São Lucas I, versículos:
5 - "Existiu no tempo de Herodes, o Grande, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abiás[1], cuja mulher era das filhas de Aarão[2]. e se chamava Isabel
7 - E não tinham filhos, porque Isabel era estéril e ambos eram avançados em idade.
13 - E eis que um anjo aparece a Zacarias dizendo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida e Isabel tua mulher, dará à luz um filho e lhe porás o nome de João.
14 - E terás prazer e alegria e muitos se alegrarão no seu nascimento;
15 - Porque será grande diante do Senhor e não beberá vinho, nem bebida forte e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.
16 - E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus.
57 - E completou-se para Isabel o tempo de dar à luz e teve um filho.
58 - E os seus vizinhos e parentes ouviram que tinha Deus usado para com ela de grande misericórdia e alegraram-se com ela.
59 - E aconteceu que ao oitavo dia vieram circuncidar o menino e lhe chamavam Zacarias.
60 - E, respondendo sua mãe, disse: Não, porém será chamado João".
Tal como Jesus, na infância e juventude, João desaparece do cenário da história. Esotericamente sabemos que se preparava, junto aos Essênios e Nazarenos, para sua grande missão.
Aos 30 anos, João aparece pregando e, conforme costume dos Essênios, batizando nas terras baixas do Jordão, ao sul de Jericó. Exatamente naquele vau do rio Jordão que servira de passagem ao povo israelita quando conduzidos por Josué; naquele mesmo local por onde passaria Jesus em sua última viagem, para enfrentar os acontecimentos que precederam a sua morte.
João Batista vagava pelos desertos ao norte do Mar Morto. Sua presença é registrada em Betânia e Enom, dois postos comerciais do deserto, perto de estradas importantes.
Em Matheus 3:4 - "João vivia no deserto alimentando-se de mel silvestre e gafanhotos. Vestia pêlo de camelo preso à cintura com fita de couro".
Em São Lucas 3:l - "E no ano quinze do Império de Tibério César, sendo Poncio Pilatos presidente da Judéia e Herodes tetrarca da Galiléia, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias. E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo do arrependimento para o perdão dos pecados".
Muitos iam ter com ele para batizar[3]. Todos inquiriam sobre se João não seria o Cristo, ao que ele respondia. São Lucas 3:16 - "Eu na verdade, vos batizo com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das alparcas; Esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo". João 1:33 - "Sobre aquele que vires descer o Espírito e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo".
A função de João Batista foi a de preparar o caminho para a vinda de um grande Ser, para a vinda de um Avatara, palavra sânscrita, que significa Ser Divino que se humaniza a fim de trazer um novo padrão evolutivo para a humanidade – Ser que conhecemos como Jesus, o Cristo.
Esta idéia de um Ser Divino que se humaniza está na Bíblia. Isaias 40:3 - "Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus". São João 3:16 - "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". 17 - Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele. São João 5:17 a 24 - Jesus falava que Deus era seu Pai "quem ouve a minha palavra e crê n'Aquele que me enviou, tem a vida eterna".
A primeira viagem de Jesus foi para ir ao encontro de João Batista, exatamente porque a iniciação essênica culminava com o batismo. João Batista e Jesus tinham a mesma idade sendo João 6 meses mais velho; eram primos e ambos foram iniciados pelos Essênios e Nazarenos.
São argumentos a favor:
- H.P.B., em "Isis sem Véu", confirma essa ligação de João Batista e Jesus com os Essênios e Nazarenos. Na página 132 lemos: "Nazarenos, cujo último grande líder foi João Batista, eram respeitados e não molestados".
- O profeta Elias, que era um nazareno, é descrito, em II Reis e também por Josephus, como tendo cabelos longos, usando um manto de couro, tal como João Batista e Jesus.
- Jesus e João Batista pregavam o fim dos tempos, significando o fim de um grande ciclo. Isto comprova que conheciam o segredo da computação dos ciclos feita pelos sacerdotes, os quais, juntamente com os chefes dos Essênios, eram os únicos que conheciam a subdivisão das eras. Os cristãos não iniciados entendiam tão pouco desse mistério que levavam as palavras de Jesus ao pé da letra e, firmemente, acreditavam que se tratava do fim do mundo.
