2ª PARTE
"CAMINHOS PARA O AUTO EQUILÍBRIO"

 CAPÍTULO II
"AUTO-SUGESTÃO ou TREINAMENTO AUTÓGENO DE SCHULTZ"

Vimos as causas determinantes das distorções de nossa personalidade nesta vida presente. O conhecimento desse panorama geral ajuda o trabalho de reequilíbrio interno, mas vamos partir de como nos sentimos hoje, sem investigar o passado. Até à psicanálise, que era a única técnica existente, procurava-se rememorar o passado a fim de se libertar. Apesar desta técnica ser muito útil para determinados problemas, todavia, preferimos começar trabalhando os efeitos do passado no momento presente, analisando aquilo que somos hoje e partindo daí para uma transformação.

Nossa personalidade atual é constituída pelos fatores genéticos, pela constituição física, metabolismos, temperamento, tendências. Cada um é como é, porque, segundo a tradição oriental, geramos causas kármicas no passado. Essa realidade fundamental sofre entrechoques com o ambiente através de estímulos e experiências vivenciadas. Vão, então, se formando novas estruturas ligadas aos condicionamentos - muitas positivas, mas outras, negativas.

Karma - na Filosofia Oriental, expressa o conjunto das ações do homem, nesta vida ou em vidas anteriores, e que geram consequências que serão desencadeadas nesta vida ou em vidas futuras.

Relativamente aos fatores genéticos, até agora, não se podia mexer. Acontece, porém, que o "Projeto Genoma" está procedendo ao mapeamento dos genes humanos, no sentido de conseguir, através da engenharia genética, evitar a transmissão de doenças hereditárias. Como consequência destas pesquisas a ciência está, também, na tentativa de clonagem de órgãos humanos. Apesar de tudo isso, o homem não tem autocontrole sobre a sua própria genética.

Relativamente ao físico, apesar das plásticas que já efetuam até mudanças de altura etc., pouco se pode automodificar. Nos metabolismos podemos interferir um pouco se organizarmos o emocional. No temperamento e nas tendências podemos começar mexendo um pouco mais, de maneira muito consciente. Agora, nos condicionamentos, podemos mexer à vontade. São apêndices que estão se estruturando nesta vida e é com eles que vamos trabalhar nas técnicas de auto-equilíbrio. Se não forem trabalhados, poderão se incorporar à nossa estrutura fundamental.

O único recurso de que dispomos para provocar uma modificação interior é o do poder do pensamento.

Entre outros pensadores, o prof. José Henrique de Souza afirma: "O homem tem dentro de si o gerador de tristezas e alegrias". Abraham Lincoln: "A maioria das pessoas tem a felicidade que resolve ter em suas mentes".

Dizem os estudiosos do assunto que só utilizamos 10% de nosso potencial mental. O treinamento autógeno nos leva a ampliar essa porcentagem.

Já existem aparelhos para medir esse poder do pensamento. Sabemos que, para efetuar um movimento qualquer, é preciso que venha uma ordem do cérebro que caminha à velocidade de 4 km/minuto. São colocados eletrodos na superfície da pele junto aos músculos que vão participar da experiência, como por exemplo, junto a um grupo de músculos levantadores do braço. Esse aparelho amplia 4 milhões de vezes a energia que vem do cérebro para esses músculos. Pois bem, verifica-se, então, facilmente, que o simples fato de pensar em levantar o braço, sem contudo efetuar o menor esforço, provoca uma corrente no músculo correspondente e que é acusada pelo osciloscópio. Quer dizer que chegam estímulos, chamados subliminares e que não são percebidos pela consciência, mas que mostram que o pensamento já está afetando aqueles músculos.

O dia em que o homem se convencer de que o pensamento fará realmente toda a diferença desejada em sua vida e de fato passar a pensar positivamente, não permitindo o alojamento de pensamentos negativos, ele estará encontrando o caminho que, aliado à transformação da emoção, será capaz de levá-lo a sua libertação.

A técnica se fundamenta na Psicocibernética. O inconsciente aceita tudo quanto é colocado pelo consciente. Vamos utilizar o mesmo mecanismo que nos levou a formar hábitos indesejáveis e a colocar no computador cartões desequilibrantes. Utilizando esse mesmo mecanismo de condicionamento, vamos agora trocar esses cartões por outros equilibrantes.

