3ª PARTE
"MEDITAÇÃO" 

CAPÍTULO II
"COMPONENTES MENTAIS"

Para trabalhar o mental, é preciso conhecer os componentes mentais, as leis que regem o pensamento e as funções da inteligência.

Vamos começar pelos componentes que são: atenção, observação, concentração e memória. São elementos conhecidíssimos. A novidade é perceber o quanto não foram treinados para que se desenvolvessem. Quanto mais a civilização foi se organizando em agrupamentos mais distanciados da vida natural, mais destreinados foram ficando esses fatores.

1. Atenção

- É a capacidade de selecionar um estímulo no meio de muitos outros.

A atenção exige três condições:

a) Precisa de um estímulo sensorial;

b) Esse estímulo precisa ter uma condição de novidade. Estímulos que se repetem com freqüência tendem a anular a intensidade da resposta. Objetos que permanecem por muito tempo na mesma posição não estimulam mais a atenção. Por exemplo, um quadro em determinado lugar da parede, depois de certo tempo, não é mais percebido. Se for mudado de lugar, ou retirado, a atenção acusa. É como a história do menino pastor que vivia gritando, de brincadeira, que um lobo o estava atacando e ninguém mais passou a ouvi-lo até que, um dia, o lobo apareceu de verdade e ninguém reagiu para ajudá-lo. A novidade é necessária não só no campo mental, mas no emocional também. Não deixar a monotonia invadir a sua vida diária, seus relacionamentos. Empregar a criatividade para romper as rotinas.

c) Motivação. É preciso que haja uma gratificação emocional. O objeto da atenção precisa satisfazer, de alguma maneira, necessidades emocionais do indivíduo. É por causa disso que o homem fica atento, sem esforço, quando há lances emocionais; esta é a razão da fofoca ter tanto prestígio, ser tão gratificante; é por isso que a novela é tão popular e o futebol é tão envolvente. Todavia, diante de assuntos que exigem atividade mental, é comum a pessoa sentir sonolência, não conseguir manter a atenção fixa, dispersar-se, distrair-se e até dormir. Quando o homem toma conhecimento da necessidade desses estímulos para o despertamento de sua atenção, ele acaba concluindo que, para tirar o maior proveito possível desse componente mental, ele precisa passar a dirigir sua atenção através da Vontade, de forma consciente, mesmo que não haja estímulos externos. Procurar ler com atenção e de maneira concentrada, formando imagens mentais do texto. Visualizar a mensagem escrita. Estar atento aos acontecimentos que o cercam.

Quando estiver ouvindo um orador, por exemplo, acompanhar as idéias mesmo que o assunto seja monótono, mesmo que o orador diga coisas absurdas. A mente precisa ter capacidade de acompanhar e ir executando uma análise crítica.

Treino:

 - Em meio ao burburinho da cidade procurar ouvir o canto de um pássaro, identificar um barulho entre outros.

 - Colocar uma série de objetos ou pedir que os coloquem em um local qualquer, coberto por um pano. Levantar a coberta, olhar por um minuto e ser capaz de descrever a seqüência e o aspecto físico de cada objeto.

 - Descrever gravuras.

 - Estar no aqui e agora. O ser humano tem dificuldade de se colocar no presente. Parece que há um estado generalizado de insatisfação e ansiedade que busca o momento posterior, ou também se fixa em algum anterior. Parece que há uma pressa de acabar a atividade atual para se chegar à próxima. A fim de trazer-se para o momento atual, praticar o exercício das tensões: verificar quais as tensões que estamos mantendo em nosso corpo. Verificar que sensações estão dominando nossa psique; detectá-las e deixá-las se diluírem, juntamente com um relaxamento da coluna vertebral.

2. Observação

- Depende da capacidade de atenção. São etapas conjugadas. É, na verdade, um prolongamento da atenção. É o processo que se segue ao despertamento da atenção. É a capacidade de ver detalhes das coisas, como que transformando a percepção em uma máquina fotográfica.

Treino:

- Procurar descrever detalhes dos lugares onde esteve.

- Procurar descrever o aspecto físico das pessoas que conheceu, as roupas que usavam etc.

