2ª. PARTE

A VIDA DE JESUS, O CRISTO

 

CAPÍTULO III

- A FUGA PARA O EGITO E A VOLTA PARA A GALILÉIA

 

Em S. Matheus capítulo 2 lemos que Herodes I, o Grande, ao ouvir os magos perguntarem pelo rei dos Judeus que havia nascido, perturbou-se muito e com ele toda Jerusalém. Podemos dizer que Herodes, de temor, e Jerusalém, de esperança.

No versículo 4: "E congregando todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo. E eles lhe disseram: Em Bethlehem da Judéia, porque assim está escrito pelo profeta: E tu, Bethlehem, terra de Judá, de modo nenhum és a menor, porque de ti sairá o guia que há de apascentar o meu povo de Israel". Em algumas traduções consta "sairá aquele que será Rei em Israel". Essa profecia se encontra em Miquéias 5:2.

No versículo 13, o anjo aparece a José dizendo: "Levanta-te e toma o menino e sua Mãe e foge para o Egito porque Herodes há de procurar o menino para o matar".

Assim, partiram para o Egito de onde ouviram que Herodes realmente mandara matar todos os meninos de Belém, de 2 anos para baixo.

O historiador Flavius Josephus (37-100 d.C.)[1] afirma que Herodes não era apenas um rei, mas o mais cruel tirano que jamais conseguiu ocupar um trono. Em 36 anos de reinado, não passou um dia sequer sem execução . Assassinou dois maridos de sua irmã Salomé, que por sinal foi sua grande instigadora, matou sua esposa Mariane, princesa Hasmoniana, da linhagem dos Macabeus, com quem se casara por golpe político, matou seus filhos Alexandre e Aristóbolus simplesmente por terem sido recebidos com certo entusiasmo pelo povo, mandou matar sua sogra Alexandra etc... Cinco dias antes de sua morte, já recolhido ao leito, manda matar seu filho Antipater, porque percebeu que ele pretendia subir ao poder. Frente a todas essas atrocidades e muitas outras que seria longo enumerar, a matança dos inocentes de Belém foi um dos atos mais simples praticados por Herodes. Esse terrível acontecimento está registrado em S. Matheus 2:16.

Por onde andou Jesus nessa fuga para o Egito? Os livros apócrifos falam claramente que Jesus esteve em Heliópolis, cidade hoje em ruínas, antiga On, próxima ao Cairo.

Nesse lugar existe hoje uma cidadezinha chamada Mataria e Werner Keller, autor do livro "E a Bíblia tinha razão", diz o seguinte: "Mataria fica no caminho da Palestina para o Egito. Não é necessário atravessar a corrente do Nilo. Por detrás das canas de açúcar, espreita-se a cúpula de "sanctae Familiae in Egiptum Exili" - a igreja da Sagrada Família em exílio no Egito - que fica exposta à curiosidade dos turistas e peregrinos. Ela foi construída em virtude das histórias ali correntes a respeito de um jardinzinho que sempre existiu naquele lugar, dentro do qual nos deparamos com um vasto e carcomido tronco de sicômoro chamado Árvore da Virgem Santíssima. Consta na tradição local que, no oco dessa árvore, escondeu-se Maria com o Menino Jesus quando fugiu de seus perseguidores e que, para ocultá-los por completo, uma aranha tecera uma teia tão espessa que ninguém os pôde ver.

Jonn Maundesville (1.322) afirma que "o jardim de Mataria foi célebre na idade Média, como horta de especiarias, pelo fato de produzir ervas e plantas que não existiam em qualquer outra parte do Egito - umas arvorezinhas finas que não chegam acima do cinturão dos calções de montar de uma pessoa e cuja madeira semelha à da videira brava".

Sobre esse lugar existe uma referência que data de mais de dois mil anos. Flavius Josephus informa como essas plantas foram levadas para o Egito. Depois do assassinato de César, Marco Antônio seguiu para Alexandria, aliado a Cleópatra. Ela ambicionava a reconquista da Palestina. Visitou Jerusalém e tentou cativar o rei Herodes e conquistá-lo. Não conseguindo, começou a forjar, junto a Marco Antônio, intrigas contra Herodes, sendo que este foi chamado a Alexandria para responder a graves acusações.