 

1° Passo - Relaxamento.

Soltar toda a musculatura de uma maneira coordenada com a nossa respiração. Relaxamento progressivo, citando cada parte do corpo e observando se estamos de fato relaxando. Além do mais, é o melhor rejuvenescedor, muito melhor do que possamos crer. Antes de aprofundar-se no relaxamento, colocar que, mesmo em estado de relaxamento, se surgir uma situação de emergência, estará preparado para reagir normalmente.

 

2° Passo - Ver que estados interiores incomodam.

Procure perceber quais são as reações e sensações que mais o perturbam.

 

3º Passo - Formulação criativa.

Comecemos com a definição cientifica: "Uma sugestão é criativa quando formulada por uma frase, declaração ou série de palavras que expressem uma presença, condição ou estado de ser existente aqui e agora". Trago o futuro para o presente. Por exemplo:

Se vou pedir aumento: "Falo com o chefe sentindo-me calmo e seguro".

Se vou fazer prova: "Sinto-me perfeitamente calmo fazendo a prova".

Se quero emagrecer: "Fico satisfeita com pequena quantidade de alimento".

Se sou agressivo: "Resolvo as situações criteriosamente, calmamente".

Se quero largar de fumar: "Sinto-me perfeitamente bem na ausência do fumo".

Através da prática da técnica, essas afirmativas se tornarão verdadeiras.

É preciso atenção, porém, porque as sugestões podem ser "não criativas" quando forem dúbias, colocadas para realização no futuro, feitas com o verbo no condicional.

 

EXEMPLOS DE SUGESTÕES

CRIATIVAS

Sou bem sucedido

Tenho saúde perfeita

Gosto das pessoas

Tenho visão perfeita

Falo corretamente

Estou tranqüilo

Aprecio as pessoas

Ajudo os outros

As pessoas me apreciam

Sou necessário

Faço amigos facilmente

Estou motivado

Gozo de perfeita saúde

Sou tranqüilo

Tenho confiança em mim

Sou próspero

Crio meu próprio futuro

Sou decidido

Aprendo a cada dia que passa

Sou paciente

Progrido rapidamente, dia após dia

Sou feliz

Eu me recordo de tudo quanto é necessário

Sou amado

NÃO CRIATIVAS

Acho que vou....

Vou ser bem sucedido....

Serei...

Tentarei ....

 

Não esclarecem como, onde, quando, nem expressam convicção. Traz implícito que não sou agora; fica vago e o inconsciente não sabe quando deverá operar.

Acontece que as Criativas podem ser positivas como as da relação anterior e negativas como as da relação que se segue:

 

Nada acontece como a gente planeja

Nada de bom me acontece

Isto é bom demais para ser verdade

Não mereço tanta sorte

Isto me dá indigestão, ou me deixa doente

Não consigo

O mundo está contra mim

Tenho um azar tremendo

Não me lembro, minha memória é péssima

Estou cansado!

 

Ao fazer compras: Nunca consigo encontrar o que estou procurando!

É comum empregarmos falsa modéstia: Alguém diz: "Que comida gostosa!" A pessoa responde: "Gentileza sua. Não tenho jeito para cozinha". Alguém elogia a roupa e a pessoa comenta: "É, se não estivesse tão gorda!"

4° Passo - Imaginação criativa.

O poder da palavra é ampliado pelo sentimento de quem a pronuncia. Quanto mais imprimimos o teor do significado e imaginamos o estado de ser, maior o poder. Emerson afirmava: "A força de uma frase depende muito do apoio que lhe dê aquele que a usa".

As imagens mentais colocadas em nossa mente consciente devem ser as imagens do resultado final desejado, como fato já consumado. Assim como ocorre com a formulação criativa, a imaginação criativa deve ser usada para imaginar a condição ou estado que se deseja alcançar como já existente aqui e agora. Imagine o resultado com detalhes. Vivencie o fato.

