Lucas 2:1 a 5 - “E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto para que todo o mundo se alistasse. Este primeiro alistamento foi feito sendo Cirênio governador da Síria. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. E subiu também José, da Galiléia, da cidade de Nazareth, à Judéia, à cidade de David, chamada Bethlehem, porque era da casa e família de David, a fim de alistar-se com Maria, sua mulher, que estava grávida".
Na verdade, o recenseamento não era novidade. Desde tempos bem remotos realizava-se o recenseamento com duas finalidades: saber com quantas pessoas contavam para o serviço das armas e para se organizarem na cobrança dos impostos, dinheiro que servia ao grande luxo e luxúria da vida administrativa de Roma e, também, para o "pão e circo" com os quais procuravam amortecer a consciência do povo. As arenas eram construídas por escravos, à custa dos tributos dos povos subjugados.
Em que tempo se deu esse recenseamento? A história sabe que Cirênio, governador da Síria, também conhecido como Cirino, é o mesmo Senador Publius Sulpicius Quirinius, nome com o qual aparece nos documentos romanos. Através de registros históricos, constata-se que Cirino foi para a Síria, como legado, no ano 6 da nossa era, tendo, na mesma época, ido Capônio como primeiro procurador da Judéia. Os dois realizaram recenseamento entre 6 e 7 da nossa era, portanto, esse não poderia ser o mencionado por Lucas, pois se dera depois da época aceita como a do nascimento de Jesus. Teria S. Lucas cometido algum engano?
Ninguém tinha uma resposta até que, para surpresa de todos, um fragmento de inscrição romana, encontrado em Antioquia, registra claramente a presença de Cirino na Síria, como legado do Imperador Augusto César e isso na época do procônsul Saturnino. Todavia, ainda não era nada esclarecedor, pois a data em que Saturnino foi procônsul situa-se entre 10 e 7 a.C. Também não coincidia com a data que vem sendo aceita para o nascimento de Jesus.
A Bíblia afirma sem sombra de dúvida, em Matheus 2:1, que Jesus nasceu ao tempo do rei Herodes. A biografia de Herodes, o Grande (73-49 a.C.), aquele que ordenara o massacre das crianças recém-nascidas, está completamente desvendada para os estudiosos contemporâneos. Nomeado por Marco Antônio em 40 a.C. morreu em 4 a.C. Relatos históricos registram que, logo após a morte de Herodes houve um eclipse lunar. A data precisa, calculada pelos astrônomos é a de 13 de Março do ano 4 a.C. Este dado isolado ainda não trazia esclarecimento definitivo.
Em Matheus 2:2 - "Os magos chegaram a Jerusalém dizendo: Onde está o Rei dos Judeus, que nasceu? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo".
Que estrela seria essa? Seguem alguns dados interessantes e esclarecedores.
Pouco antes do Natal, no dia 17 de Dezembro de 1.603, o matemático imperial e astrônomo da corte alemã, João Kepler (1.571-1.630), estava no observatório Hradschin de Praga, sobre o Moldávia, observando, com seu modesto telescópio, a aproximação de dois planetas. A esse fenômeno os astrônomos dão o nome de conjunção, o que significa que dois corpos celestes se encontram no mesmo grau de longitude. De vez em quando, dois planetas se aproximam tanto um do outro que se apresentam como uma única estrela maior e mais brilhante.
Naquela noite, Saturno e Júpiter e mais Mercúrio também, estavam em conjunção, dentro da constelação de Peixes. Enquanto repassava suas anotações, Kepler se lembrou de repente da nota de um escritor judeu, o rabino Abarbanel, que aludia a uma extraordinária influência que os astrólogos judeus atribuiriam a essa constelação. Segundo eles, o Messias viria por ocasião de uma conjunção de Saturno e Júpiter na constelação de Peixes.
Será que na época de Cristo teria havido essa mesma conjunção? Após inúmeras pesquisas e após recalcular dados encontrados em documentos da época, deparou-se com uma conjunção entre Júpiter e Saturno que datava do ano 7 a.C., e com três encontros seguidos, na mesma época.
Kepler, através de uma série de livros, publicou sua descoberta, afirmando inclusive que Jesus teria nascido a essa época e não no ano um. Sua opinião não foi levada a sério até que a ciência conseguisse provar a sua declaração, o que se deu em 1.925. O astrônomo alemão P. Schnabel conseguiu decifrar as anotações cuneiformes[1] de um famoso instituto técnico, a escola astrológica de Sippar[2], na Babilônia, que fica acima dessa cidade, no rio Eufrates. Nessa anotação está claramente indicada a conjunção de Júpiter e Saturno no ano 7 a.C., tal como previra Kepler.
