2ª PARTE
 "CAMINHOS PARA O AUTO EQUILÍBRIO"

CAPÍTULO I
"PSICOCIBERNÉTICA"

A estrutura interna do homem apresentada pela Psicocibernética é a que mais esclarece as possibilidades que temos para autotransformação. É com base nela que entenderemos a eficiência dos métodos de reequilíbrio psíquico.

Desde os primórdios da humanidade que o homem vem procurando descobrir como é que funciona o pensamento, como é que se formulam as idéias, mas, até hoje, nem a filosofia, nem a ciência conseguiram responder à pergunta de Aristóteles, formulada há mais de 2.000 anos. "Como é que a alma se liga ao corpo?"

Paul Chauchard, Francês, neurofisiologista e psicólogo, diretor da "Ecole des Hautes Etudes", no século XX, fez a seguinte afirmativa, mostrando a ignorância da ciência neste setor: "Há aspectos do mecanismo psicofisiológico ainda não bem elucidados, pelo que o psicólogo tem que dar lugar ao filósofo. O que conhecemos são unicamente mecanismos cerebrais que estão a serviço da consciência. Sobre a natureza dessa consciência, estamos reduzidos a hipóteses. Para os materialistas, ela é uma propriedade da matéria cerebral, para os espiritualistas, ela depende da presença de um princípio imaterial chamado alma, ou espírito".

Qualquer estudante de medicina sabe perfeitamente que a ciência, atualmente, não consegue explicar o funcionamento da consciência. Nos compêndios escolares, a definição de cérebro ainda é o conjunto celular onde nasce a consciência de si mesmo, ou seja, onde nascem os fatos da mente, da vontade, dos desejos e da sensibilidade.

Os filósofos antigos pertenciam a uma escola que poderia chamar-se de psicocêntrica. Eles não faziam muita diferença entre alma e espírito, mas nessa relação entre o imponderável e o corpo, a causa dos fenômenos era atribuída à parte imponderável.

Os Egípcios, os Hebreus, os Gregos localizavam a alma no diafragma, por causa das perturbações emocionais atingirem o plexo solar, alterando a digestão, a respiração, o coração.

Em 1.610, Descartes diz que a alma se situa na epífise, ou seja, na glândula pineal.

No início do século passado, com Augusto Comte (1.798-1.857), surge a escola filosófica do positivismo, que passa a procurar as leis que regem os fenômenos e não mais as causas que os desencadearam.

Positivismo - Conjunto de doutrinas que se assemelham à de Augusto Comte, fundador da escola filosófica do Positivismo. Como teoria de ciência, só valoriza os fatos e suas relações. É uma doutrina antimetafísica que visa a superação dos estados teológico e metafísico a fim de atingir o estado positivo ou científico.

Como religião, exposta no "Catechisme Positiviste", enfatiza apenas a ética altruística. Retira a idéia de um Deus Criador do Universo e a substitui por um culto à Humanidade, no seu passado, no seu presente e no seu futuro, como se fosse constituída por um Grande Ser. Como projeto político propõe a reforma da sociedade.

Só em 1.869, Claude Bernard chegou à conclusão de que o cérebro era o órgão da inteligência.

Em 1.870, durante a revolução Franco-Prussiana, quando Napoleão III perde para os Alemães em Sedan, com base nas afirmativas de Claude Bernard, dois soldados, estudantes de medicina, Fritch e Hitzig, começaram fazendo experiências nos cérebros de soldados abatidos nos campos de batalha. Aplicavam uma pilha galvânica e constatavam movimentos à distancia. A pilha havia sido descoberta no ano de 1.790 por Luigi Galvani.

Ao fazerem essas experiências, com todo o cuidado para não serem surpreendidos e mal interpretados, não imaginavam que estivessem dando início a uma escola fortíssima que perdura até hoje - a escola mecanicista. O positivismo atuante na época, muito influiu no pensamento dessa escola, segundo a qual, todo o jogo da personalidade seria resultante de reações mecânicas, de natureza eletromagnéticas ou bioquímicas.