São Matheus 3:13 - "Então veio Jesus da Galiléia ter com João, junto do Jordão, para ser batizado por ele. Mas João, num gesto de profunda humildade, opunha-se dizendo: Eu careço de ser batizado por ti e vens tu a mim; Jesus porém respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele o permitiu. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água e eis que se lhe abriram os céus e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz nos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo".
Quando os judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para identificarem a pessoa de João, é este o testemunho que ele dá de si mesmo: São João 1:19 a 23 "Eu não sou o Cristo. E perguntaram-lhe: És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não. Disseram-lhe pois: Quem és, para que possamos dar resposta aos que nos enviaram. Disse: "Eu sou a voz do que clama no deserto. Endireitai as veredas do Senhor, para que se cumpra o que foi dito pelo profeta Isaias".
Mais tarde, em São Lucas 7:28, Jesus afirma de João: "E eu vos digo que, entre os nascidos de mulher, não há maior profeta do que João Batista".
Como acorresse gente de todas as partes, inclusive de regiões distantes, aglomerando-se multidões para ouvir a palavra simples mas persuasiva de João Batista, Herodes Antipas, tetrarca da Galiléia de 4 a.C. a 38 d.C., segundo Flavius Josephus, começou a temer uma rebelião. Esses temores são ampliados pelo fato de João Batista já haver exortado Herodes pelo seu erro ao casar-se com sua cunhada Herodíades, esposa de Filipe e mãe de Salomé. Herodes manda prendê-lo, acorrentá-lo e levá-lo para a fortaleza de Maquerunte.
Dizem alguns que, àquele tempo, em cima das masmorras, havia resplandecentes salões nobres.
"E a Bíblia tinha razão" descreve esse lugar, tal como se apresenta hoje: "Maquerunte fica no meio de um cenário agreste e sombrio, na costa oriental do Mar Morto. Nenhuma estrada liga esse lugar solitário ao mundo. Partindo do vale do Jordão, sobe-se por estreitas veredas, para o sul, até a região montanhosa, desolada e nua do antigo Moab. Nos profundos vales secos vivem algumas famílias de beduínos com rebanhos. Não longe do rio Arnon ergue-se um enorme penhasco acima dos cumes das outras montanhas. Lá estão as ruínas. Os beduínos as chamam de "El Mashnaka", "O Palácio Suspenso". Abaixo do cume, a parede rochosa está profundamente cavada num lugar. Seguindo estreitos corredores, chega-se a um espaço abobadado. Nas paredes, cuidadosamente talhadas, reconhece-se a masmorra onde esteve João Batista".
Depois da prisão, vem o festim no palácio, a dança dos 7 Véus de Salomé e a instigação de Herodíades para que seja pedida a cabeça de João Batista.
Qual a razão de ser João Batista simbolizado carregando o Cordeiro?
O símbolo do cordeiro é resultante de um trocadilho com palavras. Em sânscrito, Aja significa "Purusha", o não nascido ou o Espírito e também significa Cordeiro, o Sacrifício. Isto, expressando que o Espírito, quanto mais ele se envolve na matéria, mais ele vai desaparecendo, vai morrendo metafisicamente. E tal é o sacrifício do "não nascido", dos deuses que vêm trazer padrões de vivência espiritual para os seres humanos.
Em sânscrito, Agni é o Deus do fogo sagrado, conforme está registrado nos Vedas; é o Espírito. Em latim, Agnus significa Cordeiro. Na tradição, essas palavras - Agni e Agnus - assumiram o mesmo sentido, indicando o primeiro sacrifício do Espírito atuando em corpo que tem personalidade e carma próprios.
H.P.B., no quinto volume da Doutrina Secreta, pag. 3.651, diz o seguinte: "O símbolo do cordeiro sacrificado tem sua origem no fato de consciências, que não têm mais carma, reencarnarem para determinadas missões em corpos do ciclo".
O Cordeiro está também relacionado com Áries, signo regente da raça ariana, ou seja, o Sol na constelação de Áries.
Ossendowski afirma que o culto de Rama, Manu, ou seja, o dirigente da raça Ário-Semita, cuja divisa era o Cordeiro, existe na Mongólia, sem interrupção, até os dias de hoje. Rama tomou por divisa o Cordeiro em contraposição ao Touro, divisa dos Citas e que significava força e violência e contra cujos princípios ele se insurgira.