 Tão forte é o poder da imaginação criativa que, se a pessoa se deitar e imaginar detalhadamente que está andando de bicicleta, sentirá todas as conseqüências do exercício, inclusive pernas doloridas. Hoje é um fato comprovado na medicina que, quando a pessoa exercita em sua imaginação, com detalhes nítidos, a química do seu corpo efetua alterações e ajustamentos quase idênticos aos causados pelo exercício físico real.

Em uma experiência controlada, o psicólogo R. A. Vandell demonstrou que o exercício mental de atirar flechas num alvo aperfeiçoa a pontaria tanto quanto se a pessoa atirasse realmente as flechas.

A revista Research Quarterly noticiou uma experiência sobre os efeitos do exercício mental de encestar no jogo de bola ao cesto. Três grupos de estudantes foram submetidos a um teste de vinte dias. O primeiro grupo fez treinamento da maneira usual, lançando a bola à cesta durante vinte minutos por dia. Anotaram-se os resultados do primeiro e do último dia. O segundo grupo foi examinado no primeiro e no último dia, sem que seus componentes fizessem qualquer exercício entre esses dias. O terceiro grupo passou vinte minutos por dia imaginando que lançava a bola à cesta. Quando "erravam", imaginavam que corrigiam a pontaria. O primeiro grupo, que fez exercícios reais apresentou melhora de 24 por cento no aproveitamento dos lançamentos. O segundo grupo, que não fez qualquer treino, não mostrou melhora. O terceiro grupo, que treinou apenas na imaginação, melhorou 23 por cento. Esta experiência é contada por Maxwell Maltz em seu livro Liberte sua Personalidade.

Imagine os detalhes; quanto mais nítidos, mais poderosa se torna a força da imaginação criativa e mais rapidamente se alcança o objetivo.

Entre casos verídicos da literatura médica está o de um rapaz que, durante anos, se queixava de ter um espinho na garganta. O médico finge que tira, e, para dar realidade ao ato, coloca pequena farpa na pinça. Acreditando na retirada do corpo estranho, o rapaz se liberta do mal estar na garganta.

O mecanismo da mente é a imaginação. Quando penso faço imagens. Tudo o que pensamos e dizemos são imagens em nossa mente antes da expressão verbal. O subconsciente não pode dizer a diferença entre uma experiência real e uma imaginada com detalhes nítidos e reage a ambas como se fossem verdadeiras. Einstein dizia: "A imaginação é mais importante que o conhecimento". A Psicocibernética fala muito na intuição e relaciona imaginação criativa com intuição. Júlio Verne (1.828-1.905) é um exemplo de imaginação criativa ligada à intuição.

Qualquer desejo sincero e verdadeiro pode converter-se em realidade. Se, por exemplo, o que nos preocupa é a falta de memória, imaginar-se como pessoa que tem ótima memória, que se lembra de tudo. Se tem problema de saúde, ver-se saudável, próspero. Se a pessoa é insegura, ver-se com segurança enfrentando justamente as situações que teme, mas de modo seguro, confiante.

 O poder da imaginação pode funcionar contra ou a favor. Existem pessoas que, por exemplo, estão sempre imaginando que vai haver um desastre. Quando acontece, dizem: "Eu sabia!" Conjeturamos muito sobre acontecimentos futuros que tememos e isso vai somando uma força negativa dentro de nós. Por exemplo, alguém que vai tocar piano em publico, ou alguém que vai dar uma aula inaugural. Teme o fracasso ao invés de confiar no sucesso.

5º Passo - Convicção.

 Acreditar na nova forma de ser. Se a pessoa duvida, a mente se divide. Digamos que ela queira neutralizar insegurança:

 

     Tenho de renunciar ao medo. É um mecanismo tão poderoso que cria o que receamos.

Quero chamar a atenção para o fato de que este é exatamente o mecanismo da cessação do sofrimento, pois o sofrimento nada mais é do que o cultivo de pensamentos que nos provocam emoções desagradáveis. Se conseguíssemos transformar esses pensamentos, veríamos, surpresos, que também cessaria o sofrimento. O aforismo "somos o que pensamos", é profundamente verdadeiro. Os maiores sofredores, as pessoas lamuriosas, deprimidas, que tanto conhecemos no círculo de nossas relações, são sempre aquelas que se apegam aos fatos tristes do passado e os alimentam com a renovação constante das imagens que esses fatos provocam em sua mente. Se resolvessem transformar seus pensamentos, substituindo o teor das imagens, logo melhorariam seu estado de espírito. É importante notar que até para largar de um sofrimento é preciso força de vontade gigantesca.