Tiveram início as localizações cerebrais que de fato existem e são cientificamente comprovadas. Segundo a teosofia, essas localizações são como os paralelepípedos de uma ponte que comunica a psique e o espírito com o plano consciente. A lesão inutiliza a capacidade do indivíduo porque interrompe a ponte de comunicação, mas o potencial que está do lado de cima da ponte continua íntegro, faltando a ela apenas uma forma de expressão. Isto a ciência materialista desconhece. Estes partidários do cerebrocentrismo evitam explicar fenômenos tais como os parapsicológicos ou metapsíquicos, tais como telepatia, telecinesia, premonição, fenômenos constatados, inegáveis, porque não se enquadram nas leis e mecanismos até agora descobertos para o funcionamento cerebral.

Nestes últimos anos, após a segunda grande guerra, surgiram dentro da psicologia várias linhas, as quais, com a mesma abordagem, vêm procurando explicar o funcionamento de nossa vida psíquica - poder do pensamento positivo, poder mental, controle mental, auto-hipnose, treinamento autógeno, auto-sugestão, sofrologia etc. Com Maxwell Maltz, que publica seu livro em 1.972, surge a Psicocibernética que dá fundamentação científica para todas essas linhas.

A Psicocibernética chegou à conclusão de que a mente do homem possui dois planos, duas esferas de atividade.

Um plano chamado consciente ou racional, objetivo, que se aproxima do Ego de Freud. É aquela área da mente que escolhe, que faz opções, que nos dá a sensação de identidade.

Esta parte aprende por meio dos sentidos e, para estruturação, está ligada ao sistema nervoso da vida de relação.

O outro plano recebe o nome de inconsciente, mas, na sua conceituação, nada tem a ver com o inconsciente de Freud. Este plano recebe também a designação de subconsciente. É a parte subjetiva, que não raciocina, aquela parte que contém tudo aquilo que está além daquilo de que temos consciência. Não tem qualquer capacidade de decisão consciente, mas é extremamente sábia porque leva a funcionar partes vitais de nosso organismo, como digestão, respiração etc., pois está ligada ao sistema nervoso autônomo que controla todo o metabolismo orgânico.

Diz a Psicocibernética que nesta camada, a do inconsciente, estão sediadas as emoções, a intuição e os fenômenos parapsicológicos. Este conceito de inconsciente ajusta-se ao da Teosofia. Colocando aí a intuição e as percepções extra-sensoriais, as portas se abrem para todas as possibilidades transcendentais do ser humano, estabelecendo a ligação que faltava entre a ciência e a Teosofia, ou seja, entre a ciência e o ocultismo. No inconsciente cibernético podemos acrescentar, sem ferir o esquema científico, a Consciência Superior do homem que, segundo a Teosofia, é uma partícula da Divindade. O grau de consciência de cada um é, portanto, exatamente o quanto o indivíduo, através de sua organização interna, consegue deixar transparecer em sua vida consciente os valores desse Deus interno. O âmago, o núcleo da Consciência Superior é igual para todos, mas, apesar de conter toda a sabedoria, não pode interferir na vida consciente do homem, pois esta precisa ser dirigida pelo livre arbítrio de cada um. O inconsciente passa os dados de forma neutra, quando solicitados pelo consciente, mas é o consciente que elabora a reação.

Em meu livro "O Homem e o Universo" apresento dados muito detalhados sobre a constituição do homem e sobre a sua dinâmica interna.

A ciência já vem observando que a nossa faixa racional, consciente, inteiramente intelectual, apesar de dominar por completo a lógica, sofre de vez em quando a influência de outra faixa de nossa personalidade, um outro setor, que acena com dados intuitivos e inteligentes. O Dr. J. B. Rhine, chefe do laboratório de parapsicologia da Universidade de Duke, comprovou, em experiências concretas, que o homem tem acesso a conhecimentos, a fatos e a idéias além dos que sua memória acumulou durante a vivência, bem como através de estudos. A telepatia, a clarividência e a premonição foram todas comprovadas em experiências científicas. Dr. Rhine assegura que existe uma capacidade de adquirir conhecimento que transcende as funções sensoriais.

Sir Oliver Lodge (1.851-1.940), físico Inglês, afirma: "Os estudos parapsicológicos provam que a consciência do homem é maior do que a do cérebro sozinho".

John Flavell, autor do livro "A psicologia do desenvolvimento", afirma: "Mas uma característica da inteligência é a de que ela transcende suas próprias limitações - conhecemos comprimentos de ondas nunca vistos, hipotetizamos dimensões espaciais que nunca experimentamos. Herdamos como anlagen biológico algo além das limitações. Como complemento das estruturas inatas existe algo que permanece além da realização intelectual".

