1ª PARTE
"
ESTRUTURAÇÃO DA PERSONALIDADE"

CAPÍTULO II
 "MECANISMO DOS CONDICIONAMENTOS"

"Ser aquilo que somos e vir a ser um dia o que somos capazes de ser, eis o verdadeiro objetivo da vida". Robert Louis Stevenson.

Nosso ajustamento ao meio ambiente se faz através do sistema nervoso, que tem seus mecanismos de ação e reação. Por esse motivo, a fim de compreender a estruturação de nossa personalidade, torna-se necessário ter uma noção de seu papel dentro de nosso organismo.

I - Quanto a sua função, o sistema nervoso se divide em:

1. Sistema nervoso da vida de relação que, como está implícito no nome, é aquele que tem contato com o mundo. As terminações desse sistema estão na periferia do nosso corpo e ligadas aos nossos sentidos, que funcionam como verdadeiros radares captando as sensações e conduzindo os impulsos nervosos até o cérebro. Este sistema se especializou em registrar estímulos externos e é controlável pela vontade.

2. Sistema nervoso da vida vegetativa, ou autônomo. Controla o funcionamento dos órgãos internos, regulando digestão, circulação, respiração, liberação dos hormônios etc. Divide-se em: simpático e parassimpático que têm funções inibidoras ou estimulantes específicas, conforme a região em que estejam atuando e conforme o hormônio que esteja sendo liberado.

II - Quanto ao funcionamento, de uma forma sumária, é o seguinte:

Quando há uma excitação qualquer, os nervos da periferia do corpo captam essa sensação através das fibras sensitivas e as levam até a medula, na coluna vertebral, onde penetram e prosseguem em demanda do cérebro até chegarem ao córtex, constituído pela massa cinzenta. Somente quando a excitação chega aqui no córtex é que a pessoa tem a capacidade de traduzir o impulso nervoso. Só então tem consciência do que aconteceu e registra a ocorrência. Somente nesse momento o indivíduo sente a dor, o perfume, o paladar, ouve o som, vê a imagem. O cérebro traduz as mensagens e devolve uma resposta de caráter motor ou glandular, expelindo as várias secreções.

Mas todo o mundo conhece o fenômeno de reações instantâneas ante determinadas agressões. Se encostarmos a mão em um objeto quente, muito antes de termos consciência do que está acontecendo, já teremos dado um puxão no braço para pôr a mão a salvo. Quer dizer que, muito antes de qualquer sensação dolorosa, a pessoa já se defendeu. O que aconteceu foi que células da região subcortical, ou da própria medula, já registraram a excitação e já transferiram a resposta para os feixes motores que comandaram a reação defensiva. É interessante notar a alta velocidade dessa reação. É que as mensagens caminham nos nervos com a velocidade de 250 km por hora, ou 4 km por minuto. Já houve um tempo em que o referencial para se medir velocidade era a velocidade do pensamento. Depois, Einstein a desbancou com a velocidade da luz.

Pois bem, a esta ida da mensagem até o sistema nervoso central, sem a passagem pelo córtex cerebral e a volta da resposta motora ou secretora, dá-se o nome de arco reflexo.

Esses reflexos, essas reações nas quais o cérebro não intervém, que são automáticos, podem ser divididos em:

1. Incondicionados;

2. Condicionados.

 

1. Os incondicionados são aqueles arcos reflexos cuja finalidade é a de adaptar o organismo ao ambiente, visando a proteção da espécie ou do indivíduo. Estes reflexos incondicionados são inatos, não exigem treino. O ser nasce sabendo fazer - mamar, tossir, chorar etc. São o resultado de experiências milenares e se tornaram inconscientes. Os reflexos incondicionados são, normalmente, conhecidos como instintos, sendo que seis deles são mais considerados pela psicologia:

a) Sexualidade, que visa a perpetuação da espécie;

b) Defesa, de onde provém a agressividade e que também rege aquele puxão salvador da mão:

c) Alimentação - desde o mamar, deglutir, digerir etc.;

d) Investigação - espírito de curiosidade;

e) Orientação - capacidade de guardar referenciais;

f) Libertação.

