1ª PARTE
"
ESTRUTURAÇÃO DA PERSONALIDADE"

CAPÍTULO IV
"DISFARCES DA PERSONALIDADE - MÁSCARAS E IMPULSORES"

Objetivo: Verificar que não somos autênticos e passar a perceber que, para sair dessa situação e aceitar a nossa realidade, precisamos nos libertar de duas atitudes internas:

-  Da necessidade de projetar uma imagem.

-  Da preocupação com a opinião alheia, mesmo porque jamais iremos satisfazer a todos.

Existem causas profundas, objetivas, que nos levam a fugir da nossa realidade. O que acontece é o seguinte: ao longo da vida, pela influência da educação, do meio social, dos meios de comunicação, dos princípios religiosos, desenvolvemos uma série de crenças, uma série de conceitos, ou melhor, pré-conceitos, e formamos uma imagem de pessoa que agradaria o contexto. Então, todos os conteúdos que não se ajustam a essa determinada maneira de ser, vão sendo rejeitados, reprimidos, esquecidos, em benefício dessa imagem que julgamos ideal. A pessoa como que estabelece um tipo de compromisso com a sociedade que a cerca, de só praticar o que é desejável aos olhos do grupo e que traduzam as crenças e conceitos que ela absorveu.

O homem passa a funcionar como ator e cria recursos que são verdadeiramente de uma representação teatral, procurando convencer a si mesmo e aos outros de que é um indivíduo que não traz os desequilíbrios que ele considera indesejáveis. Ele coloca aquilo que YUNG chamou de "PERSONA", palavra latina que quer dizer máscara.

Vamos ver, então, algumas dessas máscaras, alguns desses mecanismos de disfarces, alguns desvirtuamentos da realidade e procurar, honestamente, nos enquadrar dentro deles.

 

1. Mascaras -  detectadas pela Psicanálise :

a. Racionalização:

Justificar os mínimos deslizes como, por exemplo, chegar atrasado, esquecer alguma coisa etc. Arranjar sempre uma desculpinha que nos ponha a salvo de qualquer culpa. Para mostrar quão forte é essa tendência, temos o exemplo, tirado da matéria médica, do estudante que foi assistir a uma palestra sobre hipnotismo. Convidado para participar da experiência, subiu ao palco levando seu guarda-chuva. Durante o processo de hipnotismo, foi sugerido que chovia e ele abriu o guarda-chuva. Acordado, com o guarda-chuva aberto na mão, o hipnotizador pergunta: Você de guarda-chuva aberto em sala fechada? Ao que o rapaz, imediatamente, sem pensar, responde: É que ele está com defeito e eu estou vendo onde está o problema para mandar consertar.

Nossa defesa é tão grande que, continuamente, estamos reagindo assim, sem reflexão.

b. Projeção:

Projetar em outra pessoa atos e emoções que queremos esconder. Observa-se bem no trânsito de S. Paulo. Quando há qualquer incidente, é sempre o outro que é culpado. É como a história do netinho que foi ao Jardim Zoológico com o Avô. Tudo ia bem, até que se aproximaram da jaula do leão. O menino gruda a mão do Avô e puxa-o dizendo: "Cuidado, não chegue muito perto que senão ele te morde". Na verdade, era ele que estava com medo, mas ele passa a impressão de que estava querendo proteger o Avô. Outro exemplo é o da dona de casa cujo marido é Major. Para parar o barulho da juventude, ao invés de dizer: "Parem que eu quero dormir", diz: "Não façam barulho que o Major quer dormir". Ela é boazinha, não é por ela, mas é pelo Major.

Outro ponto importante é refletir sobre os defeitos que vemos nos outros. Uma grande porcentagem é projeção. Ou temos o defeito em nós, ou desejamos demais agir como o outro está agindo e não temos a coragem.

2. Impulsores

A Análise Transacional, por sua vez, detectou outros tantos desvirtuamentos de nossa realidade que ela denomina de Impulsores.

 Análise Transacional: Leia Síntese...  ótima para o nosso autoconhecimento.

 

Impulsores são comportamentos que estereotipamos para esconder falhas e externar atitudes que sejam aprovadas pelo ambiente e que confirmem as conclusões a que chegamos através de nossa vivência.

 

a. Sê forte:

Vem acompanhado da idéia - não demonstre emoções, não deixe os outros perceberem que você sente; não sintas. O sexo masculino já é prejudicado pelo arraigado preconceito "homem não chora", mas o sexo feminino também é portador deste impulsor. Exteriorizar emoção é fraqueza. Em geral, estas pessoas se tornam confidentes, porque são fortes. Mas é disfarce muito desgastante, uma vez que suas emoções ficam recalcadas.

OBSERVAÇÃO: Claro que tenho de ser forte perante a vida, mas de maneira consciente, criteriosa e não de maneira obsessiva, como máscara, só para aparentar uma imagem.

b. Sê perfeito:

Nunca aceita que errou. Emprega demais a racionalização. Sofrem quando alguém chama a atenção. Incapazes de ponderar sobre a validade de uma observação. Vem acompanhado da idéia "não me superes", ou seja, ninguém pode saber mais do que eu. Normalmente, são invejosas, gostam de arrasar os outros para se sobressaírem. Não ouvem a opinião de ninguém, têm sempre a última palavra. Dificílimo manter diálogo. Perfeccionistas, além de se martirizarem, por nunca estarem satisfeitas, acresce do fato de que são intolerantes e só vêm defeito nos outros.