3. Concentração

 - Capacidade de permanecer dentro de um mesmo processo mental sem se desviar. Só nos concentramos quando criamos imagens, quando sentimos as idéias e, portanto, quando participamos do processo. Não podemos desvincular estes três passos. Na Yoga de Patanjali é o sexto passo, Dhyana, quando há participação daquele que medita no objeto de sua meditação. No processo mental completo há muita aplicação da emoção, ou seja, do corpo emocional, tal como na culminância da Yoga que é o Samadhi, quando aquele que medita se integra no objeto de sua meditação. Se observarmos, o contexto treina a desconcentração. A TV e o Rádio, com avalanches de informações sem aprofundamento, são exemplos.

Treino:

- Ler visualizando. Acompanhar as idéias com imagens.

- Pegar livros difíceis, como ciência, filosofia, história e resumir cada parágrafo.

- Praticar Yoga.

- Procurar elaborar mentalmente uma figura.

- Preparar uma aula e, se possível, dar essa aula.

- Pegar um pedaço de cartolina branca, cortar um círculo de 1 centímetro de diâmetro aproximadamente, colocar esse círculo de cartolina à distância de uns 30 centímetros dos olhos, sobre a mesa em frente da qual se está sentado, dirigir a vista sobre esse círculo e lançar toda a força da consciência sobre o mesmo, abstraindo-se completamente de qualquer outro objeto ou pensamento; todos os sentidos deverão estar voltados para esse pequeno disco.

Observação: Convém registrar um fato curioso em relação a estes componentes.

Existe um tipo de pessoas dispersivas, cuja capacidade de atenção não chega a passar para a observação e, ainda muito menos, para a concentração. Elas vêem tudo, acompanham tudo, são capazes de repetir tudo, mas não prosseguem no processo mental.

Se tivéssemos sido treinados teríamos hoje bom nível de funcionamento mental. Mas não fomos. A vida atual é muito cheia de facilidades e a educação tradicional apresenta os conceitos mastigados, ignorando os processos. Uma das grandes preocupações das chamadas escolas ativas, renovadas, é justamente a de treinar os componentes mentais. Os pedagogos mais modernos, como Montessori, Decroly, Dienes, Piaget, oferecem imenso treino. É ensino pela vivência, pela descoberta do conhecimento. Só depois são elaboradas tabelas tais como a da tabuada, a do quadrado e do cubo dos números etc.

4. Memória

- É culminância do processo. Se não tenho minha atenção despertada, se não observo para fixar os detalhes, se não me concentro numa seqüência até obter todos os dados, não consigo guardar na memória. Normalmente, nós nos esquecemos daquilo que ouvimos com displicência, sem participação e também de coisas que não interessam ou desagradam e que procuramos soterrar no inconsciente. Todavia, acontece, às vezes, que a pessoa quer prestar atenção, até se interessa, mas não consegue memorizar pela falta de treino. Ao longo da vida começamos a achar que a memória está piorando, ficando falha. Acontece que a memória humana é perfeita. Registra tudo o que viu, ouviu, falou, leu, desde o nascimento e jamais perde o vigor a menos que haja problema físico ou orgânico. As impressões ficam estocadas no banco da memória. Nunca se apagam. A gravação é comprovadamente fotográfica. Uma pessoa, sob hipnose, levaria horas só para relatar detalhes de uma pequena viagem entre a casa e o escritório. Já foram feitas experiências com pessoas que entraram num escritório, apenas abrindo a porta, olhando e saindo; sob hipnose, descreveram tudo, inclusive dizendo tamanho, cor, formato das coisas. O subconsciente registra independentemente de se ter tomado consciência. No entanto, temos um grande acúmulo de frustrações por esquecimento - nomes, endereços, matéria de exame, onde deixamos determinado objeto etc. Não conseguimos evocar porque não empregamos os fatores mentais convenientemente. O não passar pelas etapas, dificulta a evocação. Uma prova de nossa falta de atenção e concentração é o fato, por exemplo, de olharmos várias vezes o número de um telefone novo que vamos discar, ou olhar várias vezes para o relógio a fim de constatar que horas são. Abrimos todos os dias, por várias vezes, o armarinho do banheiro. Será que seriamos capazes de descrever com detalhes?