Os dados científicos que confirmam a afirmativa de Kepler são os seguintes:
-Pelo fim do mês de Fevereiro do ano 7 a.C., Júpiter saiu da constelação de Aquário e encontrou-se com Saturno na constelação de Peixes. Como o sol a esse tempo se encontrava igualmente no signo de Peixes, sua luz cobria a constelação.
- Em 12 de Abril, os dois planetas efetuaram sua aparição helíaca, que quer dizer nascimento visível de um astro no crepúsculo da manhã, e isso já em Peixes, com uma diferença de 8 graus de longitude.
- Em 29 de Maio teve lugar a primeira aproximação, sendo visível umas duas horas no céu da manhã, com diferença de zero graus de longitude e de 0,98 graus de latitude, no 21º graus de Peixes.
- Em 3 de Outubro deu-se a segunda conjunção no 18º grau de Peixes.
- Em 4 de Dezembro teve lugar a terceira e última aproximação, desta vez no 16º grau.
No final de Janeiro do ano 6 a.C. o planeta Júpiter passou da constelação de Peixes para a do Carneiro[3].
Em S. Matheus 2:1 e 2 - "E tendo nascido Jesus em Bethlehem da Judéia, ao tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos Judeus? porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos adora-lo". No original grego lê-se "en tae anatolae", palavra que tinha um sentido astronômico significando nascimento do astro de madrugada, portanto nascimento helíaco. A tradução seria: "Vimos sua estrela aparecer nos alvores do crepúsculo matutino", o que seria uma realidade astronômica.
Se o fenômeno era visível na Babilônia e até mais para o Oriente, então por que razão os reis Magos encaminharam-se para o Ocidente?
Entre os Caldeus, Peixes era signo do Ocidente, do Mediterrâneo e, também, pelas profecias, sabia-se que o Cristo nasceria em Bethlehem de Judá.
São três as conclusões científicas que não deixam dúvidas quanto ao fato de que Jesus nasceu no ano 7 a.C..
- O recenseamento feito por Cirino;
- A morte de Herodes a 4 a.C.;
- A conjunção entre Júpiter e Saturno; em Peixes.
Acontece que fica pendente outra incógnita - o dia e o mês. O Talmud, livro da tradição Judaica, que contém os registros da tradição oral, bem como comentários da Torah, a lei escrita, afirma que, naquela região, o gado saía em Março e era recolhido em Novembro.
Em S. Lucas 2:8 lemos: "Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo e guardavam durante as vigílias da noite o seu rebanho.".
Se o gado era recolhido em Novembro, Dezembro está excluído. As datas mais prováveis são aquelas em que, conforme citação de S. Matheus, a aparição visível se dá pela manhã - ou 12 de Abril ou 29 de Maio.
Em Matheus 2:4 e 8 lemos que Herodes envia os Magos a Bethlehem e, no versículo 9: "Partiram e eis que a estrela que tinham visto no Oriente, ia adiante deles". Quer dizer que deveria ser a terceira conjunção, que se deu no dia 4 de Dezembro.
De fato, os Magos, viajando de Jerusalém para Belém, viam a conjunção em direção ao sul, portanto, à sua frente. Os Cristãos comemoram o Natal de 24 para 25 de Dezembro, mas os astrônomos, os historiadores e os teólogos concordam em que essa data não é a verdadeira.
O monge Dionísio Exíguo, que vivia em Roma, no ano 533 d.C. foi incumbido de calcular a data do nascimento de Jesus e do início da nossa era. Todavia, em seus cálculos, esqueceu-se do ano Zero, que deve ser incluído entre o um antes e o um depois e, além disso, esqueceu-se de levar em conta os quatro anos que o Imperador Romano Augusto reinara com seu nome de Otávio.
Foi o Imperador Bizantino, Justiniano (327-365 d.C.)[4] quem mencionou pela primeira vez o dia 24 de Dezembro, oficializando essa data em 354 d.C., sendo Papa nessa época Júlio I.
A escolha dessa data foi decorrência de um velho dia de festa romano. Era o "dies natalis invicti", dia do nascimento do invicto, ou seja, de Mitra, divindade da Índia Védica, que representa o Sol. Nesse dia, dava-se o solstício de inverno em Roma e, como os dias começassem a ficar mais longos, havia grandes festividades pelo renascimento do sol. Essas comemorações coincidiam com o último dia das Saturnais, festa em honra a Saturno, deus da agricultura, festa que, há muito, já havia degenerado em carnaval bastante corrupto e se estendia de 17 a 24 de Dezembro. Essa época era, portanto, bastante favorável aos cristãos, pois podiam sentir-se mais seguros para realizarem suas comemorações sem serem percebidos e perseguidos.