Herodes, carregado de ouro, abranda os romanos, mas  teve de renunciar à costa da Palestina e, Marco Antônio, então, deu essa área de presente a Cleópatra. E deu-lhe também a cidade de Jericó. No jardim de Jericó cresciam plantas originárias das sementes que a rainha de Sabá, da Arábia, à qual se refere a Bíblia em I Reis 10, oferecera ao rei Salomão, sementes de bálsamo. Diz Josephus que Cleópatra levou mudas dessa planta para replantar no recinto do templo de Heliópolis, a On da Bíblia, sendo que para lá levou também jardineiros judeus. Pois bem, trinta anos depois, Cleópatra e Marco Antônio já se tinham suicidado e José, Maria e Jesus encontrariam abrigo entre os jardineiros judeus de Mataria.

Passado algum tempo, provavelmente 3 anos, em Matheus 2:19, lemos que o anjo anuncia a morte de Herodes. Ao morrer, deixa Arquelau herdeiro da Judéia e Samária, Herodes Antipas como tetrarca[2] da Galiléia e Peréia e Filipe com a Ituréia. A família exilada vê que não pode regressar para Belém pois Arquelau é tão tirano quanto o Pai. Assim que sobe, joga na fogueira Sacerdotes judeus, entre eles Jehuda ben Safira e Matatias ben Magolot e mata 3.000 judeus revoltados com as injustiças e crueldades. Diz a Bíblia que voltam para Nazareth, onde Jesus permanece até os 12 anos. Dai em diante surge um grande hiato na história de Jesus, dentro da Bíblia e fora dela, inclusive nos livros apócrifos.

Palmer Hall, em seu artigo Cristianismo Místico, afirma que Jesus foi iniciado pelos Essênios. E especifica mais, dizendo que isso se deu no mesmo templo de Melchisedech onde Pitágoras estudara seis séculos antes. Melchisedech, ao tempo de Abraão, era rei de Salém, cidade que mais tarde se tornou Jerusalém. Em Gênesis 14:18 ele abençoa Abraão.

Num estudo comparativo, nota-se grande semelhança entre dogmas Pitagóricos e os antigos costumes Essênios - oração à saída do sol, roupas de linho, ágapes fraternais, noviciado de um ano, três graus iniciáticos, comunidade de bens regida por curadores, sigilo e juramento aos mistérios.

 


[1]  Flavius Josephus, nascido em Jerusalém, era, portanto, judeu. Tornou-se General Chefe Militar da Galiléia. Preso em 66 a.C. por estar dirigindo uma revolta de judeus contra Roma, foi levado à presença de Vespasiano (vide no próximo rodapé), então general das Legiões Romanas. Enquanto estava sendo julgado e condenado, predisse que Vespasiano se tornaria imperador. Em 69, ao ver cumprir-se a profecia, Vespasiano liberta-o e o torna participante de seu governo. É então que ele adota o nome de Flavius, nome da família do Imperador. Dedica o resto de sua vida ao trabalho de historiador e suas informações são preciosas.

 Vespasiano - Vespasiano, cujo nome em Latim era Titus Flavius Vespasianus (9-79 d.C), foi Imperador Romano de 69 a 79. Fez carreira brilhante como militar e foi designado imperador pelo exército do Oriente.

[2] Tetrarca – No Império Romano, tetrarca era o governador de uma região que se constituía em uma espécie de estado. Em S. Marcos 6:l4, ele cita Herodes Antipas como rei, mas há um engano; ele era realmente um Tetrarca. Herodes Antipas, casado com Herodíades, padrasto de Salomé, encorajado por Herodíades, vai a Roma pedir para que fosse coroado rei, mas Agripa, seu cunhado, irmão de Herodíades, influencia Calígula, Imperador Romano, contra Herodes e, em 39 d.C., é deposto e banido para Lyons, sendo que Herodíades o acompanha voluntariamente.

 

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