Acontece que, por não agirmos de forma consciente, empregando atenção, observação, concentração, que exigem certo esforço, jogamos toda a culpa para a memória e vamos cada vez mais condicionando nosso mecanismo de memória para não reagir, emitindo, inclusive, sugestões criativas negativas: esqueci; não posso me lembrar; nunca consigo lembrar nomes; se você não se lembrar, eu esqueço; vou amarrar barbante no dedo etc. A pessoa pode se organizar por organização, não por desconfiar da memória. A idéia vigente de que a memória declina com a idade ajuda a criar insegurança, que é transmitida para o subconsciente. Quando a pessoa mais velha começa esquecendo, justamente porque treinou por mais tempo de forma errada, portanto, a falta de memória está mais bem treinada, a pessoa começa alimentando grandes angústias: estou no fim, esclerose etc. Acontece que quando mais jovens também se esqueciam mas não se preocupavam. Conheço pessoas que passaram a ter muito melhor memória quando mais velhas do que quando jovens, porque aprenderam como lidar com ela.

Treino:

- Nunca emitir sugestão criativa negativa e tão somente as positivas. Pensar: eu sempre sei; simplesmente me lembro quando é preciso; eu me recordo de tudo o que é necessário; tenho memória perfeita e todas as informações estão a minha disposição no momento em que eu precisar.

- Manter aberta a linha de comunicação com a memória, através de uma tranqüilidade mental. Para lembrar do nome de pessoas apresentadas, repetir o nome e associar com a pessoa, atentamente.

A memória não está propriamente no cérebro como se pensa, apesar das experiências feitas em 1.951 pelo Dr. Penfield haverem comprovado que, ao tocar determinados pontos com eletrodos bem delgados, afloram memórias nítidas de acontecimentos do passado. Isso acontece porque o cérebro é instrumento de ligação e tem realmente um papel no processo, mas a memória mesmo de todas as coisas está naquela parte que vai se formando dentro de nós - no subconsciente. Segundo a Teosofia, os registros se fazem no corpo emocional e mental. Conforme vimos no esquema da Psicocibernética, a memória está no subconsciente. Temos, então, dois aspectos a considerar:

1. Como colocar o conhecimento no subconsciente;

2. Como ir buscar dentro do subconsciente o conhecimento registrado.

1. Para colocar o conhecimento de forma a que esteja à disposição para ser evocado, é preciso que o mesmo se processe de forma consciente - o conhecimento precisa ser incorporado. Conscientizo o conhecimento ou as percepções de qualquer natureza, seguindo exatamente o processo analisado, ou seja, através da vivência da coisa que se quer guardar na memória. Mesmo que seja em uma atividade mental, puramente teórica, ver, sentir, imaginar. É por esta razão que material decorado é difícil de ser evocado. Não fica incorporado.

Se compararmos essa evolução do processo mental com o da Yoga veremos que há uma grande relação entre os passos.

2. Para ir buscar o que está gravado, preciso criar condições para que haja comunicação entre o consciente e o subconsciente. Preciso serenar a matéria mental que a Yoga chama de Writtis. O desejo de memorizar, bem como o desejo de trazer algo ao consciente não pode ser feito com esforço, com obsessão. O esforço bloqueia a mente, movimenta a matéria mental. Podem reparar que, quando se esquece de algo, como de um nome qualquer, quanto mais insistimos, mais o nome se afasta. Ele estava prestes a sair, o esforço faz com que se distancie. Isto acontece porque, no esforço, revolvemos os Writtis e eles bloqueiam a passagem da idéia. Se não nos preocuparmos e dissermos: "Daqui a pouco me lembro" e continuarmos falando, de repente, surge a palavra.

Em tudo é preciso encontrar aquele ponto do meio. Uma atitude entre o esforço e a disposição para lembrar. É um estado intermediário entre solicitação mental e passividade para receber a informação. Quando desejei lembrar já mandei a mensagem. Se não bloqueio, agitando os Writtis, ela volta com a resposta. Enquanto aguardo a resposta, confiar e mandar sugestões criativas positivas - eu sei; tudo está gravado; daqui a pouco vem. Só esse procedimento fortalece a memória.

Para melhorar a memória e a capacidade mental que depende dela precisamos, resumindo:

- Treinar os fatores mentais - estar mais alertas, mais vivos, mais conscientes da situação presente;

- Nunca emitir sugestões criativas negativas. Atitude esportiva.

- Manter a linha de comunicação entre consciente e subconsciente.

- Observar as leis formais do raciocínio e as funções da inteligência, pontos que vamos abordar no próximo capitulo.

Observação: O desenvolvimento dos fatores mentais não depende do grau cultural. Pode-se treinar em qualquer nível.

 

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