OBSERVAÇÃO: Naturalmente que devo procurar ser perfeito, mas de maneira consciente e não como disfarce.

c. Esforça-te mais:

Quer aparentar rendimento. Quer parecer que tem muita coisa para fazer. Que ninguém no mundo trabalha mais do que ele. Começa várias coisas ao mesmo tempo e não termina. Vive dizendo, não dá, não consigo dar conta. Na maioria das vezes larga o que tem prazo certo para ser feito, a fim de esforçar-se na véspera e parecer sobrecarregado. Quando tem compromisso, sai tarde para chegar correndo. Os portadores deste impulsor trazem proibição para o lazer, para usufruir a vida no bom sentido. O maior castigo para essa pessoa é ser surpreendida sem fazer nada, talvez refestelada numa poltrona. Ela vai ter uma desculpa, ou seja, vai racionalizar. Elas querem ouvir: Puxa vida, como você é ocupado! Não sei como você aguenta!

OBSERVAÇÃO: Naturalmente que temos de nos esforçar, mas...

d. Apressa-te:

Pode parecer igual ao anterior, mas é diferente. O outro tem mil coisas para fazer, este não tem nada propriamente mas quer parecer que tem milhares. Atitude de afobação, ansiedade, angústia. Este tem duas horas para chegar a algum compromisso e já começa apressando as pessoas, mesmo que seja para ficar esperando quando chega ao destino. E fica andando de lá para cá como se o atendimento estivesse atrasado.

e. Agrada-me:

Imagem de bom, de solícito, de prestativo. Faz questão que digam: Fulano é formidável! Concorda com tudo. Nunca diz não, não consegue. Com isso, vai assumindo e se sobrecarregando. Por dentro, pode até resmungar, mas vai assumindo e carregando o mundo - ascendentes, descendentes, colaterais, cônjuge, vizinhos etc.

 

Todos esses, são esquemas que assumimos para que os outros formem uma opinião ideal a nosso respeito, dentro do conceito que elaboramos. Deixo de ser autêntico para provocar impressão. O extraordinário é que, apesar de serem comportamentos inconscientes, são absolutamente coerentes.

Acontece, porém, que nossa realidade interna não se extingue; nossas tendências, nosso temperamento, nossos impulsos instintivos estão só abafados e continuam pressionando. Por isso, essa exteriorização falsa não resulta em bem estar interior, não satisfaz. Cria uma situação psicológica confusa. Um grande psicossociólogo Americano, Dr. McDougall (1.871-1.938), portanto no início do século XIX, afirmou que o maior desgaste sofrido pelo homem é o de procurar ser o que não é. É uma das grandes, das enormes causas de "stress".

Devemos analisar cada um destes esquemas e nos enquadrar. Se não conseguirmos, podemos suspeitar de que está havendo algum tipo de fuga. Todos temos um pouco de cada um.

Distorcemos nossas reações porque damos importância à opinião alheia, e damos importância à opinião alheia, porque somos inseguros e necessitamos de aprovação. Precisamos convencer-nos de que, em nossas reações, o que importa é uma posição de justiça diante de nossa consciência e não o que os outros pensam do meu ato. Em hipótese alguma agradaremos a todos. É como a fábula do velho, do menino, e do burro que foram vender na cidade. Se ninguém usava o burro, para poupá-lo, os transeuntes comentavam a burrice dos dois; se subia o menino, o velho estava educando errado, não incutindo respeito aos mais idosos; se subia o velho e a criança puxava o burro, o velho era desalmado e criava revoltados. Por fim, resolvem carregar o burro e, ainda assim, os comentários insultuosos continuavam.

A esta altura, entre parênteses, gostaria de observar que estas máscaras são uma das principais causas da infelicidade conjugal. O período de noivado é um mar de rosas. A convivência, porém, provoca a queda das máscaras e traz a maior decepção. É muito comum ouvir-se os cônjuges dizerem: "Não foi com essa pessoa que me casei. Era uma criatura amável, delicada, interessante, entusiasmada, criativa, me deixava agir livremente etc., etc....

Fechado o parêntese, quero ressaltar um fenômeno interessante. Quando a pessoa percebe a não validade da aparência, da impressão que causa, quando despe as máscaras e passa a enfrentar sua problemática interna a fim de modificá-la, sobra, sempre, uma realidade que, em essência, é a mesma para todos. Começa havendo uma ligação maior com a nossa Consciência Superior, que poderíamos chamar de nosso Cristo interno e, invariavelmente, a pessoa se volta para a espiritualidade. Esta não é uma conclusão esotérica ou teológica; é uma conclusão da ciência. Jung, que deu origem à psicologia analítica, fala na "individuação" 1, que é o encontro da realidade básica a que ele dava o nome de Self e que nada mais é do que nossa Consciência Superior. Rogers fala na auto-realização e Maslow nas experiências culminantes. Todos expressando a mesmíssima idéia: um equilíbrio tal que possibilite à pessoa deparar-se com essa parte imponderável que cada um de nós traz dentro de si.

1- Individuação - encontro da realidade básica, fundamental, da personalidade, o chamado Self, livre de qualquer desvio, de qualquer disfarce, de qualquer complexo ou bloqueio emocional e integrado no Universo.

O primeiro passo desse caminho é a aceitação de nossos desequilíbrios; procurar pegar-se em flagrante, de maneira esportiva, com senso de humor, jovialmente e libertar-se da opinião alheia.

Antes de terminar, é preciso esclarecer bem o seguinte: ser autêntico não é reagir intempestivamente com o que sinto. Se estou com raiva, por exemplo, não vou explodir. Vou detectar o meu estado interior, vou analisar a situação e vou direcionar uma reação justa. Quando minhas reações autênticas perturbam a harmonia do ambiente, devo controlá-las e direcioná-las, de forma consciente. O importante é eu enxergar a minha realidade e parar de escondê-la, inconscientemente, até de mim mesmo. Depois de detectar minhas reações internas, não preciso aprová-las nem externá-las.

 

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