigarei com escorpiões". Isto se encontra no livro de Chronicas 10:4 a 11.
Por volta de 900 a.C., começa se levantando a leste o Império Assírio.
Amri, ou Omri, rei de Israel de 882 a 871 a.C., percebendo que seu país começa a ser cobiçado pela Assíria, que estava sendo governada por Assurbanipal II, compra a colina de Gerizim e aí constrói a capital fortificada, dando à cidade o nome de Samária, mais tarde Sebaste e, hoje, Nablus.
Finalmente, entre as muitas desgraças geradas pela inimizade alimentada por estes dois reinos, em 733 a.C., o reino de Judá, ameaçado por Israel, que andava de aliança com a Síria[1] , apela para a Assíria. A Assíria, que já tentara tantas outras vezes contra Israel, vem pressurosa, toma Damasco, sujeitando a Síria, toma Tiro e marcha para o sul, tomando toda a Palestina, inclusive o próprio reino de Judá, que pedira auxílio. Obriga todos os vencidos a pagarem tributo. Deixando toda essa região sob controle tributário, Salmanazar V volta para a Assíria, aparentemente satisfeito com o que havia realizado.
Judá, porém, percebendo a enrascada em que se metera, busca aliança com o Egito. Assim que Salmanazar V tem notícia dessa aliança, volta com fúria redobrada, isso no ano 722 a.C. Ao completar o cerco de Samária, porém, morre. Seu irmão, que comandava as tropas como primeiro general, reivindicando descendência de Sargão I, que governara 2.000 anos antes, apossa-se da coroa e se faz coroar rei pelas tropas que lutavam, adotando o nome de Sargão II e governa de 722 a 705 a.C. Completa a conquista de Samária onde reinava Oséias, não o profeta, e avança para o sul mas não consegue tomar Judá, onde já reinava Ezequias. Jerusalém resiste e ele retrocede. Em represália, porém, arrasa Samária, arregimenta toda a população e espalha-a por toda a extensão do império Assírio, com a finalidade de que perdessem sua identidade como povo. São as 10 tribos perdidas de Israel[2]. Em lugar da população Israelita, trazem para o Reino de Israel grupos de colonos vindos de cidades da Assíria e que se constituíram nos ancestrais dos Samaritanos dos tempos de Jesus. Em IV Reis 17:24, lemos: "E o rei dos Assírios mandou vir gente de Babilônia e de Cuta e de Ava e de Emat e de Sefarvaim e pô-los nas cidades da Samária em lugar dos filhos de Israel e eles possuíram a Samária e habitaram suas cidades".
O reino de Judá sobrevive por mais 100 anos, fiel à tradição de Jehovah, apesar das tremendas lutas que teve de enfrentar.
Ezequias pressente o final dos tempos para Judá. Na verdade, em luta contra Senaquerib, rei da Assíria (705-681 a.C.), filho e sucessor de Sargão II, ao serem derrotados, os judeus são obrigados a pagar altos tributos. Após sofrimentos incalculáveis, nas mãos da Natureza e dos homens, pois foi teatro de terremotos, sofreu 20 cercos, 18 destruições e reconstruções, 6 vezes foi obrigada a mudar de religião, incontáveis vezes o povo foi escravizado por outras nações e, outras tantas, vendidos como escravos, finalmente, no ano 586 a.C., Nabucodonosor II, dando início ao segundo Império Caldeu[3], domina toda a Ásia, invade Judá, destrói o Templo de Jerusalém no Monte Sião e realiza uma das maiores pilhagens da história. Não satisfeito com a imensa riqueza que abarrotava seus carros de guerra, Nabucodonosor carrega toda a população para o cativeiro de 47 anos, inclusive o próprio rei Joaquim.
Por causalidade curiosa, este povo cativo é conduzido para as bandas da Babilônia, na Caldéia, terra de onde, 2.000 anos antes, Abraão saíra, sem destino, em busca da terra prometida por Deus, a terra de Canaan e dera origem ao povo Hebreu, que passou a ser Israelita e que, agora, se tornava Judeu.
Em meio ao desespero da caminhada para o cativeiro, impotentes para qualquer tipo de resistência, surge uma das belas paginas da literatura judaica:
“Junto aos rios da Babilônia,
Ali nos pusemos a chorar com o pensamento em Sião.
Nos salgueiros existentes penduramos nossas harpas,
Pois, aqueles que nos levavam cativos nos pediam canções.
E os nossos atormentadores nos exigiam alegria dizendo:
Cantai-nos uma das canções do Sião!
Mas como poderíamos nós cantar a canção de Jehovah
Em terra de estrangeiros?
Se eu me esquecer de ti, Jerusalém,
Esqueça a minha mão direita a sua destreza.
Apegue-se-me a língua ao céu da boca
Se eu não me lembrar de ti,
Se eu não preferir Jerusalém à minha maior alegria.”
No exílio, o profeta Isaias prediz o aparecimento de um rei Persa que libertaria o povo Judeu. Apesar desta profecia, a entrada de Ciro II, o Grande, na Babilônia, no ano 539 a.C., foi um momento dramático para os Judeus. Seria ou não seria o cumprimento da profecia?:
Ciro, porém, era um desses reis verdadeiramente natos, era, como disse um historiador, rei no espírito e rei na ação. Sumamente generoso para com os vencidos, acabava conquistando política e afetivamente seus ex-adversários. Todos os povos o amaram.
É um bocado emocionante a gente ler em Esdras 6:4 e 5: "E que as despesas sejam feitas pela casa do Rei. E que também os vasos de ouro e prata que Nabucodonosor retirou do Templo de Jerusalém e transportou para a Babilônia, sejam restituídos e reconduzidos para o templo de Jerusalém, para o seu devido lugar, e que sejam recolocados no Templo de Deus".
[1] Síria – Os Arameus eram um povo nômade que, ao redor de 1.500 a.C., conquistaram terrenos que vieram a ser mais tarde a Mesopotâmia e a Síria. Sua língua, o aramaico, teve influência cultural entre os Assírios desde 700 a.C. até 700 d.C. Foi muito empregada na literatura religiosa. Depois, essa língua passa para o controle dos maometanos.
[2] Veja,nos adendos, descrição da “Dispersão dos judeus”, conhecida como “Diáspora” e do “Regresso dos judeus para formação de uma nova pátria”.
[3] Caldéia - Denominação dada a uma região na baixa Mesopotâmia. Os Caldeus, seus habitantes, tentavam continuamente invadir a alta Mesopotâmia. Finalmente, em 625 a.C., com Nabopolasar, penetram no Império Assírio. Mais tarde, com o auxílio dos persas, também denominados Medas, em 612 a.C., os Caldeus decretam a queda do Império Assírio e, em 586 a.C., com Nabucodonosor II subjugam a Judéia.