2. Agora, vejamos o seguinte: se o ambiente fosse estável, estes reflexos incondicionados com os quais o homem nasce, seriam perfeitamente suficientes para mantê-lo em equilíbrio, mas acontece que o ambiente muda a cada momento. A cada instante somos agredidos física e psicologicamente. Por essa razão, o organismo precisa ir completando suas defesas através dos reflexos condicionados que exigem a atividade do córtex cerebral, ou seja, uma elaboração mental.

Os reflexos condicionados exigem um treino, uma repetição e estão sempre ligados a uma exigência da vida, profissional, social etc., ou a um impulso emocional. O homem busca sempre repetir os atos que produzem prazer e evitar os que produzem sensação desagradável. Segundo uma teoria, a necessidade de repetição para a instalação de um reflexo condicionado é porque, quando uma célula nervosa está acostumada a conduzir impulsos numa dada direção, formam-se nesse sentido fibras especiais e sulcos no sistema nervoso. Qualquer treino, como o de guiar, o de aprender um instrumento, não é algo teórico, mas sim um processo anatômico, em virtude da formação de fileiras de fibras que saem das células. A velocidade com que se aprende uma nova técnica depende da capacidade de tais fibras brotarem e dos sulcos se instalarem, bem como das ligações que se estabeleçam entre eles. Isto explica o fato de se aprender melhor antes que as células se tornem adultas.

Quem primeiro estudou este fenômeno do reflexo condicionado foi o cientista Russo, Pavlov (1.849-1.936), através de experiências feitas com cães. Ele colocava o cão em um compartimento à parte para evitar que dispersasse a atenção e, ao mesmo tempo em que apresentava um pedaço de carne, fazia soar uma campainha. O cão, à vista da carne, salivava. Após algum tempo de experimentação, bastava que tocasse a campainha, sem apresentar a carne, e o cão já salivava. A este fenômeno, Pavlov deu o nome de condicionamento.

O homem está sujeito ao mesmo processo. Ao reagir perante estímulos e agressões do meio ambiente, contando com seus instintos, com sua natureza fundamental, vai formando seus condicionamentos, ou seja, seus novos hábitos e também seus vícios. O resultado final desse intercâmbio entre estrutura interna e excitação do meio, depende das características de cada ser humano, por isso, os reflexos condicionados, ou hábitos, são diferentes para cada um, apesar das influências do meio serem aparentemente iguais ou semelhantes.

Os hábitos, portanto, são o resultado de um aprendizado. O sistema nervoso vai se especializando através do treino. É isso que a tecnologia explora com a especialização de serviço.

Os reflexos condicionados, praticados por muito tempo, vão se incorporando à estrutura inconsciente, dando toda essa constituição complexa que é o ser fundamental de cada um - qualidades que ajudam o homem a crescer e qualidades que impedem o homem de evoluir.

Vamos agora assinalar um ponto chave do funcionamento interno. Neste caso do cão se condicionar à campainha na presença da carne, o condicionamento é positivo. Positivo não em relação à ética, não em relação ao conceito de certo e errado, mas em relação à emoção. A campainha representava algo que dava prazer, porque lembrava a carne. Acontece que o condicionamento pode ser negativo em relação à emoção. Por exemplo, se, ao invés de tocar a campainha ao apresentar a carne, o cão tivesse sido espetado com um estilete que provocasse dor, cada vez mais e mais ele iria temendo a carne, a ponto de recusá-la e chegar ao extremo de morrer de inanição.

Quer dizer que uma frustração pode ser tão grande que chegue a suplantar, até mesmo, o impulso instintivo para a repetição de uma determinada ação.

Pois bem, no processo destes dois tipos de condicionamento, o positivo em relação ao emocional e o negativo em relação ao emocional, está o mecanismo que produz o sofrimento humano. O condicionamento positivo em relação ao emocional é que está na base da elaboração dos vícios. O condicionamento negativo em relação à emoção, consequentes a estímulos que provocam desprazer, que provocam frustrações, está na base da elaboração dos chamados complexos, que tanto perturbam a nossa vida psíquica. A palavra frustração vem do Latim e significa fragmentação da personalidade.

Muitas vezes temos reações psicológicas inexplicáveis - medo, insegurança, angústia, fobias por determinadas coisas. É que, em determinada época de nossa vida, sofremos um condicionamento negativo em circunstâncias relacionadas com aquelas que nos perturbam no momento presente.

Acontece que o homem está profundamente condicionado, porque, quer queiramos, quer não queiramos, o mecanismo de estruturação da personalidade é o do condicionamento.