O Cordeiro vem sendo considerado como símbolo de sacrifício desde o tempo de Abraão quando, na hora da grande renúncia, o corpo de Isaac foi trocado pelo do cordeiro, episódio relatado na Bíblia, em Gênesis capitulo 22.
No Egito, o sangue do cordeiro marcou as casas onde estavam os primogênitos hebreus.
Em São João 1:29 - João, que é simbolizado pelo Cordeiro, ao ver Jesus aproximando-se para o batismo, pronunciou a sentença: "Agnus Dei qui tollis pecata mundi", que significa: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo".
João Batista, o Cordeiro, foi sacrificado; Jesus também o foi. O Avatara, representação da Divindade na terra tem por função equilibrar o carma da humanidade. O anunciador participa dessa absorção do carma.
Por que João Batista é comemorado com fogueiras?
Na filosofia esotérica do oriente, o instrumento primitivo que produzia fogo chamava-se "Swastica". Esse aparelho era formado por duas hastes, uma vertical e outra horizontal, presas ao meio, formando uma cruz. Ao girar uma haste contra a outra, pelo atrito, surge o fogo, fogo esse que recebia o nome de Agni. O giro dessas hastes, produzindo o fogo, representa o giro eterno do chamado Pramantha, ou seja, dos ciclos Universais. Esse aparelho tornou-se símbolo de Agni ou Agnus, o Cordeiro e, no ocultismo, é um símbolo tão sagrado quanto a Tetraktys[4] o é para os Pitagóricos. Essa é a razão pela qual João Batista é comemorado com fogueiras, pelo valor do fogo sagrado que ele propaga através do seu ministério.
Podemos observar o seguinte: João Batista pregava no deserto da Galiléia. Aqueles que pregam a Verdade hoje, estão enfrentando um deserto no campo das idéias. No entanto, aqueles que vivem neste ciclo atual, segundo a concepção esotérica, têm por função preparar o caminho para a vinda do próximo Avatara, a começar pelo sacrifício da auto-realização que envolve o árduo trabalho da transformação dos componentes da alma - mente e emoção. Só aqueles que se auto-realizarem preencherão as exigências máximas deste ciclo e participarão do advento do novo Messias.
[1] Abiás - rei de Judá, filho de Roboão, neto de Salomão.
[2] Aarão - irmão de Moisés, primeiro sacerdote dos israelitas.
[3] O batismo é um dos sacramentos. A palavra grega "Mysterion" corresponde, em latim, à palavra "sacramentum". Os sacramentos eclesiásticos são a continuação dos mistérios pagãos. Os sacramentos têm duas propriedades:
a) Cerimônia exotérica que é alegórica, constante de uma representação por meio de ações e substâncias, sem qualquer ensinamento dado de viva voz explicativo de seu significado esotérico;
b) Por pertencer à ciência oculta, liga-se aos fatos do mundo invisível. O oficiante deve possuir esses conhecimentos, porque do seu saber depende, em grande parte, senão completamente, a eficácia do sacramento, cuja finalidade é estabelecer um laço entre o mundo material e o mundo invisível. Dá-se uma transmutação das energias superiores, pois é Teurgia. Se o oficiante ignora, o efeito é nulo. O mesmo fenômeno se processa nas Yogas; é preciso saber como fazer e fazer certo.
O primeiro cisma que afastou o oriente do ocidente, formando a Igreja Ortodoxa e a Romana, em nada enfraqueceu a fé nos sacramentos. Existem sete sacramentos desde o batismo até a extrema unção. São eles: l. Batismo; 2. Crisma; 3. Eucaristia; 4. Casamento; 5. Penitência; 6. Ordenação; 7. Extrema Unção.
As substâncias empregadas, as palavras pronunciadas, os sinais feitos pelo oficiante, tudo foi escolhido com conhecimento de causa e combinado, a fim de determinar certos efeitos.
[4] Tetraktys - símbolo atribuído a Pitágoras e que era profundamente venerado pelos Pitagóricos, diante do qual prestavam seu juramento. Engloba a representação da Unidade, da Dualidade, da Trindade, do Quaternário, portanto, dos 4 princípios constitutivos do Universo, formando assim uma tétrade.