6° Passo - Repetição.

Repetição tranquila da sugestão. Poderá ser 20, 30 e até 40 vezes.

7° Passo - Trabalhar os efeitos.

Para aquisição do equilíbrio, trabalhar os efeitos, ou seja, o que me perturba hoje e não me preocupar com as causas. A reflexão não deve ser centrada na emoção negativa, ou seja, no estado desequilibrado, mas no estado positivo. Por exemplo, se quero trabalhar tristeza, ou raiva, não fico perguntando por que me sinto de tal maneira, mas coloco o oposto - alegria ou calma e compreensão. Tenho de romper o processo negativo. Preciso renunciar à sensação de mal estar, preciso desejar mudar. Para esta libertação do negativo, um recurso muito eficiente é o da Neurolinguística.

Se remôo os motivos que me levaram a ficar triste ou a ficar com raiva, reúno no computador tudo quanto é congênere, todas as vibrações afins e me afundo cada vez mais. Por isso é que é difícil sair do estado negativo, porque a pessoa quer encontrar a solução dentro do problema, dentro da dor.

Quando não conseguir sobrepujar na imaginação, por exemplo, o medo de falar em público, que fica pairando no fundo da mente, fazer sugestão geral, desvinculada do objetivo: "Sinto-me calmo, tranqüilo, seguro e feliz".

8.° Passo - Espírito esportivo.

Não venço pela argumentação lógica e vontade frontal. Devo executar um trabalho suave que leve a cansar o erro, o desagradável, pela substituição do certo. Coué, Emile (1.857-1.926), farmacêutico e psicoterapeuta Francês, autor de um método de cura por auto-sugestão, antes da Cibernética ter explicado o mecanismo de nosso computador interno, já falava no "esforço convertido". Dizia que a mudança não pode ser a ferro e fogo. Não conhecia a razão, que é o agrupamento das idéias afins, mas viu claramente que a atitude frontal aumentava o estado negativo ao invés de abrandá-lo. É um trabalho disfarçado, mas firme. Dentro das especificações acima mencionadas, dá-se a ordem e o inconsciente sabe o que fazer para alcançar o objetivo. Medos, manias, vícios, fobias, insônia, enxaqueca, tudo vai se invertendo.

9 º Passo - Princípio ético teosófico.

Paralelamente à inversão dos cartões, deve haver análise daquilo que se quer alcançar. Ver se os objetivos que temos por meta estão de acordo com a Justiça. Existe o perigo de se fazer sugestão para acalmar a consciência após haver praticado um erro. Por exemplo: fiz algo em desacordo com meu grau de consciência, digamos, uma intriga, e quero me sentir bem e tranqüilo.

 

Considerações:

Não imponha limite de tempo para consecução de um objetivo. Se não conseguir no prazo terá sensação de fracasso. O inconsciente busca os objetivos sem idéia de tempo e, também, se continuo mantendo o prazo, estou automaticamente adiando a solução do problema.

Não espere resultados imediatos. Confie no inconsciente que está disponível e ansioso para trabalhar e que, seguramente, nos encaminhará para o objetivo desejado.

Nunca se culpe pelas falhas que detecta em si. A gente não é mau porque erra. Errar é humano.

O estado de felicidade não é encontrado por acaso, mas pode ser criado através do poder do pensamento positivo. Existe um ditado Japonês que diz: "Quando o rosto sorri, nasce o sol no coração".

Para burilar a personalidade, pesquisar os objetivos que queremos alcançar nas várias áreas - social, familiar, física, mental, afetiva, espiritual e até financeira. Formular a sugestão conforme a necessidade, atingindo aquilo que queremos modificar.

Não queira fazer grande número de modificações ao mesmo tempo. Se o problema for complexo, fragmente.

 

Observação: - Veja Cronologia histórica do caminhar da Hipnose até culminar na Auto-hipnose ou Auto-sugestão.

 

  Anterior                                              Próximo