Anlagen é um termo empregado na embriologia referente ao estágio em que as células ainda são indiferenciadas, células que, oportunamente, se diferenciarão para formar os órgãos.

O funcionamento destes dois planos da mente tem sido desvendado através dos estudos sobre a hipnose. As experiências comprovam que a mente inconsciente, ou subconsciente, como é também conhecida, simplesmente aceita tudo aquilo em que o consciente acredita. Ela não analisa, não compara, não questiona, não argumenta, que são fases do raciocínio. Ela não se preocupa em demonstrar se os pensamentos são bons ou maus, verdadeiros ou falsos. Ela se limita a reagir de acordo com os pensamentos e as idéias que lhe são impingidos pelo plano consciente. Se for sugerido a um indivíduo hipnotizado que ele é Napoleão, ele assumirá imediatamente a postura napoleônica; que a temperatura está abaixo de zero, surgem os tremores; que tem febre, enrubesce e apresenta todos os sintomas.

O mecanismo é o seguinte: todas as idéias apresentadas, ou vividas pelo consciente, ficam gravadas no subconsciente. É impossível apagar o passado.

Em 1.951, um neurocirurgião de Montreal, Dr. Penfield, resolveu fazer experiências no cérebro de pessoas que ele precisava operar e verificou que, colocando eletrodos na  forma de estiletes muito finos, conforme a célula tocada, o paciente evocava vividamente  acontecimentos que estavam nela registrados, com a mesma intensidade do momento em que  haviam sido vividos. Não só lembrança mental como também a experiência emocional, nítida, sem confusão, sem mistura.

Ficou constatado, através de inúmeras experiências, que tudo fica registrado no  cérebro, no tecido nervoso e, de maneira inconsciente, passa a influir no comportamento  consciente, desde o momento em que cenas ou sensações semelhantes, congêneres,  provoquem a revivescência desses acontecimentos do passado e que estão registrados.

As experiências se gravam nos neurônios, de maneira espontânea, até os 5 anos de  idade. O que vem após os 5 anos já vai sendo distorcido pela influência dessas gravações  anteriores.Esses dados gravados vão se constituir nos elementos básicos de nossa natureza interna, e vão influir em decisões futuras do consciente, porque a mente subconsciente opera por associação de idéias, tal qual um computador, razão desta linha da psicologia chamar-se Psicocibernética. O computador, porém, está limitado a sua programação, mas as associações e deduções da mente são muito mais amplas, têm possibilidades infinitas.

Diante de qualquer estímulo, ou sugestão, o subconsciente começa remexendo o computador em busca de idéias congêneres e utiliza qualquer fragmento de conhecimento que ele tenha reunido até aquele momento, junta tudo e apresenta esses elementos para o consciente tomar suas decisões. Ele quer que o consciente alcance seu objetivo.

O ponto importante é o de que a mente inconsciente, ao receber uma idéia, seja ela boa ou má, simplesmente começa a dinamizá-la.

Aparentemente, é o consciente que comanda nossos atos, mas, na verdade, é o inconsciente que influencia nossas reações, as quais serão resultantes dos dados computados. O consciente precisa aprender a comandar, daí a responsabilidade de passarmos os dados pelo crivo da razão. Só assim o consciente se tornará senhor e não escravo de suas reações.

Se o subconsciente aceita as informações do consciente, podemos imaginar que peso negativo, que acúmulo de sugestões negativas formam a base do nosso inconsciente. Não só por pensamentos gerados por nós mesmos em virtude de nosso próprio mecanismo interior, como também pela insuflação de sugestões negativas tão comuns em nossa vida familiar e social: "Não faça isso!", "Cuidado que você cai", "Soldado te pega", "Está tudo perdido", "O mundo está cada vez pior", "Não se pode confiar em mais ninguém!" E isto, além dos jornais da TV que se especializam na exploração do sensacional negativo.

Se bem que todas essas sugestões sejam até certo ponto verdadeiras, elas se constituem em peso negativo pela repetição e pela unilateralidade. Só observamos o negativo, porque os atos e acontecimentos positivos, harmônicos, passam despercebidos.

Conhecendo esse esquema interno e que temos um mecanismo que trabalha para nós, podemos, de forma consciente, refazer os cartões de nosso computador.

Isso só é possível através do poder do pensamento.

Existem várias técnicas, entre elas, a do Treinamento Autógeno do Dr. Schultz, que é a técnica da auto-sugestão, e que vamos abordar no próximo capítulo.

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