Três enciclopédias concordam com esta versão:
- Enciclopédia Britânica: "O calendário eclesiástico retém numerosos vestígios das festividades pré-cristãs notadamente o Natal, cuja amálgama inclui tanto a festa das Saturnais como o aniversário natalício de Mitra".
- Enciclopédia Americana: "Sustenta-se, em geral, que o dia 25 de Dezembro foi escolhido para corresponder às festividades pagãs que ocorriam por volta da época do solstício do inverno setentrional, quando os dias começam a ficar mais compridos, para celebrar o renascimento do sol"
- New Catholic Encyclopedia": "Nesse dia, 25 de Dezembro, a medida que o sol começava seu retorno aos céus setentrionais, os devotos pagãos de Mitra celebravam o aniversário natalício do Sol invencível".
Continuando a leitura do capitulo 2 de S. Lucas: ... "e subiu José da Galiléia, cidade de Nazareth, a Judéia, cidade de David, chamada Bethlehem ... e aconteceu que, estando eles ali, cumpriram-se os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz seu filho primogênito e envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem".
O simbolismo do presépio é uma cópia exata do que existe até hoje nos ritos Bramânicos. Na tradição Brâmane, quando nasce o pequeno Agni, palavra Sânscrita que significa Deus do Fogo, Ele é colocado em um berço que tem o formato de um cocho ou manjedoura. Ao lado do berço fica a Vaca Mugidora Vach, palavra Sânscrita que significa Verbo Sagrado, palavra Criadora. É o aspecto feminino do Logos sendo uma com Brahmã, que a criou da metade de seu próprio corpo. Helena Petrovna Blavatsky - H.P.B. - , descrevendo esta crença Bramânica diz: "Tendo dividido seu corpo em duas partes, o Senhor Brahmã tornou-se em uma parte macho e noutra fêmea. Na fêmea criou Viraj, o filho, que é a expressão concreta da ideação". É dessa tradição Bramânica, antiqüíssima, que surge a idéia de Adão e Eva do Gênesis. Pois bem, ao lado de Agni são colocados os resultados da criação, que se constituem no presépio, pois Vach é conhecida como a Deusa de mil formas.
A tradição da Sagrada Família - Jesus, Maria e José, o carpinteiro - é encontrada nos Vedas, muito antes do advento de Jesus, o Cristo. Segundo H.P.B., o Pai de Agni, Vishwakarman, ou Tuashtri, Deus Védico, personificação da força criativa, descrito como Aquele que tudo vê, que está além da compreensão dos mortais não iniciados, é conhecido como o divino artista, o divino carpinteiro que fabrica a cruz do Pramantha[5], o artífice dos deuses e o fabricante de suas armas .
O dicionário Sânscrito-Francês, elaborado por Emile Louis Burnouf (1.821-1.907), sanscritista conceituado, confirma todos esses dados.
O professor José Henrique de Souza (1.888-1.963) afirma que os grandes iluminados nunca nasceram pobres; em todas as teogonias surgem de famílias nobres e abastadas. "Jeoshua Ben Pandira, o Filho de Deus, melhor do que filho do homem, também não nasceu assim tão pobre como relatam as escrituras. Era proveniente de Salém, cidade Luz das escrituras Hebraicas, que é a mesma Shamballah das tradições Orientais, a Ilha Imperecível que nenhum cataclismo poderá jamais destruir. Por manjedoura devemos entender "mongedoura", ou seja, nasceu entre monges do Santo Graal".
[1] Cuneiforme – escrita caracterizada por elementos em forma de cunha, traçados pela espátula dos escribas na argila fresca.
[2] Sippar - cidade da Mesopotâmia, no país de Akkad, famosa por seu templo ao deus Sol Shamash e da deusa Aya. É a atual Abu Abba.
[3] Cada 2.160 anos o sol deixa uma constelação zodiacal para entrar na seguinte. Assim, as eras, que são em numero de 12, como os signos, formam o grande ano natural que contem 25.920 anos, espaço de tempo que a terra leva para completar uma volta sobre seu próprio eixo.
[4] O Império Romano do Oriente teve duração de 330 a 1.543. O Imperador Constantino funda nova Roma, ou seja, Constantinopla, no local da colônia Grega de Bizâncio, por razões estratégicas, econômicas e políticas, pois se iniciava o declínio de Roma.
[5] Pramantha - Palavra Sânscrita que se refere a um aparelho capaz de produzir, pela fricção, o fogo sagrado.