Confirmam esta afirmativa:

Paul Fraisse - "O homem é construído de tal modo que, na origem é dotado de reações simples e de reflexos, mas, praticamente, seu comportamento é fruto do aprendizado".

Piaget - "A criança não herda capacidades mentais prontas. Herda a capacidade de reagir e adaptar-se, portanto, precisa da experiência".

Naturalmente, e felizmente, existem também condicionamentos favoráveis, tais como guiar carro, tocar piano, escrever à máquina etc.

Todavia, uma alta porcentagem de reflexos condicionados são prejudiciais. Eles se formaram inconscientemente, ante as pressões do meio ambiente, particularmente as sofridas na infância, quando o ser em formação não tinha capacidade de armar-se para uma defesa. Por exemplo, se tivermos possuído pais muito cuidadosos, muito preocupados com nosso bem estar, e que estivessem a cada passo dizendo - não faça que é perigoso e sofrêssemos exortações severas a cada pequeno desastre, poderíamos desenvolver a idéia de que toda a iniciativa resulta em um fracasso, em um perigo. Isto poderia acabar por nos condicionar para a insegurança pessoal. Trazemos altíssima porcentagem de frustrações da infância.

Para a volta ao equilíbrio, é preciso o chamado descondicionamento. Perder um vício, perder um complexo qualquer, exige uma dose de esforço, determinação e, até certo ponto, sofrimento, enquanto não se consegue a estabilização.

momentos em que a "força de vontade" é necessária para romper determinadas rotinas. Inclusive, segundo Roberto Assagioli, formulador da Psicossíntese, a Vontade é o ponto focal para o governo interno. Contudo, hoje, para a transformação das emoções, para a neutralização de certos conflitos, temos o recurso da Neurolinguística. O processo, segundo a Neurolinguística, exige, sim, uma "Vontade de querer", uma disposição para tomar a decisão, mas, depois de tomada a decisão, o trabalho de transformação está altamente facilitado, uma vez que a Neurolinguística nos apresenta formas muito eficazes de se obter o que se busca em termos de modificação interna.

A ciência mostra que o descondicionamento é possível. Na experiência do cão, após um tempo em que o cão passa a ouvir a campainha sem a apresentação da carne, a salivação vai diminuindo até extinguir-se. Qualquer um de nossos condicionamentos pode ser diluído e extinto através do descondicionamento. Até mesmo os vícios arraigados. Existe nos Estados Unidos, na Flórida, uma unidade de tratamento que se chama Coral Gables, cuja finalidade é descondicionar o vício da bebida. Quando o cliente entra, recebe um quarto como se fosse hotel de cinco estrelas. Num cantinho da sala está um bar onde pode beber a bebida preferida. Satisfeito, ele aperta o botão e o copo se enche e ele se delicia. Para um segundo trago, porém, ele precisa apertar duas vezes e, assim, sucessivamente, até que se tornam necessárias cem, duzentas, quinhentas pressões para obter um cálice da bebida. Com o passar do tempo, a irritação de apertar o botão tantas vezes é maior do que o desejo de beber e ele vai se descondicionando.

É preciso notar, porém, que muitos dos condicionamentos negativos se deram por força do processo evolutivo, uma vez que partimos de reações predominantemente emocionais. A reação normal é a busca do prazer porque este nos traz a sensação ilusória de bem estar. Acontece, porém, que quando nossas escolhas estão em desacordo com o processo evolutivo, resultam em sofrimento. O sofrimento é uma linguagem universal que procura nos mostrar o caminho a ser seguido. Esforçando-se para sair do estado de sofrimento, automaticamente, inconscientemente, o homem começa analisando as situações até encontrar o caminho do equilíbrio, o caminho do meio, porque só ele provoca bem estar mais permanente. Evolução implica justamente em sobrepor o mental, tornando-nos cada vez mais imparciais para ajuizar sobre os acontecimentos que nos cercam, empregando a Razão, o discernimento. Por consequência, todas as técnicas de auto-reformulação exigem o poder do pensamento e o poder da vontade, para que possamos agir de acordo com o que concluirmos como justo para o momento que estejamos vivendo.

Existem hoje, dentro da psicologia, técnicas infalíveis para o descondicionamento.

Como os condicionamentos se instalaram por experiências do passado, por traumas psicológicos, existem técnicas que procuram levar o indivíduo a ter consciência do fato que o perturbou no passado, levando-o, pela regressão, de volta aos acontecimentos frustradores. Em casos muito graves e muito específicos, esta técnica pode ser até necessária, mas o mais aconselhável é deixar o passado sossegadinho lá longe e utilizar técnicas que nos levem do presente para o futuro, apesar do passado que trazemos.

Prefiro as técnicas que visam a inversão consciente de nossas reações perturbadoras, ou seja, de nossos condicionamentos desequilibrantes.

Antes de apresentar essas técnicas de auto-organização, vamos ver o quanto nos agredimos com essa nossa estrutura interna desequilibrada.

Nos adendos, no final do livro, você encontrará o capítulo "Estruturação da Personalidade segundo a Análise Transacional". Esta é uma técnica psicológica, cujo conteúdo é muito importante para o autoconhecimento.

 

Psicossíntese

 - Roberto Assagioli, médico Italiano, diplomado em 1.910, saindo da Psicanálise, procura fazer uma junção entre as psicologias experimentais, as existencialistas, as humanistas e as transpessoais, dando surgimento à Psicossíntese. Ela considera o homem como um ser saudável no seu aspecto fundamental, mas que pode sofrer alterações eventuais, sendo que a função do organismo e, continuamente, restabelecer o equilíbrio.

Assagioli afirma que são os instintos, as tendências, os impulsos e as aspirações que impulsionam o homem a agir no seu contato com o mundo e que somente a "Vontade" pode dar um direcionamento ao comportamento humano. Analisa profundamente as várias fases da "Vontade" e preconiza inúmeros treinos para seu fortalecimento, de maneira a que o indivíduo se torne capaz de decisões corretas.

A "Vontade", porém, não pode ser exercida de forma compulsiva e cega. Nas palavras de Assagioli: "Traçou-se uma distinção entre o estágio de deliberação e o de motivação. Este último estágio foi denominado a "direção de execução" para enfatizar o fato de que a vontade não produz resultados por meio da força pura e simples - como sustentava a concepção "vitoriana" de vontade - mas através de regulação e harmonização das outras funções psicológicas, que ela "orienta" para a meta escolhida".

A Psicossíntese torna o homem responsável por seus atos.

Defende a introspecção e um trabalho que promova o ajuste da personalidade em todos os níveis - biofísico, emocional, intelectual, volitivo - estabelecendo comunicação com o que ele chama de "centro supraconsciente", ou seja, com o espírito, onde se situa toda a sabedoria humana.    Volta

Neurolinguística

A Neurolinguística teve sua origem através da criatividade de dois grandes vultos do pensamento atual - John Grinder e Richard Bandler. O primeiro é linguista e, o segundo matemático.

Neuro, refere-se ao cérebro e linguística, refere-se à linguagem. Essa técnica é conhecida como Programação Neurolinguística, porque envolve um plano de ação para se conseguir os objetivos propostos. Estuda como a linguagem, tanto a verbal quanto a não-verbal, provoca estímulos em nosso sistema nervoso, produzindo estados interiores que tanto podem ser positivos e construtivos, ou negativos e deprimentes.

Várias técnicas, todas envolvendo a linguagem, nos ensinam como dirigir nossos próprios estados e comportamentos de maneira a caminharmos em direção aos resultados que desejamos alcançar.

São apresentadas fórmulas valiosas para um intercâmbio harmonioso de idéias, a fim de que se obtenha sucesso na intercomunicação com nossos semelhantes.

Para a vitória, também são trabalhados postura, respiração, tensão e relaxamento, aspectos que têm influência direta sobre nossa vida psíquica.

São ressaltadas as seguintes características fundamentais de caráter, como sendo necessárias para a obtenção do sucesso:

1. Intensa motivação ao se executar uma atividade;

2. Acreditar em si e acreditar que vai conseguir alcançar aquilo a que se propõe;

3. Estabelecer sua meta com clareza;

4. Descobrir os caminhos que conduzirão à vitória;

5. Manter, durante o processo, sem esmorecimento, as energias física, motivacional, intelectual e espiritual;

6. Cultivar o pensamento positivo.

Estes são apenas alguns dados sobre a versatilíssima técnica da Neurolinguística. Vale a pena investigar mais sobre o assunto.   

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